Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Em entrevista, Nando Reis fala sobre o processo criativo

O cantor e compositor Nando Reis volta a Brasília com show intimista

Desde que deixou os Titãs, há 18 anos, Nando Reis se impôs uma atividade incessante, como cantor, compositor e arranjador e produtor. Ininterruptamente, tem gravado discos, feito shows e participado de projetos diversos. Em novembro último, logo depois do encerramento da turnê de Trinca, concerto em que dividiu o palco com Gilberto Gil e Gal Costa, ele voltou a botar o pé na estrada com uma espécie de recital de voz e violão que lhe possibilita revisitar sua obra, num clima bem intimista.

Esse recital, que estreou em São Paulo e já passou por outras oito capitais, permite a Nando revisitar sua obra e de lá trazer para o palco os hits All Star, Diariamente, Espatódea, O Segundo Sol, Por onde andei, Relicário, em versões acústicas ; exatamente como foram concebidas. O formato lhe permite entremear blocos de músicas com um ou outro comentário sobre o processo criativo e fatos que marcaram sua trajetória.

Embora o set list anunciado não traga nenhuma canção do novo CD, em entrevista ao Correio, ele disse que já canta algumas delas. O certo mesmo é que Amada amante, o primeiro single, será ouvida pelo público. O cantor vê esse clássico do Rei como "um marco do cancioneiro romântico nacional" e, certamente por isso, decidiu manter o arranjo da gravação original de 1971.

Autorização do Rei

Para ajudá-lo a fazer a seleção do repertório, Nando convidou Marcus Preto, com quem havia trabalhado no projeto Trinca. A escolha recaiu sobre composições de Roberto que abrangem o período de 1971 (Todos estão surdos) a 1994 (Alô). Há sucessos como A distância, A guerra dos meninos; e as, digamos, Lado B Procura-se e Você em minha vida.

A lista pré-selecionada para aprovação de Roberto Carlos recebeu apenas duas negativas: Detalhes e De tanto amor. Às escritas por Roberto se juntaram as de outros autores, interpretadas por ele, entre as quais Me conte sua história (Maurício Douboc e Carlos Colla), Nosso amor (Mauro Motta e Eduardo Ribeiro) e Vivendo por viver (Márcio Greyck e Cobel).

Gravado no segundo semestre de 2018, no estúdio Space Blues, em São Paulo, Não sou nenhum Roberto, mas às vezes chego perto contou com a participação da banda formada por Guilherme Monteiro (guitarra), Lucas Martins (baixo), Maurício Fleury (teclados) e Pupilo (bateria), e dos convidados especiais Edgard Scandurra (guitarra), Léo Mendes (violão, Alex Veley (teclados) e Leonardo Matumona (vocais) e Jorge Mautner (voz). Nando toca violão em todas as faixas.

Você sempre se apresentou acompanhado pela banda Os Infernais. Nesta turnê, que o traz de volta a Brasília, faz um show solo de voz e violão. O que esse formato lhe traz de ganho?

São dois shows completamente diferentes, na sonoridade e no propósito. O Voz e Violão é crueza e concentração.

Poder interagir com público, falando de fatos que foram marcantes em sua carreira, é algo que o show solo lhe proporciona?

Sim. A relação com a plateia acaba sendo muito mais direta, pelo fato de eu estar sozinho no palco.

O nome do show é o mesmo do álbum de 2015. O repertório é igual ou houve alteração?

É bastante diferente, embora haja músicas daquele disco.

No processo de composição, o violão é o instrumento que utiliza?

É assim que componho.

Há canções de sua autoria que não podem ficar de fora do seu set list?

Algumas: All Star, O Segundo Sol, Por onde andei, Relicário estão sempre presentes.

Cantar aqui, cidade onde Cássia Eller, sua amiga, iniciou a carreira, lhe traz uma motivação a mais?

Gosto muito de tocar em Brasília. Um dos shows mais emocionantes que já fiz foi num shopping da capital, logo após a morte da Cássia.

No Voz e Violão cabe uma palhinha de Amada amante, o primeiro single do Não sou nenhum Roberto, mas às vezes chego perto, do seu novo álbum?

Venho tocando muitas do Roberto nessa turnê.

O título desse novo trabalho tem a ver com hitmaker que você se transformou?

O título é sugestivo e lúdico. Se presta a muitas interpretações.

Antes da gravação desse disco, que relação tinha com a obra do Roberto?

Ele é um artista extraordinário. Cantor primoroso e compositor genial. Qualquer pessoa que goste de música sabe disso.

Qual foi seu critério para a escolha das canções do Não sou nenhum Roberto...?

Tentei fugir das músicas mais regravadas e cantar aquelas que me emocionam.

Por que usou vocalize para gravar Nossa Senhora?

Porque, para mim, a melodia é uma divindade. E a melodia dessa canção é sublime. Não é preciso ser religioso para ter devoção. Sou devoto da beleza. E quis aproximar dois gênios de quem sou devoto: Roberto Carlos e João Gilberto.

Vivendo por viver, do Márcio Greyck, já era uma velha conhecida sua?

Já. O disco de 1978 do Roberto é um marco em minha vida. É uma obra-prima.

Criar arranjos para as canções do Roberto foi a parte mais árida dessa homenagem?

A mais difícil e a mais desafiadora. E também a mais prazerosa. Acho esse disco um primor.

Que contribuição Pupillo e Marcus Preto trouxeram para o projeto?

Fundamental. Sem os dois esse disco não existiria. Eles são geniais.