Correio Braziliense
postado em 26/06/2019 04:17 / atualizado em 19/10/2020 15:30
Por muitos anos, o termo diva pop ficou restrito a artistas internacionais como Madonna, Lady Gaga, Britney Spears, Rihanna, Jennifer Lopez, Katy Perry, Mariah Carey e Beyoncé. Muita gente! Isso porque a música pop, como era definida mundo afora — com letras de fácil assimilação, ritmo dançante, shows com superestruturas e bastantes coreografias —, demorou para se firmar no Brasil. Houve até quem tentasse esse modelo no início dos anos 2000. A cantora Wanessa Camargo foi um exemplo. Mas o estilo, por algum motivo, não vingava no país.
Foi preciso que um ritmo genuinamente brasileiro, o funk, se aproximasse do pop internacional para o Brasil finalmente conseguir dar os primeiros passos na criação de um pop brasileiro. Uma das artistas que proporcionou isso no cenário atual foi a carioca Anitta. Estrategista, estudiosa do showbiz e grande fã de artistas internacionais, a brasileira importou o “modus operandi” das divas internacionais, apostando em bons clipes e músicas com batidas que pudessem casar perfeitamente com coreografias. “Minha carreira tem muito do meu esforço para que acontecesse. Não foi de um dia para o outro. Antes de Show das poderosas estourar, foi um longo caminho que percorri. E continuo correndo atrás dos meus sonhos. Isso me move”, afirmou Anitta em entrevista ao Correio.
Com a porta aberta por Anitta, várias artistas brasileiras aproveitaram o espaço e se jogaram de vez na cena pop. As primeiras delas também vieram do funk, como Valesca Popozuda e Ludmilla. Dessas, quem de fato conseguiu se firmar no cenário e segue até hoje é Lud, ao se adaptar deixando os proibidões de lado e, assim como Anitta, misturar funk e pop, mas com uma pegada um pouco diferente, que flerta com o R&B de nomes como Beyoncé e Rihanna. Neste ano, com o lançamento do primeiro DVD da carreira, Hello mundo, Ludmilla confirmou de vez a veia pop ao apostar num material em que abusa de figurinos, coreografias, faixas chicletes como Favela chegou (parceria com Anitta) e A boba fui eu (gravada com Jão) e ainda faz uma reverência a Beyoncé com um cover de Halo.
Expansão
Mas não foi apenas o funk que, de certa forma, migrou para o pop. Como o caminho estava aberto, cantoras começaram a se lançar no cenário tendo o pop como eixo. É o caso de Pabllo Vittar, Gloria Groove, IZA e Luísa Sonza, artistas que estouraram no mundo da música brasileira na “era pós-Anitta”.
“Tem sido uma construção muito interessante de se acompanhar. Pra mim é quase como um sonho, consumo cultura pop desde sempre, e nunca podia imaginar que um dia colaboraria para o renascimento desse gênero no meu próprio país. A cada dia chegam novos criadores e artistas, pessoas jovens que se inspiram exatamente neste renascimento para começarem a construir suas carreiras. Tenho muito orgulho de fazer parte disso”, afirma Gloria Groove.
Na ativa desde 2016, quando lançou o single Dona, do álbum O proceder, Gloria Groove aproveitou o boom da cultura drag queen no mundo. “Além de ter a consciência de que a cultura drag teve um avanço significativo no mainstream nos últimos cinco anos por conta do trabalho de pessoas como RuPaul, acredito que, ao propor usar a arte drag como ferramenta no mercado fonográfico, tenho feito tudo com muita autenticidade. Além do mais, represento toda uma comunidade, um recorte social extremamente marginalizado, num momento político polarizado, o que faz do meu trabalho também uma plataforma de amor e aceitação”, analisa.
Nas últimas semanas, Gloria Groove se destacou exatamente pela veia de diva. Ao lado de outra grande cantora do pop, a carioca IZA, ela divulgou o single e o clipe de Yo-Yo. O material levou os fãs do estilo à loucura, principalmente porque o conteúdo faz uma referência a outros dois nomes do pop: Lady Gaga e Beyoncé, que se juntaram anos atrás em Telephone — videoclipe que prometeu ter uma continuação, o que nunca se concretizou. “Estávamos em busca de dar continuidade à história de Coisa boa (outra música de Gloria), ainda recheando com referências a diversos outros projetos. A referência a Gaga se deve ao fato de que somos muito “little monsters” (nome dado aos fãs de Lady Gaga) e jamais perderíamos a chance de brincar com a famigerada continuação de Telephone, que por sinal nunca veio (risos)”, completa Gloria sobre o vídeo que tem mais de seis milhões de visualizações no YouTube com apenas três semanas de lançamento.
IZA também é outro nome que se firmou. A carioca surgiu no cenário musical após abandonar a profissão de publicitária e começar a postar vídeos de covers no YouTube. Logo foi descoberta por uma gravadora e lançou a primeira faixa autoral Quem sabe sou eu. A partir daí, só cresceu lançando músicas como Esse brilho é meu, Vim pra ficar e Pesadão, faixa que integra o primeiro álbum Dona de mim, de 2018.
IZA teve tão boa repercussão na música, que hoje também figura na televisão. Está à frente de Música boa ao vivo, foi uma das apresentadoras de Só toca top e está confirmada na próxima temporada de The voice Brasil assumindo o lugar deixado por Carlinhos Brown. “Estou muito feliz com o momento que estou vivendo. Teve muito trabalho, muita dedicação, mas eu não imaginava viver tudo o que já vivi tão rápido”, afirma.
Em abril deste ano, a cantora apostou no single Brisa, música pop que flerta com o reggae. O clipe muito bem executado tem mais de 19 milhões de visualizações no YouTube. “Eu não via a hora de poder mostrar para todo mundo (essa música). Brisa tem um pouco a ver com o que eu venho ouvindo ultimamente, música jamaicana, reggae, canções que passem a mensagem de positividade. Mas não sei se fará parte de um novo projeto”, revela.
Duetos
Uma das características principais do pop internacional sempre foi investir em parcerias. Algo que também tem sido importado no Brasil. Só neste ano, o cenário viu IZA e Gloria Groove, Anitta e Ludmilla e Luísa Sonza e Pabllo Vittar se unirem. Esse último dueto, que leva o nome de Garupa, junta duas outras representantes do gênero, que repercutem no cenário.
Pabllo Vittar se consolidou em 2017 com Vai passar mal. Mas o estouro foi em 2015 após lançar o hit Open bar e ganhar espaço na tevê no programa Amor & sexo, que preparou o público para o primeiro álbum. Desde então, gravou parcerias com Anitta (Sua cara) — com quem se desentendeu depois e criou uma das primeiras brigas do pop brasileiro —, Diplo (Então vai e Seu crime), Ludmilla (Vai embora), Titica (Come e baza), Lali (Caliente) e Sofi Tukker (Energia). No ano passado divulgou Não para não. A boa repercussão no pop brasileiro fez com que, neste ano, fizesse uma turnê internacional representando o ritmo e a cultura LGBT brasileira.
Com um início similar ao de IZA, a gaúcha Luísa Sonza passou a ser conhecida ao gravar covers e disponibilizar no YouTube. A ex-rainha dos covers assinou, em 2017, contrato com uma gravadora e divulgou Good vibes, mas foi com a sequência de lançamentos de Rebolar e Devagarinho que a cantora passou a ser realmente conhecida pelo público. O jeito de se posicionar na internet também deu espaço para Sonza, que lançou neste ano o primeiro álbum da carreira, o elogiado Pandora, que recebe, além de Pabllo Vittar, Gaab em Fazendo assim e Vitão em Bomba relógio.