Nahima Maciel
postado em 17/04/2019 06:00
A importância das bibliotecas e da leitura em momentos de crise guiaram a escolha de Maurício Melo Júnior, curador da 35; Feira do Livro de Brasília, que tem início em 6 de junho. Na programação estão alguns dos autores mais importantes da literatura brasileira. ;A ideia era fazer uma feira que buscasse a discussão sobre a biblioteca, a importância do livro nesse momento conturbado, porque a literatura, como sempre, vem vivendo momentos de crise. A ideia era debater essa crise e ver como esse mercado pode subsistir com essas novas configurações de mídia;, avisa Maurício.
Oficinas de poesia, café literário, aulas em forma de espetáculos e shows de Arnaldo Antunes e Francis Hime fazem parte da programação que vai discutir temas contemporâneos como a literatura nas redes sociais e os blogs literários, e temas tradicionais, como o papel da crítica. Autores de todos os gêneros literários e de diferentes gerações integram a programação.
O papel da biblioteca na vida do leitor é um dos temas centrais desta edição da feira, que este ano deixa de ser realizada no Pátio Brasil Shopping e passa para a Biblioteca Nacional, além da praça do Complexo Cultural da República. ;As bibliotecas se renovaram muito. Elas deixaram de ser aquele espaço que guarda impressos e livros. Os debates literários estão na biblioteca, os saraus, também; elas se tornaram um espaço dinâmico;, explica Maurício. Rogério Pereira, diretor da Biblioteca Pública do Paraná, vem falar sobre a experiência que transformou o espaço e fez com que passasse a receber três mil pessoas diariamente.
Otávio Jr. está montando novas bibliotecas no Complexo do Alemão e também vai falar sobre a experiência, e José Eduardo Agualusa foi convidado para discutir como a biblioteca influenciou sua produção literária. Conceição Moreira Salles, durante anos diretora da Biblioteca Demonstrativa de Brasília, é a homenageada da feira e considerada pelos organizadores como uma figura que inovou ao trazer novas atividades para o espaço.
Oficinas criativas
A construção de um escritor também é um dos temas dos debates. Maurício lembra que, nos últimos anos, muitos cursos de escrita criativa se consolidaram no país e hoje vale se perguntar se é possível formar um escritor. Para isso, ele convidou Luiz Antonio de Assis Brasil, professor de uma das primeiras oficinas de escrita criativa do Brasil. Ele divide a mesa com Suzana Vargas e Sidney Rocha. ;Luiz Antonio tem uma experiência vastíssima. Achei fundamental a presença dele. E queria buscar também outros pontos, no caso da Suzana Vargas, que tem a Estação das Letras, no Rio, e que vem fazendo esse trabalho de ensino da escrita criativa, e a experiência inovadora que o Sidney Rocha está fazendo no Recife, que é um outro público;, diz o curador.
As biografias estão entre os destaques da 35; edição da feira. ;É um assunto que sempre foi polêmico, um tipo de literatura instigante e difícil de ser feita;, justifica Maurício. O compositor Francis Hime, a jornalista Josélia Aguiar, diretora da Biblioteca Mario de Andrade (São Paulo) e autora de Jorge Amado ; Uma biografia, e o escritor Ignácio de Loyola Brandão participam do debate Para falar de outras vidas.
A palestra de abertura, A importância dos livros, fica por conta de Renato Janine Ribeiro, e a programação traz ainda shows todos os dias. Veja quais são os destaques da 35; Feira do Livro de Brasília.
35; Feira do Livro de Brasília
De 6 a 16 de junho, no Complexo Cultural da República
Programação
Novas leituras da história
; A historiadora Lilia Schwarcz vai falar sobre como lidar com a história e torná-la palatável a todo tipo de leitor sem perder o rigor acadêmico. Lilia é autora de livros como A viagem da biblioteca dos reis, As barbas do imperador e Brasil: uma biografia.
A poesia na rede
; Conhecido como Akapoeta e autor de O livro dos ressignificados, que vendeu mais de 60 mil cópias, João Doederlein divide a mesa com Mailson Furtado, ganhador do Jabuti em 2018, e Fabrício Carpinejar para falar de como fazer poesia na internet.
O fato e a fabulação: leitura histórica da ficção
; Mary Del Priore, uma das historiadoras que mais publica no Brasil, Alberto Mussa, que tem a história como base para a construção de romances, e Lúcia Bettencourt dividem o debate sobre os limites entre história e ficção.
Novas vozes, novos espaços
; Com o livro de contos O sol na cabeça, Geovani Martins ficou conhecido no ano passado como a nova voz da periferia na literatura brasileira. Ele terá como companheiros de debate Marcelo Moutinho e Lima Trindade.
Poética da canção
; Os limites entre a canção, a poesia e a literatura estão na mesa de discussão de Antonio Carlos Secchin, Clodo Ferreira e Arnaldo Antunes.
Palavra de mulher
; Literatura feminina ou literatura feita por mulheres? Márcia Denner, Ana Miranda e Deborah Dornelles vão debater o tema.
Edições pós-crise ; Fora dos eixos
; Os editores André Conti e Eduardo Lacerda e o escritor João Anzanello Carrascozza discutem os rumos do mercado editorial em meio às crises financeiras e culturais.