O alemão Hans Zimmer tem mais de uma centena de trilhas de cinema em seu currículo. Uma das mais famosas é de O Rei Leão original - que ele só aceitou fazer, depois de relutar, por causa de sua filha Zoe, na época com 6 anos. Valeu a pena: pelo trabalho, recebeu seu único Oscar. Zimmer assina a trilha da nova versão, com algumas mudanças. Em entrevista exclusiva ao 'Estado', falou sobre música e, espontaneamente, sobre o Brasil.
Como sua relação com a trilha evoluiu nesses 25 anos?
Claro que sempre achei que poderia melhorar algumas coisas. Quando Jon Favreau me mostrou a abertura deste, logo percebi que seria maior. Ao mesmo tempo, eu tinha a cobrança de minha filha: não vá estragar tudo! (risos).
Mas então a trilha desta vez é mais grandiosa?
Na verdade, não. Você sabe que todos os bons filmes sobre a África precisam ter um brasileiro tocando. Chamei meu amigo Heitor Pereira, que não sabe tocar Kalimba, então ele inventou um jeito de tocar, e o som ficou absolutamente brilhante. A primeira cena é só esse som pequeno e delicado que o Heitor tocou. Eu me cerquei de grandes músicos, então quis poder ouvi-los. A trilha é mais pessoal.
Isso reflete uma mudança em você como compositor?
Não sei. Um tempo atrás, Pharrell Williams, Ann Marie Simpson e Johnny Marr me falaram que eu não podia me esconder atrás de uma tela a vida toda. Que eu tinha de fazer concertos e olhar o público nos olhos. Então eu fiz. E aprendi sobre minha própria música. Porque de repente era um diálogo entre a plateia e eu.
O filme é naturalista. Isso influenciou?
Sim. Eu trabalhei muitas vezes com David Attenborough, é parte do meu DNA. E vou falar isso conscientemente para uma brasileira, mas o Brasil está passando por um processo de desmatamento terrível, que não é nada bom para nosso planeta. O Rei Leão original era muito político para o músico Lebo M (que trabalhou na trilha com Zimmer) e eu, porque Nelson Mandela estava voltando, ou seja, era o retorno do rei. Agora é diferente: Olhe a beleza deste planeta, não vamos destruir isso. Que este filme faça as pessoas perceberem que não somos as únicas criaturas neste planeta e deveríamos ser mais generosos e delicados com quem compartilhamos a Terra.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.