Diversão e Arte

Cantora Rita Lee aposta na sensibilidade infantil em novo livro

Em 'Amiga ursa - Uma história triste, mas com final feliz', Rita Lee conta a história de uma ursa que sofreu maus-tratos durante duas décadas

Nahima Maciel
postado em 30/06/2019 06:10
Rita Lee com Rowena
Rita Lee, 71 anos, tem fé na geração pós-millennials. Ela acredita que as crianças de hoje serão responsáveis por retomar o fio da meada hippie da década de 1960 e salvar o planeta do próprio homem. ;Aposto minhas fichas na geração pós-millennials, que eu chamo de crianças ;índigo cristal;. Elas vão realizar mudanças de consciência na humanidade, uma turminha que vai retomar de onde os hippies pararam: a era do paz e amor. Pode parecer clichê, mas ainda é o lema da bandeira que carregamos;, garante.

É uma visão otimista e, ao mesmo tempo, a crença responsável por fazer Rita se debruçar sobre a literatura infantil. Nos anos 1980 e 1990, ela escreveu os primeiros livros, uma série de historinhas para crianças cujo protagonista, Dr. Alex, era um ratinho cientista defensor dos animais que viajava pelo mundo em aventuras misteriosas. Agora, Rita se debruça novamente sobre o tema pelo qual se sentiu mobilizada a vida inteira: os maus-tratos contra animais.

Com Storynhas, uma parceria com Laerte, Rita Lee ; Uma autobiografia, que ficou semanas nas listas dos mais vendidos, e do livro de contos Dropz, reunião de textos sarcásticos e um tanto fantásticos, a cantora quebrou um hiato de mais de duas décadas sem escrever. A última aventura do ratinho Alex foi publicada em 1992 e encerrou uma tetralogia iniciada em 1986. A primeira vez que Rita sentou para escrever livros, já tinha em mente as crianças.

Agora, em Amiga ursa ; Uma história triste, mas com final feliz, Rita se torna personagem para contar às crianças a história de Marsha, ursa resgatada de maus-tratos e recebida pelo abrigo Rancho dos Gnomos, no interior de São Paulo. Lá, o animal recebeu o nome de Rowena. Durante mais de duas décadas, a ursa atuou em circos nos quais era maltratada. Quando resgatada de um zoológico em Teresina, em uma operação realizada pela Confederação Brasileira de Proteção Animal, em 2018, pesava metade do peso e sofria com o calor piauiense.

Ilustrações de Guilherme Samora para o livroNo Rancho dos Gnomos, mantido pelo Instituto Luisa Mell, ela ganhou espaço, alimentação e tratamento e adequados. Em vídeo de promoção do livro, Rita aparece alimentando a ursa com um balde de suco e se divertindo com a textura da língua do animal. Desde o resgate, Marsha/Rowena ganhou 100kg.

Maus-tratos


Rita visitou a ursa no início do ano e ficou encantada. Animais vítimas de maus-tratos não costumam se aproximar dos humanos, mas a cantora e compositora carinhou Rowena e conseguiu que ela comesse em sua mão. Escrever o livro foi inevitável. Rita pensou nas crianças e no alcance possibilitado pela leitura. Quando escreve para crianças, ela sempre imagina bichos como protagonistas. ;Primeiro, bichos e crianças se entendem e se assemelham. Segundo, ambos não têm voz. Contar a triste história de Rowena, mas com um final feliz, vai despertá-las para o que acontece de maus-tratos com os animais e também como devemos respeitar o direito de eles serem felizes em seu habitat;, acredita.

Editado pela Globo Livros, Amiga ursa tem ilustrações de Guilherme Francini e participações especiais. Na história, a Papisa BiBi, uma homenagem a Brigitte Bardot, que mandou mensagens de solidariedade quando soube da história da Marsha, e a própria Luisa Mell, atriz e responsável pela manutenção do Rancho dos Gnomos, são personagens importantes para falar da importância de proteger animais dos maus-tratos de humanos.

Amiga ursa ; Uma história triste, mas com final feliz
De Rita Lee. Ilustrações: Guilherme Francini. Globo Livros, 46 páginas. R$ 58


>> Entrevista Rita Lee


No caso da ursa Rowena, que temas ela te ajudou a abordar e que você considera essenciais para conversar com as crianças?
O tema da tristeza de se ver um animal enjaulado para entreter humanos. As crianças de hoje, espertas, precisam saber que um bichinho exposto em circos e zoológicos não é natural. Ele não quer estar naquela prisão, naquela situação. E também sobre ;eventos;; como rodeios, vaquejadas, farras do boi, touradas e tantos outros que humilham e abusam publicamente do animal indefeso. E ainda são realizados na frente das crianças.

O que te puxa para essa causa dos animais, especialmente os que sofrem maus- tratos? O que te aproxima dessa luta?
Desde que me conheço por gente defendo animais diante do desrespeito que sofrem nas mãos de humanos gananciosos, que os tratam como objetos de uso pessoal. Estamos em pleno terceiro milênio e não há mais espaço para agirmos como na Idade Média.

Você tem mais fé nos animais do que nos homens, tendo em vista o que os homens andam fazendo com o planeta?
A raça humana se mostra cada vez mais incompetente em administrar o planeta e se diz, com arrogância, a ;imagem e semelhança de Deus;, quando na verdade somos os cupins da Terra.

Por que, para você, é importante escrever livros infantis e que mensagem quer passar quando os escreve?
No meio das tragédias ambientais, políticas e sociais pelas quais passamos nos dias de hoje, é preciso pensar no mundo que queremos deixar para as crianças amanhã. Escrevo para elas para passar a mensagem de que logo mais o planeta estará em suas mãos e que é preciso respeitar todas as formas de vida.

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