Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Morre maestro que fez Heliópolis mais musical

Idealizador de um dos mais importantes projetos de formação musical do País, morreu na manhã desta sexta-feira, 21, o maestro e compositor Silvio Baccarelli, aos 88 anos. Seu corpo foi velado no Salão dos Espelhos da Assembleia Legislativa e será cremado neste sábado, às 11 horas, no Crematório de Vila Alpina. Baccarelli ficou conhecido pelo conjunto que, levando seu nome, tornou-se presença constante em casamentos em toda São Paulo. Nos anos 1990, no entanto, ao ver na televisão a notícia de um incêndio que destruía a favela de Heliópolis, resolveu criar um projeto de formação de músicos destinado a crianças e jovens da comunidade. Em sua primeira década, o projeto ocupava um pequeno espaço na Vila Mariana. Em 2005, no entanto, mudou-se para Heliópolis, onde o trabalho passou a ser realizado em uma antiga fábrica de sucos. Quatro anos depois, o Instituto Baccarelli inaugurou sua sede na Estrada das Lágrimas, onde atualmente atende 1.200 crianças - em 1996, eram 36 integrantes. Com o crescimento do instituto, o trabalho alcançou novos patamares. A Orquestra Sinfônica Heliópolis tornou-se um dos principais grupos do País, com temporadas regulares em São Paulo e turnês brasileiras e internacionais. Boa parte dos músicos formados no instituto seguiu para o exterior para concluir seus estudos e integrar orquestras em todo o Brasil. Zubin Mehta tornou-se patrono do projeto e Isaac Karabtchevsky é hoje seu diretor artístico. Da mesma forma, seus corais, como o Coral da Gente, também se tornaram símbolos do canto como porta de entrada para a música e o desenvolvimento da sensibilidade dos alunos. A essência do projeto, no entanto, vai além da formação musical. A concepção de Baccarelli, levada adiante pelos diretores do instituto, é a de que a música é uma ferramenta de cidadania. No momento em que aprende um instrumento, a criança que vive em uma situação onde lhe faltam condições de sobrevivência recupera sua capacidade de sonhar. E, ao subir no palco e se apresentar, recupera uma voz própria que lhe é negada pela sociedade. Baccarelli estava afastado do cotidiano do instituto desde 2011, por motivos de saúde. Mas o legado de seu trabalho segue na vida dos jovens que passaram pelo instituto. Não é só maneira de dizer. Se, nos últimos vinte anos, a presença de projetos de formação musical e inclusão social ajudaram a redefinir a paisagem do meio musical brasileiro, então o nome de Silvio Baccarelli precisará ser parte dessa história.