Das cores de Frida Kahlo, passando pelos seres fantásticos chegando ao universo dos povos maias e astecas. Em sua quinta edição, o complexo Na Praia andou pelo mundo e resolveu embalar o público em uma imersão sinestésica pelo México e toda a sua simbologia, tradições e imagens. Da entrada do evento aos artistas performáticos que cruzam com os espectadores, tudo é pensado para misturar elementos e épocas históricas distintas em um mesmo espaço. Com tequila, mariachis, arte e fé, a R2 Produções retratou uma identidade mexicana com toques e trabalho brasiliense.
Para demonstrar a diversidade do país e os elementos que o tornam conhecidos em qualquer parte do globo, a produção elencou alguns símbolos. Seja nos detalhes seja nas pinturas murais, Frida Kahlo, representando a arte; Nossa Senhora de Guadalupe, a religião e os lutadores, uma tradição, aparecem com frequência.
Ao transpor o México para 34 mil metros quadrados na beira do Lago Paranoá, a R2 definiu um conceito diferente para cada área do complexo. Em cada uma delas, representou uma singularidade mexicana. ;Desde a entrada, temos o contraste dos portais coloridos, com referência pelo período colonial espanhol, e a pinturas que remetem aos pictoramas maias e astecas. A Vila Gastronômica é uma referência à Cidade San Cristóbal de Las Casas, com sua mistura de cores e diversidade de adornos, os pátios internos, terminando numa praça com uma réplica da catedral e do tradicional coreto. Ao lado, as duas pirâmides de pedra simbolizando duas épocas distintas convivendo harmonicamente, assim como é na cultura de origem;, explica Thalisson Mesquita arquiteto e diretor de produção da R2 Produções.
O passeio também percorre as praias de Tulum, na ambientação dos camarotes; a vila do Chaves e, para os fãs da artista mexicana, a Casa Azul de Frida Kahlo. Ao criar o Malagueta, restaurante principal do complexo comandado pela chef Renata Carvalho, a produção resgatou a ligação com a natureza, os esqueletos nas paredes e até a arte popular dos painéis de Diego Rivera.
Parte principal da festa, os palcos entraram no clima e receberam roupagens específicas. ;O Palco Bodytech tem como essência ter uma relação com a vila, assim, ele é uma fachada típica da arquitetura colonial mexicana, representando a exuberância dos arcos com as imponentes colunas. O Palco Praia representa os Alebrijes, seres de outro mundo que seriam capazes de espantar os mais terríveis pesadelos, protegerem os sonhos e trazerem sorte.
Já o Palco Principal tinha que representar toda diversidade e riquezas de detalhes da cultura mexicana. Sua estampa representa as vestimentas tradicionais, das danças e apresentações regionais. Temos em sua base duas pirâmides com cactos que fazem referência a Teotihuacán e à vegetação árida da região. No fundo, toda a representatividade do tradicional papel picado e, à frente, toda a monumentalidade de sagrado coração mexicano que pulsa ao som dos maiores artistas;, descreve Mesquita.
Desafios da concepção
Fazer uma verdadeira imersão do público do festival no México é um desafio e um trabalho iniciado pela produção do evento muito tempo antes do início da quinta edição, que começou em 28 de junho. Cerca de quase um ano atrás, o cenográfo Andrey Hermuche, ao lado de parte da equipe da R2 Produções, viajou para o México, onde visitou 13 cidades e mais de 25 museus para trazer referências in loco: imagens fotográficas, livros, CDs e artigos de artesanato local. ;Tudo isso para entender a história e suas ramificações culturais desde a era pré-colombiana, passando pela influência espanhola até os dias atuais;, classifica o arquiteto Thalisson Mesquita.
Para montar a estrutura, foram necessárias, nas últimas semanas da obra, 300 pessoas divididas em equipes de marcenaria, serralheria, paisagismo, sinalização, forração, entre outros. ;Tudo isso para transformar cerca de 4 mil chapas de madeira, 100 latas de tinta, cinco toneladas de metais, mais de 2 mil metros quadrados de impressões e 30 blocos de isopor em mais de 33 mil metros quadrados de área cenografada que virou um pedaço do México encravado em Brasília;, completa.
Diferentemente de edições passadas, quando o evento trouxe materiais dos outros países para compor a cenografia, dessa vez, o Na Praia criou do zero a própria ambientação. ;Trouxemos alguns materiais do artesanato local para entender a composição, materiais e cores. Com esses exemplos fomos atrás de artistas de Brasília, que conseguissem reproduzir tais produtos, mantendo as características mexicanas, mas usando materiais comprados aqui;, explica o diretor de produção da R2.
Coube aos artesãos brasilienses produzirem peças como vasos, mandalas e flores, que estão espalhados pelo cenário. Grafiteiros locais foram convidados para fazer as pinturas e ilustrações que marcam as paredes do espaço, cenários perfeitos para interação do público produzindo fotografias e selfies. A customização de itens como lustres, santuários, sombreiros e placas, que compõem a cenografia, foram trabalhos da produtora Nina Perez e dos cenotécnicos Mizaim Ramos e Leonardo Rodrigues, integrantes da equipe da R2.
Lixo zero
Por ser um evento chamado ;lixo zero; (em que há a mínima produção de resíduos), até a parte de criação do cenário, leva a sustentabilidade em consideração. Por isso, muito do que foi produzido nos cinco anos de Na Praia retorna ao espaço com outra cara, além de materiais de outros eventos da produtora. ;De forma geral, reaproveitamos tudo que podemos de edições anteriores. Olhando com muito cuidado, podemos ver guarda-corpos da Grécia (tema da terceira edição), lustres da Tailândia (temática do quarto ano), portais da Surreal (festa da R2 realizada no dia do aniversário de Brasília na Torre de TV Digital), balcões do carnaval (do evento Carnaval no Parque). Enfim, tudo que podemos utilizar para não gerar mais resíduos, porém estilizando tudo para ter a cara do México;, acrescenta.
Não bastasse a reprodução na cenografia, o país é revisitado também nas performances. Em todos os dias em que o parque temático abre as portas, o espaço é invadido pelas figuras de lutadores, da artista plástica Frida Kahlo, personagens da série televisiva Chaves, caveiras mexicanas e mariachis de carne e osso. Além de receberem os presentes, em certo momento, eles participam de uma apresentação ao som do tema do ano, a música Calma, do porto-riquenho Pedro Capó, que tem o refrão ;vamos pa;la playa, pa; curarte el alma;. ;Mérito dos nossos diretores-criativos Andrey Hermuche e Ricardo Imediato, que fizeram inúmeras reuniões para que cada performance representasse o México em música, em religião e na arte. Como todos os trejeitos culturais de várias regiões do país latino;, diz.