Diversão e Arte

Morre Beth Carvalho: cantora estava internada desde o início do ano

Beth Carvalho sofria de problemas na coluna e chegou a cantar deitada em 2018

Agência Estado
postado em 30/04/2019 18:17
Cantora estava debilitada da coluna
Internada no Hospital Pró-Cardíaco no Rio de Janeiro, desde o início do ano, a cantora Beth Carvalho morreu nesta terça-feira (30/4), aos 72 anos.

Há mais de uma década a cantora vinha apresentando problemas de coluna e chegou a cancelar shows por causa do problema. Em 2012, ela passou por uma cirurgia de coluna e, no ano passado, chegou a cantar deitada em um show durante o qual foi acompanhada pelo grupo Fundo de Quintal.

Na adolescência, cantava bossa nova e outros ritmos em festas e, para ajudar a família, após o pai ser perseguido na ditadura por seus pensamentos de esquerda, ela passou a dar aulas de violão. Não por acaso, herdou do pai a postura engajada por toda a vida.

Gravou o primeiro compacto em 1965, com a canção Por quem morreu de amor, de Roberto Menescal e Ronaldo Bôscoli. Nos anos seguintes, seguiu a trilha dos festivais e emendou outros sucessos na sua voz, como o hino Vou festejar, e eternizou Coisinha do pai.

Na década de 1970, foi ao encontro dos mestres, ao gravar Folhas secas, com Nelson Cavaquinho, e As rosas não falam, de Cartola. Dois momentos sublimes em sua carreira.

Ficou conhecida também sua presença assídua na quadra Cacique de Ramos, onde Beth identificava talentos no samba e os revelava, como aconteceu com nomes como Fundo de Quintal, Zeca Pagodinho, Almir Guineto, Sombra, Sombrinha, Arlindo Cruz, Jorge Aragão, entre tantos outros. Daí a alcunha de ;madrinha do samba;. "Quem levou Beth Carvalho pro Cacique foi o Alcir Portela, que era jogador naquela época. Ela se apaixonou pelo samba tocado embaixo da Tamarineira. Gostou tanto que resolveu gravar com a gente em estúdio, no formato da nossa roda de samba", contou, em seu site, o cantor, compositor e percussionista Bira Presidente, integrante do Fundo de Quinta.


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Beth Carvalho não renegava o posto de madrinha, da grande matriarca, mas preferia não ter essa função. Gostaria que os talentos tivessem outros tipos de incentivo e oportunidades para se expor. "Não é meu papel, mas sou assim, gosto de mostrar o que há de bom", disse, certa vez, em entrevista ao Estado.

Mangueirense de coração, foi homenageada por outras escolas de samba: foi tema de enredo da Escola de Samba Unidos do Cabuçú, Beth Carvalho, a enamorada do samba, em 1984, e recebeu da Velha Guarda da Portela uma placa comemorativa por ela ter sido a cantora que mais gravou seus compositores.

Em 2009, no Grammy Latino, ganhou o prêmio Lifetime Achievement Awards, em celebração à sua carreira. No mesmo ano, precisou fazer uma pausa por causa de uma fissura na região sacra, que a obrigou a ficar em repouso total. Voltou aos palcos no dia 19 de fevereiro de 2011, no show de encerramento do evento Sesc Rio Noites Cariocas. Poucos meses depois, em abril, a cantora se apresentou em São Paulo e, na ocasião, disse ao Estado que havia se surpreendido consigo mesma após passar 1 ano e meio convalescendo em cima de uma cama. "Tive paciência de Jó. Contei com o apoio dos amigos e da família. Toda hora tinha pagode em casa", contou ela, à época.

Apesar de a cantora se manter na estrada, suas condições físicas foram piorando. Em 2018, fez apresentações deitada. Por causa das dores, não conseguia ficar sentada. E emocionou as plateias. No final do ano passado, foi morar com a filha, a cantora e compositora Luana Carvalho, fruto de seu relacionamento com o jogador Édson de Souza Barbosa, mais conhecido como Édson Cegonha.

Na época do lançamento de seu trabalho de estreia, o disco duplo Sul e Branco, em 2017, Luana não negou que seu maior desafio talvez estivesse relacionado ao fato de ser filha de Beth Carvalho. Ter como mãe uma grande intérprete como ela lhe deu menos direito ao anonimato, tampouco licença para se lançar crua na carreira musical. "Para eu aparecer com as minhas canções, sendo filha de uma pessoa que já tem um trabalho muito conhecido, talvez o mais delicado seja o quanto você precisa chegar com um senso estético já muito bem apurado, com uma proposta um pouco mais concreta, mas afinal são muitas vantagens também", disse Luana.

Beth Carvalho estava internada desde o dia 8 de janeiro, no Hospital Pró-Cardíaco, em Botafogo, no Rio, onde recebeu amigos para uma animada roda de samba. Ela tinha mais de 50 anos de carreira e uma discografia de 33 discos e 4 DVDs - e muitos prêmios, homenagens e troféus conquistados ao longo de toda uma vida dedicada ao samba.

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