Um homem sentando na areia em volta de algumas pedras e com uma cumbuca na cabeça foi a imagem escolhida para ilustrar a capa do novo álbum de Marcelo Jeneci, Guaia. A escolha é um forte símbolo das origens do compositor e combina perfeitamente com o tom do novo trabalho, perpassado de lirismo. Com Mana Bernardes assinando a capa do CD, produção por Pedro Bernardes, além de Jeneci e Lux Ferreira como os coprodutores, o disco marca a volta do cantor, após seis anos sem lançar álbuns.
Com De Graça (2013), último lançamento antes de Guaia, o músico foi indicado ao Grammy Latino na categoria Melhor Álbum de Música Popular Brasileira e emplacou sucessos com os hits Nada a ver, Julieta, O melhor da vida e Um de nós. Agora, com Guaia, ele volta com o assunto do qual fala com mais propriedade: a própria vida. Transmite, pela música, as vivências divididas entre São Paulo e Pernambuco, além da necessidade de prestar atenção ao redor e à Terra. ;Trago na alquimia desse álbum a rua onde cresci, o agreste de Pernambuco e a grande metrópole, que se fundiram em mim;, conta Marcelo Jeneci.
Em Guaia, o artista segue explorando a multiplicidade de instrumentos e reverbera o lado músico do cantor e compositor. Em meio ao piano, à sanfona, e ao violão, ele explora os instrumentos para enfatizar as emoções do outro lado da linha, o ouvinte. ;Eu sinto que a busca pela canção que, para muitos, se resume a melodia e letra, para mim, ela vai tridimensionalmente para todos os elementos que compõem o fonograma. Essa multiplicidade sonora é bem escolhida para ampliar alguns elementos que a letra já traz;, pontua o cantor e compositor.
Experiência
As participações ficaram restritas a uma única voz, a de Maya. Com apenas 19 anos, a cantora é dona de uma voz doce e extremamente bonita. Marcelo e Maia dividem a faixa Vem vem, que nada mais é, segundo Jeneci, que a sedução tropical com consciência do território do outro. Sobre a experiência, o cantor conta: ;Conheci Maya no estúdio, ela estava lançando uma música, eu adorei. Achei-a de uma potência, ela é incrível canta de um jeito muito gigante e especial. É uma voz do Brasil;.
No atual momento político e social, o compositor reforça a importância das comunidades indígenas para a preservação ambiental e territorial na faixa inicial do álbum, intitulada Emergencial. Embalada pelo canto de uma integrante da tribo Iauanauá, logo após é enfatizada a questão com o trecho: ;É emergencial a gente se conectar com a terra;, a frase é frequentemente falada por Mana Bernardes, par do cantor. ;A questão indígena é uma questão do planeta, planetária, os índios são os guardiões do mundo e a gente precisa falar disso;, afirma Jeneci.
O Nordeste também é temática, aliás foi em Pernambuco que Marcelo Jeneci passou boa parte da vida. ;São fragmentos e arquétipos que compõem a pessoa que eu sou. Eu sou um tanto do agreste de Pernambuco, porque eu fui criado lá;, conta. Estas partículas são evidências em Oxente, música composta com Chico César, que envolta pela sanfona, passeia pelo baião.
Para a produção do disco, Marcelo Jeneci ficou cerca de um ano trabalhando no disco. Sempre junto dos parceiros Pedro Bernardes e Lux Ferreira, com quem o cantor pretende trabalhar mais algumas vezes. ;Eu entrei no território de entrega máxima e isso passou a me dominar, não tinha espaço para distração. A inspiração é todo o momento presente, é dos encontros, das relações com as pessoas que trabalharam no disco, na alquimia das relações e dos sons;, relembra Jeneci.
*Estagiária sob supervisão de José Carlos Vieira
Guaia
Terceiro disco de Marcelo Jeneci. Slap. Disponível nas plataformas digitais.