Devana Babu*
postado em 09/06/2019 06:45
Entre 1967 e 1991, o programa Carrossel, da TV Brasília, era febre entre a "petizada" brasiliense. As gerações mais novas podem estranhar a palavra, mas era assim que os jornais e os adultos se referiam às crianças na época. Os mais velhos devem se lembrar da expressão e das tardes em frente à TV, repletas de desenhos animados, brincadeiras, histórias, músicas, poesias e concursos que marcaram época e participaram da formação de milhares de crianças de uma capital ainda nascente.
A atuação delas não se limitava a de telespectadores passivos. O programa fazia parte da vida da cidade e do cotidiano dos pequenos e dos grandes. Além de assistir à programação pela tela, o público mirim também frequentava o estúdio ou o auditório onde o programa era gravado ou exibido ao vivo.
Interação era palavra de ordem. Artistas locais, ou que estivessem de passagem pela cidade, passavam por lá para ;mandar aquele recado; (como também se dizia na época).
Às vezes, peças de teatro infantis, em cartaz no Teatro Nacional, por exemplo, eram filmadas e exibidas na íntegra. A Fada Azul, que espalhou purpurina nos corações pueris de então, lia livros infantis de autores consagrados e novatos da cidade, sempre atenta à qualidade da obra.
O Correio Braziliense publicava cupons, que as crianças enviavam à emissora, e todo domingo saía a lista de sorteados que poderiam ir ao estúdio ao longo da semana.
Pequenas reportagens e filmagens externas, de cunho educativo, foram uma novidade que fez sucesso. Certa vez, Titio Darlan levou as crianças para passear no estúdio e conhecer os bastidores da produção, sob o olhar atento do cameraman. E no dia que a assistente dele atravessou a faixa de pedestres, de mãos dadas com a criança, o evento ganhou ares de espetáculo.
Uma reportagem de junho de 1980 conta que um concurso de cartazes chegou a receber mil cartinhas por dia, quase 25 mil até o final do concurso. O título: ;Crianças tomam o programa Carrossel;.
Palhaços
Nos anos 1980, o programa foi reformulado e passou a ser apresentado pelos palhaços Cacareco e Linguiça, acompanhados por uma turma que faz parte da memória afetiva da cidade: Carranquinha, Zé Gatão, Purpurina, Fada Azul, Pipoca, Folia e Bucha Danadinha. O programa era tão popular que, em uma das edições ao ar livre, levou 5 mil pessoas para a Torre de TV.
Mas, nos anos 1960, o programa já era sucesso, tendo uma média de 90,2 pontos no Ibope local.
Na época, o apresentador era Darlan Rosa, que, com 20 anos, tinha acabado de chegar à capital. Ele comandou o show de 1967 a 1971, quando abandonou o posto em frente às câmeras e assumiu o cargo de produtor. ;Eu não podia andar na rua. Larguei por causa disso. Hoje, você vê um astro de cinema na rua e acha normal, mas, na época, o pessoal corria atrás. Eu ia contar uma história numa escola e tinha que entrar escondido e sair escondido. Assédio total;. Lembra. ;As crianças me amavam, e os adolescentes me sacaneavam;.
Conhecido como Titio Darlan ; apelido do qual ele não era muito fã, mas eram ossos do ofício ;, o apresentador também é artista plástico desde a infância e ensinou, pela TV, várias crianças a desenhar. ;Vários artistas me contam que descobriram a vocação me assistindo;, comemora. O método de ensino era bem singular.
Primeiro, ele ia até a gráfica do Correio e pegava uma bobina usada. ;O jornal era impresso em papel, que vinha em bobinas. A bobina tinha que ser trocada quando restava uns 10 metros de papel. Eu pegava essas bobinas e montava em uma estrutura de flipchart, onde ia desenhando e desenrolando o papel;, descreve Darlan.
* Estagiário sob a supervisão de Severino Francisco