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Acruz Sesper se apresenta no sábado no DF; confira entrevista com o músico

O paulistano Alexandre Cruz Sesper, vocalista da banda Garage Fuzz, estará neste sábado no Bar da 705 Norte lançando os mais recentes trabalhos dos projetos Acruz Sesper e Acruz Sesper Trio

O músico e artista plástico paulistano Alexandre Cruz Sesper, mais conhecido pelo trabalho como vocalista da banda Garage Fuzz, estará neste sábado (20/7), a partir das 20h, no Bar da 705 Norte, promovendo os mais recentes lançamentos com o projeto solo Acruz Sesper. A noite contará também com a apresentação dos roraimenses do Decaer/ehoro.

[SAIBAMAIS]Lançado no começo do ano, The cell é um álbum introspectivo em que o músico gravou todos os instrumentos em um Porta Studio Tascam, aparelho portátil de gravação em fita cassete com quatro canais. A sonoridade é calcada no post-punk, new wave e indie rock.

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The days go by like broken stairs é a outra face do mesmo projeto, em vários sentidos. Gravado em formato de trio, completado por Giuliano Belloni (bateria) e Fernando Denti (baixo), o disco apresenta releituras das músicas anteriores do projeto.

Lançados no começo do ano, os dois registros estão disponíveis, separadamente, em plataformas de streaming como o Bandcamp. Juntos, foram prensados em vinil, com o trabalho solo de um lado e o em trio do outro, formando o estranho fenômeno do split de um artista só (um split é um álbum ou EP dividido por dois artistas/bandas, uma forma de economizar e divulgar mais).

Tal como o disco, os brasilienses podem esperar, neste sábado, um show meio a meio. Começa com Acruz Sesper sozinho, com seu Tascam, e, depois de uma intervenção artística, os outros dois músicos o ajudam a formar o Acruz Sesper Trio, com uma performance mais enérgica.

O projeto surgiu em 2014, a partir do convite de Lucas Cabu e Mateus Mondini, da Nada Nada Discos, para participar do projeto Rolo Seco, que integra músicas e artes visuais. Alexandre topou e produziu o primeiro registro, do qual foram prensadas 150 cópias pintadas à mão por ele mesmo.
O Correio Braziliense bateu um papo com o músico sobre o processo de gravação do disco, o show deste sábado e essa história do split de um artistas só.


ENTREVISTA// Alexandre Cruz Sesper


Como é possível lançar um split (lançamento em que um artista divide o álbum com outro artista) consigo mesmo?
De um lado, sou eu tocando o Tascam sozinho, e do lado B é o trio. Eu já tinha material gravado e a banda também. Como pra lançar um disco é muita grana, a gente achou que era uma solução legal juntar os dois trabalhos. Funciona pra banda e pra quem consome o disco, pois tem mais músicas, dois pôsteres; A gente tentou explorar mais o lançamento pra quem tava consumindo o disco (físico), até mesmo pela questão do valor que é você comprar um vinil de uma banda independente.

O projeto Acruz Sesper surgiu com uma pegada de música dialogando com as artes plásticas. Neste lançamento recente, isso se mantém?
Isso se mantém até hoje, porque isso aí é que é o lance. Começou com um convite, em 2014, que o Rolo Seco fez com um compacto meu e um compacto dele customizado, com mais de cem cópias de cada compacto. Depois, veio o vinil de dez polegadas que também tinha uma arte de dez polegadas, customizada. O de doze polegadas já tem esses pôsteres dentro. Já neste último, a capa tem uma arte que já tava sendo feita nos últimos anos, uma colagem com um negativo. Não teve uma arte exclusiva na capa, mas os shows foram diferentes, com a instalação das escadas, como na capa do disco ( he Days Go By Like Broken Stairs), a gente montou uma intervenção artística... é mais isso: em vez das pessoas estarem comprando uma obra original, a parte plástica migrou para o show, com essa coisa da instalação, da projeção das colagens e da arte do pôster.

O que vocês prepararam para o show em Brasília?
Começa com quatro ou seis faixas do The Cell, que eu fiz no Tascam, uma base que eu solto e começa o show. Depois, tem uma intervenção e o Juliano e o Fernando sobem ao palco e tocamos o disco inteiro. É como se fosse sessenta por cento do The Cell e, do trio, o disco inteiro.

Você tem inúmeros projetos como o Acruz Sesper, com a mesma característica espôntanea, só que com outros parceiros. O que diferencia esse projeto dos demais?
Acho que a história é que teve mais outras ideias rolando, das pessoas que estavam envolvidas. A história do Acruz é mais uma parada meio... Eram bases que eu tinha feito, que eu nem sabia como iam ficar. Quando foram criadas, eram bases bem minimais, gravadas num esquema bem cru. O primeiro dez polegadas é gravado sem metrônomo. Acaba virando um charme. Eu gravava em cima do que eu já tinha gravado, fazia a guia e gravava por cima. Acho que a história do trio trouxe uma nova pegada por parte do Denti e do Giuliano, que já participavam de banda e já tinham o esquema da dinâmica deles. Algumas das músicas foram criadas quando a gente já tava tocando, mas acho que o legal mesmo são as releituras do dez polegadas, deu mais energia. As gravações, até 2016, antes do trio, eram mais introspectivas. O Tascam tem esse lance.

Como você começou a trabalhar com um Tascam?
Como a gente já vem das bandas dos anos 1980, o lance do cassete foi uma coisa que a gente sempre teve acesso. O que era difícil, ali nos anos 1990, era lançar um CD ou um vinil. Isso é que não era o comum. Muita coisa que a gente gravava já era diretamente na fita. Optei por esse processo porque, na minha cabeça, a dinâmica pra gravar assim está mais resolvida do que ter um software, que às vezes eu não conseguia sincronizar direito. Era mais difícil. Eu tinha mais praticidade com esse lance de gravar com fita, com o aparelho, do que com o digital.

Nesse tipo de gravação, é tudo valendo. Você não tinha medo de errar?
O erro, nesse sentido da sonoridade, já começa a fazer parte do projeto. Quando você tá no digital, começa a tentar procurar uma perfeição, um melhor timbre, tem acesso a muitos plugins que vão emular sons que normalmente não ia ter no ambiente em que está trabalhando. Então tem muita coisa que foi gravada nesses três discos que não é muito convencional. Amplificadores de 15 watts, por exemplo, que o pessoal usa pra estúdio, a gente usava pra gavar a base. O beat, às vezes, a gente gravava no computador, mas passava na mesinha pra ficar mais tosco. A finalização acabou sendo num estúdio, mas grande parte já veio pré mixado na mesinha do porta studio. Foi mais pra dar um volume, o timbre quase não foi alterado.

*Estagiário sob supervisão de Adriana Izel