Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Tantas palavras

o barco na garrafa

que vento, tormenta, qual

embargo causado pelo caos

atravessou o aço deste barco?

qual a história de seu rapto,

de sua carcaça aprisionada

ao arrecife, pelo casco?

terá afundado em álcool

; em rum, a nau afogada ;,

no premente e estrepitoso

jorro da única talagada?

terá sido enfeitiçado

o capitão embriagado

pelo canto da sereia

ou pela água envenenada?

pois saibam, sujos marujos,

que até assim se naufraga,

e onde esperaríamos o gênio

realizando desejos, resta a

miniatura delicada da fragata

prensada através do gargalo,

presa ao interior da garrafa;

haverá outra escolha ( brinquedo

camuflando o medo ; mero modelo)

senão estilhaçá-la ao peso

do arremesso (pequena parcela

do mar ou a própria alma

sequestrada) a singela peça

do artesanato naval, minuciosamente

trabalhada ou frágil granada

lançada contra a parede da sala?


Alexandre Guarnieri