Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Dicas de português

Recado
;Escreve, se puderes, coisas que sejam tão improváveis como um sonho, tão absurdas como a lua de mel de um gafanhoto e tão verdadeiras como o simples coração de uma criança.;
Ernest Hemingway



Future-se
O ministro da Educação anunciou proposta de mudanças no financiamento do ensino superior. Trata-se de resposta à penúria em que vivem as universidades federais. A de Mato Grosso, no vermelho, não pagou a conta de luz. As consequências, como diz o conselheiro Acácio, vêm depois. E vieram. O câmpus ficou às escuras. Alunos perderam aulas. Pesquisas foram pro ralo.

Abraham Weintraub lançou o plano na quarta-feira. Chama-se ;Future-se;. O nome despertou a curiosidade de mineiros, baianos, goianos & cia. desta alegre Pindorama. ;Existe futurar?;, perguntaram eles. O dicionário diz que sim. Mas, se não existisse, não haveria problema. A língua é generosa. Permite que se criem verbos com a desenvoltura de quem anda pra frente. Basta recorrer ao sufixo ;ar. Com ele se formam verbos regulares, os mais comuns na língua.

Valem exemplos. Malufar é filhote do político paulista Paulo Maluf. Em Brasília há um centro universitário chamado Iesb. Campanha publicitária inventou iesbar. ;Iesbe-se;, alardeiam outdoors espalhados pela capital. As irmãs Sandra e Márcia Duailibe descobriram uma injustiça no mundo musical. Samba tem sambar. E bolero? Nada. Criaram bolerar. Chico Pinheiro, louquinho pelo fim de semana, anuncia com alegria incontida: ;Sextou, minha gente!” Nós o seguimos: ;Domingou! Viva!”



Livres e soltos
O Future-se autoriza a doação de ex-alunos para as universidades. Nada mais justo. Eles se formaram nas melhores instituições de ensino do país sem desembolsar um centavo. A prática é comum nos Estados Unidos. Pegará aqui? Talvez. Enquanto esperamos, vale lembrar a reforma ortográfica. A mudança cassou o chapéu dos hiatos o/o e e/em.

Doo, do verbo doar, tinha acento. Deixou de ter. O mesmo ocorreu com perdoo, abençoo, coroo, voo, voos.

A tesourada também atingiu a 3; pessoa do plural de ver, ler, crer e dar. Veem, leem, creem e deem ficaram livres e soltos, sem lenço e sem documento. Oba!



200 dias
Na quinta, o governo Bolsonaro completou 200 dias. O Planalto quis dar visibilidade à data. Anunciou medidas para comemorar o feito. Entre elas, a liberação de parte do FGTS e o acordo Mercosul-União Europeia. Os festejos obrigaram a turma a recorrer à gramática. A razão: qual o ordinal de 200? É ducentésimo: O governo não deixou passar em branco o ducentésimo dia de mandato de Jair Bolsonaro.



Por falar em numeral...
Que tal recordar os ordinais de 10 a 1.000? Ei-los: décimo (10;), vigésimo (20;), trigésimo (30;), quadragésimo (40;), quinquagésimo (50;), sexagésimo (60;), septuagésimo ou setuagésimo (70;), octogésimo (80;), nonagésimo (90;), centésimo (100;), ducentésimo (200;), tricentésimo (300;), quadringentésimo (400;), quingentésimo (500;), sexcentésimo ou seiscentésimo (600;), septingentésimo ou setingentésimo (700;), octingentésimo (800;), noningentésimo ou nongentésimo (900;), milésimo (1.000;).



Olho vivo
Os ordinais adoram a liberdade. Por isso, mandam o hífen plantar batata no asfalto distante: décimo primeiro, tricentésimo vigésimo quarto, milésimo octogésimo nono.



Leitor pergunta
Por que admitimos o uso do verbo relevar no sentido de tolerar, deixar para lá, esquecer, se o significado é dar relevo, fazer notado?

João Campos, Santos

O dicionário, João, registra várias acepções para o verbo relevar. Entre elas, dar alívio, atenuar, desculpar, conceder perdão. Brigar com o pai de todos nós? Nem pensar. Manda quem pode. Obedece quem tem juízo.