Nahima Maciel
postado em 30/05/2019 06:30
Foi a saudade do Brasil, dos amigos e da família, mas também da música, que trouxe de volta o violonista Marcelo Rosário e a flautista Morgana Moreno. Depois de seis anos na Europa, dando aulas em Roterdam (Holanda), com uma temporada na Alemanha e uma turnê de 26 concertos, o duo decidiu que era hora de voltar a beber na fonte musical primária na qual foram formados. É com essa vontade de reencontrar o público e a música brasileira que eles sobrem ao palco do Espaço Cultural Ary Barroso (SESC 504 Sul) nesta sexta (31/05) como convidados do projeto Estação do choro.
É a primeira apresentação do duo no Brasil após retornar da Europa e também uma retomada batizada de projeto Nascente. ;Esse projeto foi uma saudade bem grande de compor mais nessa linha de samba e choro, embora tenha algumas músicas com influência de outras coisas. O choro que a gente tenta compor de forma mais tradicional está misturado com outras coisas que são fruto da nossa vivência;, avisa Rosário, que pretende entrar em estúdio para gravar o álbum Nascente entre julho e agosto. No palco, o duo terá a companhia de chorões e velhos amigos de Brasília, como Vinicius Vianna (violão sete cordas) e Nelsinho Serra (cavaquinho).
Durante a estadia na Holanda e na Alemanha, os músicos tiveram muito contato com outros ritmos, normalmente rotulados de música do mundo. Sons que vinham da Índia e da Turquia, um pouco de flamenco e muito jazz contemporâneo acabaram contaminando a música do duo. Essa conversa com a música de outras culturas está gravada no álbum Miscellaneous. ;É bem misturado com jazz, mas um jazz bem contemporâneo. A gente morava na Alemanha e lá tem uma cena forte de jazz moderno. O que a gente quis nesse trabalho foi sair da zona de conforto. Em vez de ficar só na música brasileira, a gente quis entrar mais no mundo dos músicos de lá;, diz Rosário.
Morgana Moreno, 29 anos, conta que a música contemporânea brasileira é bastante desconhecida na Alemanha e na Holanda, especialmente quando se trata de choro. Samba e bossa nova tiveram grande difusão e são, até hoje, referências. ;O choro, o universo do forró, isso ainda é um pouco desconhecido. A gente tocava choro e perguntavam que música era aquela, então foi um desafio grande trabalhar com isso fora, educar o público. E, depois de tanto tempo morando fora, bate uma saudade do Brasil e a decisão de voltar foi um pouco por causa disso;, conta a flautista.
Nascida em Salvador, ela esteve em Brasília pela primeira vez em 2007 e ficou surpresa com a quantidade de músicos jovens empenhados no estudo do choro. ;Eu tinha um grupo de choro em Salvador mas, até então, na Bahia, a gente tinha um movimento de choro super pequeno, era mais a velha guarda. Quando cheguei aqui e vi tanta gente nova tocando, isso me marcou muito. Fiquei conectada;, lembra. Marcelo Rosário, 31, também é baiano, de Ilhéus, mas veio para Brasília aos 16 anos para estudar na Escola de Choro Raphael Rabello. O duo com Morgana exista há mais de 10 anos, mas nem todas as apresentações são feitas apenas com a dupla. Eles também gostam de gravar e tocar com bandas. O formato para o show em Brasília, no entanto, foi escolhido porque permite mais liberdade e despojamento. ;A gente consegue improvisar com mais facilidade;, explica Rosário.
Estação do Choro - Nascente
Com Marcelo Rosário e Morgana Moreno. Sexta-feira, às 20h, no Espaço Cultural Ary Barroso, no SESC da 504 sul. Ingressos: R$ 20 e R$ 10 (meia)