Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Documentário 'Chiquinho: o livreiro da UnB' será exibido nesta quarta-feira

Dirigido pelo jornalista, o documentário começou a tomar forma em janeiro de 2018



Foi dona Chica quem mudou a vida de Francisco Joaquim de Carvalho. Em meados dos anos 1970, ele vendia jornais em Sobradinho e dona Chica ficou sabendo do empenho do rapaz, piauiense que chegou na cidade no início da década. Gostou dele e o convidou para ser vendedor na banca mantida no Multiuso, na Universidade de Brasília (UnB). Era 1975 e ele topou. Hoje, 44 anos depois, Chiquinho é o livreiro mais conhecido de Brasília e um dos últimos. A trajetória, que perpassa a vida de praticamente todo estudante da UnB, é tão rica de histórias e persistência que o jornalista Hélio Doyle decidiu contá-la em um documentário. Chiquinho: o livreiro da UnB tem pré-estreia hoje, às 18h, no Anfi 10, no Instituto Central de Ciências (ICC Sul UnB).

Dirigido pelo jornalista, o documentário começou a tomar forma em janeiro de 2018, numa conversa com o filho, Gabriel, assistente de direção na Plural, produtora do filme. Chiquinho estava entre as cinco ou seis pessoas cujo perfil Doyle achava interessante de explorar. ;Eu queria um personagem que fosse importante e que não fosse celebridade. Gabriel chegou para mim e falou ;por que não faz o Chiquinho;?;, conta o diretor.

As filmagens foram concluídas no primeiro semestre de 2018, mas a montagem atrasou porque tanto a produtora quanto o jornalista se envolveram em campanha eleitoral. O centro do documentário é o próprio Chiquinho e seus relatos, mas há também muitos depoimentos. ;Ouvimos pessoas que foram importantes na trajetória dele. Não todas, claro, as que foi possível. Tem professores, alunos, livreiros. O documentário é o Chiquinho e os depoimentos entrecortados por imagens dele trabalhando, da banca, de debates que ele promoveu, eventos dos quais participou;, explica Doyle. ;Ele é um exemplo, um modelo de livreiro, aquele cara que gosta do livro, que lê o livro, quando não lê, lê as resenhas, ele sabe do que está falando. É diferente de um vendedor de livraria. E é uma pessoa que todo mundo que passou pela UnB desde 1975 conhece ou já ouviu falar. É extremamente respeitado, simpático, simples.;

Antes de trocar a banca de dona Chica por sua própria lojinha, no ICC, Chiquinho foi trabalhar com alguns livreiros para aprender sobre a profissão. ;Conheci dois livreiros, Nelson Abrantes e Cléber Lima, que me ensinaram o ofício, o dom do atendimento, e isso mudou minha vida. Aí, vendi livro de mão em mão nos anos 1980 e, em 1989, consegui esse espaço na Ala Norte;, lembra.

No filme, ele conta que, na época em que começou, se um professor de uma turma de 40 alunos pedia uma bibliografia, ele vendia 38 exemplares para os alunos. Dois não compravam. Hoje, é o contrário. Vende apenas dois. ;Mudou muito esse ofício;, garante. ;Com a chegada das grandes redes, com a tecnologia houve uma diferença no costume dos leitores. Antes, a pessoa lia mais o livro físico. Hoje, vai mais no PDF, no e-book, na xérox. Isso mudou muito.;

Chiquinho está muito feliz com o documentário, especialmente com os depoimentos dos professores e alunos. São 44 anos de dedicação aos livros, mas também aos alunos. É uma paixão que nem a vida modesta decorrente da escolha ofusca. ;A vida é difícil. É muito mais amor, ao ofício, ao trabalho. Eu amo o que eu faço e quero viver modestamente mesmo. Dá pra sobreviver;, diz. ;Eu quero, até o último dia da minha existência, trabalhar com livro, prestando serviço pra comunidade, pra sociedade de Brasília, porque o livro é muito importante para a sociedade e só através da leitura as pessoas terão melhor condição de interpretar o mundo.;



Chiquinho: o livreiro da UnB
De Hélio Doyle. Plural, 55 min. Pré-estreia hoje, às 18h, no Anfi 10, no Instituto Central de Ciências (ICC Sul UnB).