Agência Estado
postado em 15/07/2019 08:00
Para comandar a nova versão de O Rei Leão, o cineasta Jon Favreau contou com recursos até então inexistentes que lhe permitiram realizar uma proeza tecnológica. Rodado inteiramente em realidade virtual (apenas uma cena foi filmada), o longa permitiu ao diretor e sua equipe tomarem decisões que eram imediatamente visualizadas. Com isso, o filme orçado em US$ 250 milhões não pode ser definido como um produto em 3D tradicional.
"Montamos um estúdio com equipamentos modificados para que pudéssemos criar um estúdio virtual, onde o filme seria rodado, no bairro de Playa Vista, em Los Angeles", conta o brasileiro Bernardo Machado, chefe de finanças da empresa de realidade virtual Magnopus, que desenvolveu a tecnologia e cuja sede está em Los Angeles. "Recriamos o mundo de O Rei Leão em VR (sigla em inglês para realidade Virtual), com todos os animais, savana, árvores, montanhas, sol, Pedra do Rei, etc., A equipe de produção do filme colocava o headset (óculos de VR) e podia andar e voar para qualquer posição, mudar os objetos com as mãos e utilizar as câmeras e equipamentos de luz virtuais para capturar as cenas."
Na prática, isso significava que, caso Jon Favreau não gostasse da sombra projetada por Simba, ele simplesmente mudava a posição do Sol para dispor da luz necessária. "Se não gostasse do jeito que uma árvore estivesse na cena, Jon podia pegá-la com a mão (utilizando o controle de realidade virtual) e a mudava de lugar. Era possível controlar também a posição da câmera, a velocidade do close e o corte que teria. É como brincar de Deus, pois você controla literalmente tudo."
Em entrevista ao programa de entrevistas de Jimmy Kimmel, Favreau contou que o princípio da técnica era o mesmo utilizado nos anos 1940, ou seja, o longa foi rodado por uma equipe tradicional de técnicos, que trabalhou em um mundo virtual em três dimensões. "Os ambientes vistos no filme foram criados por computador e as atuações foram animadas quadro a quadro, como se fazia na época de Bambi", comentou o diretor, reforçando a importância de sua experiência em Mogli - O Menino Lobo para se sentir à vontade em O Rei Leão. "Foi um excelente aprendizado, especialmente para trabalhar com live-action e transformar os arquivos digitais em Realidade Virtual no jogo cinematográfico. Fizemos um filme dentro da realidade virtual."
Machado acredita que, ao unir a expertise de efeitos especiais com programação de software, será possível revolucionar o modo de transmissão do conteúdo. "Por termos background na indústria de entretenimento, especialmente no cinema (nossos executivos já ganharam Oscar, Globo de Ouro, Emmy), o primeiro passo foi gerar uma ruptura no cinema, que não mudava seu método de produzir filmes há décadas."
Aos 32 anos, Bernardo Machado teve o primeiro contato com a Magnopus quando trabalhava para o fundo investidor da empresa. Interessado em saber como funcionava aquele núcleo de ideias formado por apenas 20 pessoas, ele decidiu fazer uma visita. Lá, descobriu um negócio avaliado em mais de US$ 1 bilhão. "Poucos meses depois, fiz uma apresentação mostrando porque eles deveriam me contratar e acabei me juntando à equipe, como responsável pela área de finanças e negócios."
A Magnopus foi fundada em 2013 pelos americanos Ben Grossmann e Alex Henning, e pelos brasileiros Rodrigo Teixeira e Marcelo Lacerda. Todos traziam larga experiência em efeitos especiais mas, juntos, tinham uma visão inovadora: unir efeitos especiais com programação de software para revolucionar o modo como conteúdo é transmitido, em um momento em que praticamente ninguém do mercado tinha esse mentalidade.
O interesse pela inovação tecnológica motivou o grupo a trocar o trabalho com efeitos especiais pela realidade virtual. Isso em 2016, quando esse recurso ainda era pouco conhecido. Entre os produtos criados, estão Mogli - O Menino Lobo, Viva: A Vida é uma Festa, Blade Runner 2049 e também The Audition (2015), considerado o curta mais caro da história, dirigido por Martin Scorsese e com Robert de Niro, Leonardo DiCaprio e Brad Pitt no elenco.
Tamanha familiaridade com a Realidade Virtual permitiu à Magnopus ganhar a liderança no maior projeto de VR da história, que será exposto na Expo 2020, em Dubai. Hoje, a empresa já soma mais de 150 funcionários.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.