Durante 11 dias, artistas de diferentes locais de origem, do Brasil e do mundo, fizeram do cerrado um lar. Imersos no Jardim Botânico, eles participaram da primeira edição da residência artística Cerrado Ecoarte e se reuníram para pensar, criativamente, o bioma por meio de novos paradigmas ecológicos. Hoje (16/07, terça), eles saem desse mergulho para compartilhar com o público o resultado da experiência. Além da exposição dos trabalhos, haverá uma visita guiada com os autores e a mediação em Libras.
A iniciativa faz parte de uma pesquisa de mestrado da multiartista TKuri e está vinculada ao programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da Universidade de Brasília (UnB), sob a orientação de Christus Nóbrega. ;Desde a graduação, trabalho com projetos de educação ambiental e artística. Comecei a ter esse olhar a partir de uma vivência na Casa do Estudante, a geração de lixo, o sistema de alimentação da universidade;, relembra TKuri.
Ao questionar o consumo e como a sociedade se relaciona com materiais e com a natureza, veio o despertar para a linguagem artística, que trabalha as percepções e os sentidos humanos. ;A arte reformula as nossas visões, a nossa forma de perceber o mundo e de criar jeitos de ser e estar nele;, comenta a multiartista.
Os integrantes da residência viveram as cores, as texturas, os cheiros e os sabores do cerrado. Além de mergulharem em seus próprios processos criativos e de compartilharem experiências, eles participaram de encontros e oficinas sobre alimentação de base indígena, com kalungas e com benzedeiras. Acostumados a pressa do dia a dia, pararam para observar o silêncio, os sons e as muitas nuances do bioma.
Os artistas selecionados são Charlene Bicalho, Jina Jorge do B, Nyuki, Rodrigo D;Alcântara, Maurício Chades e Harkiret Kaur, do Brasil; Cecilia Vilca, do Peru; Nora Barna, da Hungria, Olacak, da Turquia e Sean Tseng, de Taiwan. As atividades foram mediadas por Tkuri e pela norte-americana Sarah Farahat.
;Foram dias intensos, que exigiram muito dos artistas. Em um primeiro momento, houve uma fricção. Ao longo do percurso, eles defenderam suas narrativas pessoas. A exposição reúne instalações e performances, com temáticas como ciência e tecnologia, questões de raça e de gênero e poéticas que colocam em pauta o corpo;, detalhe TKuri.
Relações humanas
Para a idealizadora da iniciativa, a vivência lhe rendeu um aprendizado detalhado sobre as características de uma residência artística e, sobretudo, das relações humanas. A partir dessa primeira proposta, a artista quer entender qual o melhor formato para promover a mudança de paradigma na relação do homem com a natureza. ;A troca cultura é um fator muito importante. O cerrado é um bioma que está ameaçado, é paulatinamente explorado pelo agronegócio, pela especulação imobiliária, ao mesmo tempo que é uma região que guarda as nascentes dos principais rios do Brasil. São temas que precisam ser vistos, precisamos dar visibilidade para que eles possam começar a ser discutidos, para se pensar em soluções e outros caminhos;, afirma.
Após a abertura da mostra, algumas obras serão doadas para o acervo do Jardim Botânico e Tkuri destaca o enorme potencial do espaço. Localizado na área de proteção Ambiental Gama-Cabeça de Veado, o local é uma das maiores unidades de conservação em área urbana do Brasil. ;Foi uma experiência frutífera para que a gente possa estabelecer mais trocas e parcerias;, comenta.
Entre agosto e setembro, uma publicação digital será lançada com ensaios teóricos de cada artista. Esse trabalho, na opinião de TKuri, vai levar um tempo para reverberar na prática criativa dos participantes. ;Contudo só de ter chamado a atenção do público provoca algum princípio de mudança;.
Três perguntas para
Sean Tseng, um dos participantes da residência. De Taiwan, ele vive e trabalha em Londres. Entre as muitas linguagens, Sean optou pela fotografia e pela escultura.
De modo geral, como foi a experiência imersiva no Cerrado?
Para mim, é uma chance única de conhecer o Cerrado no Brasil. Durante nossa residência, há vários workshops sobre identificação de plantas, cultura indígena, movimento corporal e assim por diante para discutir questões ecológicas que levam à reflexão e desenvolvimento das práticas de cada participante. É importante que eu possa ter encontros diretos com a terra, especialmente sentindo e interagindo com o ambiente. Estou em busca de sutilezas na natureza, explorando formas, cores e espaços entre os ambientes naturais que tornam esta residência e o Cerrado muito especiais para mim.
Como você descreveria o período e o que achou do Jardim Botânico?
Tivemos dias intensos, mas maravilhosos aqui. Todos os dias, não apenas realizamos vários workshops juntos, mas compartilhamos nossas ideias coletivamente. É interessante ver o que outros descobriram - alguns artistas se concentram na estrutura do poder social e alguns estão interessados %u200B%u200Bem interações do corpo. Varia muito, mas é sempre bom saber como a natureza influenciou nossa prática.
Eu mantenho minha pesquisa no Cerrado. Nos últimos anos, caminhei, muitas vezes sozinho, nas florestas, florestas e costas profundas, e sou atraído pela natureza, em particular pelo processo de observar sutilezas na paisagem. Acho que quanto mais eu abraço a natureza, mais posso sentir a vitalidade dos galhos e folhas, o chilrear dos insetos e pássaros, e os sons das ondas, permitindo-me fundir-me com o ambiente natural e vagar por suas esferas. As conexões entre a paisagem circundante e eu estão sempre lá para serem percebidas.
O que você desenvolveu para a exposição? É algo que segue sua linha de pesquisa artística?
Com base nesse contexto, continuo minha pesquisa sobre sutilezas. Os dias aqui em Brasília eram sempre ensolarados, então isso me dá uma condição muito boa para ver como a luz do sol e as sombras podem interagir na natureza. O trabalho que desenvolvi é sobre o que é visto e o que não é visto, e como eles podem ser percebidos na minha experiência. Eu uso algumas plantas e flores como símbolos para criar uma sensação de movimento por meio de suas cores e formas, e tentar criar um espaço aberto com estruturas de madeira para fazer com que cada elemento seja conectado.
Abertura da exposição da residência artística Cerrado Ecoarte
Terça-feira, 16 de julho, às 14h. Jardim Botânico de Brasília (SMDB ; Área Especial ; Jardim Botânico de Brasília); A participação é gratuita, mas é preciso confirmar presença. Para incluir o nome na lista, envie um email para cerradoecoarte@gmail.com indicando no assunto: ;lista de presença na abertura de exposição;, e no corpo do texto: nome completo, data de nascimento, telefone para contato.