Na entrevista, Chico Buarque faz duras críticas ao Brasil e conta que, desde as agressões sofridas em um restaurante no Rio de Janeiro, em 2015, não se sente mais à vontade na cidade. Ele evita, por exemplo, os restaurantes e só vai a três ou quatro estabelecimentos. Também não caminha mais na praia, como costumava fazer, nem pelas ruas do Leblon, bairro no qual tem residência quando não está em Paris.
No entanto, as ameaças existem, não necessariamente contra os artistas, mas contra a esquerda em geral, os gays, as minorias e as mulheres;, diz o compositor ao Le Monde. ;Uma cultura do ódio se espalhou no Brasil de maneira impressionante. Esse ódio é alimentado pelo novo poder, o presidente, seu entorno, seus filhos, os ministros; Eles desacreditam os artistas, que eles consideram inúteis. A cultura não tem o menor valor para eles.;
O compositor falou ainda sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSoL) e a impunidade que se alastra na resolução do caso, além de comentar a decisão de figuras públicas como Jean Willys e Marcia Tiburi, e do escritor Anderson França, que decidiram deixar o Brasil. ;São pessoas que foram diretamente ameaçadas, assim como suas famílias;, disse, antes de apontar a ligação entre a família Bolsonaro e as milícias do Rio de Janeiro.
O PT também foi tema de boa parte da entrevista. ;Tenho muitas reservas em relação ao PT: o partido passou por episódios de corrupção, como governos precedentes. Mas, depois da derrota da direita na eleição, houve uma estigmatização inacreditável do PT e isso teve impacto enorme nas pessoas. Foi duro lutar contra isso; explica.