O ano era 1987. Uma banda chamada Filhos de Menguele, que tocava em bares de Brasília e participava do Concerto Cabeças, no Parque da Cidade, ensaiava no quarto de uma casa da QI 9 do Lago Sul. Lá, onde os instrumentos ficavam guardados, o baterista Digão e o guitarrista Rodolfo costumavam, nos intervalos, tirar músicas do Ramones, de quem faziam cover.
Aqueles garotos sonhavam em seguir o caminho aberto por bandas brasilienses surgidas um pouco antes, como Legião Urbana, Capital Inicial e Plebe Rude. Mas demorou algum tempo ; precisamente cinco anos ; para que chegassem ao grande público com o nome de Raimundos. Eles tinham como credencial um som em que misturavam elementos da música simples e ruidosa do punk rock com influências da cultura nordestina.
Quando finalmente, em 1994, Digão, Canisso, Rodolfo e Fred passaram a ser ouvidos no rádio, com Selim, faixa do Raimundos, o primeiro CD, houve quem dissesse que aquilo era um ;forró-core;. Aquele som pesado, com letras recheadas de palavrões, chamou a atenção da mídia e do público. Resultado, o álbum vendeu mais de 100 mil cópias. O disco foi produzido por Carlos Eduardo Miranda, lançado pelo selo independente Banguela.
A banda comemora este ano 25 anos de carreira com uma turnê iniciada em janeiro. A banda lançou 12 discos ; oito de estúdio e quatro gravados ao vivo ; e fez incontáveis shows, além de emplacar hits que permanecem na memória dos fãs, entre os quais a citada Selim, Puteiro em João Pessoa, Nega Jurema, Eu quero é ver o oco, Só no forévis e, claro, Mulher de fases, clássico do rock nacional.
Neste sábado, de volta à origem, o Raimundos celebra a data em apresentação na Yurb (Setor de Clubes Sul). Quem abre a programação, às 22h, é o Aborto Elétrico, projeto liderado pelos irmãos Flávio e Fê Lemos, baixista e baterista do Capital Inicial, respectivamente, e com a participação de André Golha (guitarra) e Franklin Martins (vocal). No encerramento sobe ao palco o bloco Eduardo e Mônica.
Raimundos ; Turnê 25 Anos
Show sábado, às 22h, na Yurb (Setor de Clubes Sul), com a participação do Aborto Elétrico e do bloco Eduardo e Mônica. Ingressos: R$ 50 (pista) e R$ 90 (camarote). Ingressos à venda pelo site www.bilheteriadigital.com ou pelo aplicativo Bilheteria Digital e na rede de lojas Bilheteria Digital, disponível nas plataformas IOS e Android. Informações: 3342-232 e 95114-5259. Não recomendado para menores de 18 anos.
Entrevista / Digão
O começo foi com Filhos de Menguele e a transição para Raimundos, em 1987?
Vivíamos a onda do punk rock e, com o Rodolfo, criei a banda Filhos de Menguele. Tocávamos em bares, como Bom Demais, na 506 Norte; no Concerto Cabeças, na rampa acústica do Parque da Cidade e em festas particulares. Ensaiávamos num quarto na casa dos meus pais, na QI 9 do Lago Sul, onde guardávamos os instrumentos. Ali, costumávamos tirar músicas do Ramones, de quem fazíamos cover. Depois demos um tempo, cada um tomou outro rumo. Mas havia o embrião do Raimundos.
Quando vocês se reagruparam?
A gente se manteve ligado ao rock e, com o surgimento da onda grunge, que tinha Nirvana, Alice in Chains e Pearl Jam em destaque; e a presença forte do Red Hot Chilli Papers na cena roqueira internacional, acabamos retomando nosso projeto. O Fred foi importante nesse processo, por convencer o Rodolfo, que estava morando no Rio de Janeiro, para que voltássemos a nos juntar. Como Raimundos, fizemos nosso primeiro show em Goiânia, em 1992.
Além de você, Rodolfo, Canisso e Fred havia o Telo, que foi vocalista da Filhos de Menguele. Ele não quis integrar o Raimundos?
Era um outro momento, mas duas músicas do Telo, Palhas do coqueiro e Cajueiro, foram incorporadas ao repertório do nosso disco de estreia.
Quem era Zenilton, que também foi uma influência pra vocês?
O Zenilton era um forrozeiro que cantava músicas de duplo sentido. Nós conhecemos essas músicas, porque o pai do Rodolfo, paraibano, tinha um disco dele e tocava em churrascos que fazia. O Zenilton participou do nosso primeiro disco, cantando e falando umas coisas engraçadas na faixa Puteiro em João Pessoa.
Como foi a história desse primeiro disco?
Havíamos gravado uma fita demo com as músicas Nega Jurema, Marujo, Palhas do coqueiro e Sanidade. O então jornalista do Correio Carlos Marcelo, que à época apresentava um programa na Rádio Cultura, tomou conhecimento da fita e a fez chegar ao produtor Carlos Eduardo Miranda. Outro que enviou a fita para o Miranda foi o Felipe CDC, figura do underground brasiliense. O Miranda gostou do que ouviu, entrou em contato com o Fred e o disco, com o título Raimundos, foi lançado pelo selo independente Banguela, criado pelos Titãs.
Que músicas se destacaram no Raimundos?
Puteiro em João Pessoa, Marujo e Nega Jurema, que ganhou clipe dirigido por José Eduardo Belmonte. Mas a de maior sucesso foi Selim, vista como uma balada pornô-erótica. Engraçado é que, embora escolhida como música de trabalho do disco, inicialmente ela não aconteceu. Mas aí Tatola, radialista da Transamérica, passou a tocar no programa dele e, de um dia para outro, passou a ser uma das mais pedidas pelos ouvintes. Depois disso, houve o estouro, o CD vendeu mais de 100 mil cópias e ganhamos o disco de ouro. O nosso CD foi o primeiro a ser lançado pelo Banguela, que, em seguida, lançou os do Mundo Livre S.A e o do Little Quail, outra banda de Brasília.
A contratação da banda pela Warner está ligada ao sucesso do primeiro disco?
Claro. Engraçado é que antes da assinar contrato com o Banguela, procuramos várias gravadoras, sem receber atenção. Pela Warner, lançamos o segundo disco, que se chamou Lavô tá novo, que trouxe músicas como Esporrei na manivela, Pintando no kombão e O pão da minha prima. A venda superou as expectativas da gravadora e contribuiu para consolidar o trabalho da banda. À época (1995), participamos dos festivais Monsters of Rock e Hollywood Rock. Nesse estivemos ao lado do Iron Maiden e do Motorhead. Tínhamos como empresário o brasiliense José Muniz, que hoje traz várias bandas para o Rock in Rio.
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Daí para a frente, como foi a trajetória da banda?
Lançamos os discos Cesta básica (1996), Lapadas do povo (1997), Só no forévis (1999) e o MTV Ao Vivo (2000), o último com o Rodolfo. Ele gravou o CD, mas no dia do lançamento, durante a coletiva, anunciou a saída da banda e a sua conversão evangélica. Na sequência, houve o lançamento de Éramos 4 (2001), Kavookavala (2002) Cantigas de roda.
Como a banda reagiu com a saída do Rodolfo?
Houve a saída também do Fred e do Canisso, substituído pelo Alf Alf (baixista do Rumbora). Depois, com a volta do Canisso, o Alf deixou a banda. Daí para frente passamos a contar com o Marquim (guitarra) e Caio (bateria). Na Som Livre, em 2014, lançamos Cantigas de garagem, com músicas como Baculejo, Dubmundos e Gordelícia.
O que representou o DVD e CD Raimundos Acústico nesta nova fase do grupo?
Ele foi importante, por termos voltado a ter espaço na mídia. Contamos com a participação de Ivete Sangalo, Dinho Ouro Preto, Alexandre Carlo, Marcão (ex-Charlie Brown Jr.) e do meu filho Rick Campos. As gravações foram no Teatro Positivo, em Curitiba.
Quem teve a ideia de convidar o baterista Fred para participar da turnê dos 25 anos?
O Denis Porto, nosso empresário, é que teve a ideia da turnê e de convidar o Fred, que acolhemos com entusiasmo. Além de voltarmos a conviver com ele na estrada, é um charme ter no palco dois bateristas: ele e o Caio.
O que vem depois da turnê comemorativa?
Temos shows agendados até dezembro. O Denis está negociando uma turnê pelo Japão, em junho. Em setembro, vamos participar do Rock in Rio, dividindo o palco com o CPM 22. Vai ser na mesma noite que tem o Foo Figthers com headliner.