Leonardo Cavalcanti
postado em 27/07/2019 06:12
Se for para contar em estrada rodada, Amaro Freitas, aos 27 anos, quase perde as contas. As turnês de lançamentos dos álbuns Sangue negro e Rasif podem ser comparadas a pelo menos uma volta na Terra, passando por cidades brasileiras, norte-americanas e europeias. Se for para contar os locais onde ele tocou e ainda vai se apresentar nos próximos dias, é bom destacar os melhores clubes de jazz do mundo, como Ronnie Scott;s (Londres), Unterfahrt (Alemanha), Dizzy;s, do Lincoln Center (Nova York), mas vale lembrar também teatros históricos como o Santa Isabel, no Recife, a capital onde um dia tudo começou. Se for para contar encontros e conversas com lendas da música, vale citar gente como Quincy Jones, Chick Corea, Kamasi Washington e Milton Nascimento ; para ficar em alguns poucos desses últimos tempos.
Amaro, o menino que ganhou o mundo, se apresenta hoje, às 16h30, durante o festival Música não é barulho. Nascido em Nova Descoberta, um bairro pobre da periferia do Recife, ele começou a tocar teclado aos 13 anos, mas abandonou as aulas no Conservatório Pernambucano de Música por não ter dinheiro para as passagens de ônibus. Foi se virando como tantos, mas desde o lançamento de Sangue negro, em 2016, acumula milhas e encontros.
Há duas semanas, por exemplo, o pianista participou do Festival de Jazz de Montreux ; o mais importante do mundo ; onde conheceu Corea, o lendário músico norte-americano autor de Spain (1971). ;Foi um sonho realizado encontrar com ele, um monstro da música instrumental. Corea foi atencioso, perguntou sobre a minha história e ficou com Rasif (lançado neste ano) em vinil;, disse Amaro em entrevista ao Correio, por telefone.
Um dos mais festejados pianistas brasileiros da atualidade, Amaro tem histórias para contar. O início na música se deu nos cultos evangélicos na periferia do Recife, onde o pai, Jeremias, estimulava as crianças do bairro a tocar na banda da igreja. ;Comecei pela bateria, mas a competição era enorme. Aí meu pai sugeriu o teclado. Não larguei mais;, lembra Amaro, entre uma risada e outra.
O músico une técnica e criatividade nas composições. Nelas mistura a pegada do jazz norte-americano com ritmo regionais ; baião, frevo, o coco de trupé e variações da ciranda. Esse último ritmo está numa das faixas do último disco do cantor Lenine. Em Lua candeia, a parceria entre os pernambucanos, Amaro executa todas as células rítmicas da ciranda, dos sons percussivos mais agudos aos mais graves, como se o piano se transformasse em caixas, agbés e bumbos.
Amaro chega a Brasília com os amigos que o acompanha desde Sangue negro, um power trio, com Jean Elton no baixo e o baterista Hugo Medeiros. A produção é de Laércio Reis, da 78 Rotações. No matulão, todas as referências musicais acumuladas na estrada: Capiba, Charles Mingus, Keith Jarret, João Donato, Thelonious Monk, John Coltrane, Hermeto Pascoal, Brad Mehldau e Herbie Hancock. Do encontro com Corea veio a promessa de um dia tocar uma versão de Spain.
Depois da capital, o pianista pernambucano e a banda embarcam para Nova York para tocar no Lincoln Center, onde o trompetista Wilton Marsalis é diretor artístico. Para Amaro, Recife ficou pequeno. O mundo agora é a casa dele.
Amaro Freitas e banda
Sábado, no projeto Música não é barulho, na Pracinha do Piauíndia Vila Planalto (Acampamento DFL, Rua 5). Horário: 16h30. Entrada gratuita.
Escalas nas pontas dos dedos
Cidades onde Amaro leva os últimos dois shows dos álbuns Rasif e Sangue Negro:
; Recife
; Fortaleza
; Garanhuns (PE)
; Brasília
; São Paulo
; Campinas (SP)
; Belém
; Porto Alegre
; Belo Horizonte
; Jurerê (SC)
; Rio das Ostras (RJ)
; Petrópolis (RJ)
; Vitória
; Maceió
; Natal
; João Pessoa
; Bauru (SP)
; Campinas (SP)
; Salvador
; Munique (Alemanha)
; Paris
; Madrid
; Terrasa (Espanha)
; Barcelona (Espanha)
; Oeiras (Portugal)
; Porto (Portugal)
; Bari (Itália)
; Milão (Itália)
; Grado (Itália)
; Budapeste
; Basel e Montreux Suíça)
; Amsterdã
; Londres
; Buenos Aires
; Nova York