Um dos protagonistas da Bossa Nova, o compositor, multi-instrumentista, cantor e produtor, Roberto Menescal teve a sua importante contribuição para a música popular brasileira, ao longo de quase 60 anos de carreira, reconhecida pela Academia do Grammy Latino, que lhe atribuiu o Prêmio Excelência Musical.
Em plena maturidade, o artista capixaba-carioca autor de 400 canções, com 31 discos lançados ; entre LPS e CDs ; e 11 DVDs lançados, ao fazer um breve balanço de sua trajetória, diz: ;Consertando uma coisinha ou outra, acho que faria tudo o que fiz, de novo. Aproveitei bem todas as oportunidades que surgiram, mas sigo olhando pra a frente, pois são muitos os projetos com os quais estou envolvido;, diz.
Durante a temporada de 2018, ele empreendeu uma turnê pelo país com o show Dia de luz, festa e sol ; Menescal e a Bossa Nova, que teve a participação de vários convidados. O projeto deu origem ao CD e DVD Roberto Menescal 80 Anos, que registram encontros memoráveis com companheiros de longa data, como Marcos Valle, Wanda Sá, Joyce Moreno, Leny Andrade, Danilo Caymmi.
Há também a presença de artistas de outras gerações, entre eles, Ney Matogrosso, Lenine, Zé Renato, Jorge Vecillo, Paulinho Moska, Zélia Duncan, Leila Pinheiro, Fernanda Takai, Cris Delano, Verônica Sabino, Marcos Nimrichter e o Quarteto do Rio. Eles são intérpretes de canções de Menescal, em parceria com Ronaldo Bôscoli ; a maioria ;, Chico Buarque, Paulo Sérgio Valle, Lula Freire, Aldir Blanc e Rosália de Souza.
;Aos que vieram me perguntar como gostaria que a música fosse gravada, disse que as canções eram minhas e dos meus parceiros, mas que eles tinham toda liberdade para interpretá-las a seu modo;
Roberto Menescal, cantor e compositor
À véspera da estreia do programa semanal Papo com Menesca a ser veiculado na internet, esse mestre da MPB conversou com o Correio, e falou sobre o novo CD e DVD, projetos em desenvolvimento e a felicidade de, ao completar oito décadas de existência, manter-se produtivo e em plena atividade.
Roberto Menescal 80 Anos
CD e DVD com 17 faixas e a participação de diversos artistas. Lançamento MPB/Som Livre. Preço sugerido: R$ 29,90 (CD) e R$ 40 (DVD).
Entrevista // Roberto Menescal
Fazer o registro da turnê comemorativa dos 80 anos em CD e DVD foi uma ideia sua?
Logo depois de começar a turnê, pensei na possibilidade de ter esse registro, mas quem viabilizou a gravação do CD e do DVD foram o João Mário, do selo MPB e o Paulo Mendonça, do Canal Brasil. Participei de uma reunião com eles e definimos como s coisas ocorreriam. Sugeri nomes de vários cantores, com quem havia trabalhado. Deixei a cargo dos cantores a escolha da música que gravaram.
A eles foi feita alguma recomendação?
Aos que vieram me perguntar como gostaria que a música fosse gravada, disse que as canções eram minhas e dos meus parceiros, mas que eles tinham toda liberdade para interpretá-las a seu modo.
Como foi a sua participação no projeto?
Fiz a direção musical com o tecladista Marcos Nimrichter, criei os arranjos e toquei violão e guitarra em todas as faixas. Entre os participantes, há amigos seus de loga data.
Qual o sentimento de tê-los novamente juntos com você?
Contar com Marcos Valle, Wanda Sá, Leny Andrade nessa comemoração me levou a recordar dos bons momentos que vivemos na época da Bossa Nova e em outros tempos. E, claro, tive uma alegria imensa de tê-los mais uma vez ao meu lado.
Nara, canção gravada por Joyce Moreno, é de que fase?
Sou amigo da Joyce desde que ela tinha 16 anos e gravou seu primeiro disco, do qual participei. Em 2011, fomos fazer show no Japão e produtor quis saber se tínhamos alguma música nova para mostrar. Como não tinham compusemos Nara, que Joyce cantou no show. Agora, ela gravou nesse trabalho.
Leny Andrade, que também marca presença no Roberto Menescal 80 Anos é sua contemporânea. Quando e como a conheceu?
Conheci Leny quando ela era bem jovem. Fui eu quem a lancei na carreira artística. Agora nos reencontramos e ela gravou lindamente, Rio, uma das músicas que mais gosta de cantar.
Fazem parte desse grupo de cantores que o homenageia Wanda Sá, Marcos Valle e Danilo Caymmi. São outros velhos amigos?
Com certeza. Wanda e Marcos são da segunda geração da Bossa Nova. Produzi Vagamente, o LP de estreia de Wanda. Com o Marcos até hoje temos fazemos shows e gravações juntos. No projeto, Wanda gravou Telefone, que foi um grande sucesso com Doris Monteiro, e o
Marcos Errinho à toa. Já Danilo, de quem me tornei amigo depois, empresta seu vozeirão para Bye, bye, Brasil, minha única parceria com Chico Buarque.
Vagamente, gravada originalmente por Wanda Sá, agora é cantada por Zé Renato. Gostou da nova versão?
O Zé Renato é um grande cantar, dono de uma bela voz. Vim a conhecê-lo em 1980, quando era diretor artístico da Philips e relançamos pela gravadora o disco de estreia do Boca Livre, lançado de forma independente.
Se surpreendeu com a interpretação do Ney Matogrosso para Nós e o mar?
De maneira nenhuma. O Ney é um intérprete extraordinário e escolheu uma canção do período em que o mar estava presente em minhas composições. Magistralmente, ele fez uma bossa lenta que ficou linda, mesmo estando com um problema de voz, decorrente dos muitos shows que vinha apresentando em turnê.
Os Cariocas, que era tido como o grupo da Bossa Nova, gravou muitas composições suas. Depois que o Severino partiu, os integrantes do conjunto formaram o Quarteto do Rio. Quis homenagear o Severino, por meio deles?
Fui homenageado pelo Quarteto no Mr Bossa Nova, o primeiro disco do grupo. Discípulos de Severino Filho, a quem homenageio, eles são músicos e cantores de qualidade. Voltaram a mostrar isso na gravação de Você me ganhou.
Zélia Duncan e Paulinho Moska fazem duo em o Você, um dos clássicos de sua obra. Gostou da performance deles?
Foi a Zélia quem chamou o Moska para cantar Você com ela. Cada um com seu estilo, fizeram um bonito dueto.
Agora, depois desse lançamento, que projetos tem agendado?
São muitos. Começo pelo Papo com Menesca, programa semanal (a estreia foi na quinta-feira passada) de conversa e música, com a participação de convidados, que apresento na Sociedade Abramus, veiculado na internet.
Quais são os outros?
Vou lançar com o grupo Bossa Cuca Nova, pelo selo Deck Disck, um álbum de bossa e blues, intitulado Bossa Ghot; um outro disco com Malu Rodrigues, uma nova cantora, que conheci no musical Cole Porter Ele nunca disse que me amava, no Teatro Net, aqui no Rio; e o Cazuza em bossa, que estou gavando com Leila Pinheiro e o Rodrigo Santos, baixista do Barão Vermelho. E ainda tem o show Os Bossa Nova, com João Donato, Carlos Lyra e Marcos Valle, que volta a ser apresentado em breve.