Irlam Rocha Lima
postado em 13/04/2019 07:00
Marco na história da música popular brasileira, o Clube da Esquina, movimento deflagrado em Belo Horizonte no começo da década de 1970, teve como principal pilar Milton Nascimento, cantor e compositor carioca, criado em Três Pontas, no interior de Minas Gerais. À época, ele e Lô Borges produziram o álbum homônimo, com canções que fundiam elementos de estilos diversos ; da bossa nova ao jazz, do folclore mineiro ao rock britânico dos Beatles.
Clube da esquina foi o nome dado também a um segundo disco, lançado em 1978, com a participação dos criadores do movimento e de artistas originários de outros segmentos. Mais de quatro décadas depois, Milton volta a esse fundamental legado com um show que chega a Brasília, para apresentação hoje, às 21h, no auditório master do Centro de Convenções Ulysses Guimarães.
;Meu filho, Augusto Nascimento, diretor artístico do projeto, foi quem teve a ideia de juntar o repertório dos dois discos neste espetáculo, o que me trouxe muita alegria;, disse Milton ao Correio. No palco, ele tem a companhia de Wilson Lopes (guitarra, violão e direção musical), Beto Lopes (guitarra e violão), Alexandre Ito (baixo), Kiko Continentino (piano), Lincoln Cheib (bateria), Ronaldo Silva (percussão) e Widor Santiago (sax e flauta). Zé Ibarra, vocalista da banda carioca Dônica, faz participação especial. O cenário tem a assinatura dos grafiteiros paulistas Os Gêmeos.
Parceiro de Milton em Cais, Nada será como antes e Cravo e canela, do Clube da Esquina 1, Ronaldo Bastos vê com grande satisfação o cantor voltar a interpretar essas canções clássicas. ;O Milton é um gigante da música brasileira, cuja obra é reverenciada em várias partes do mundo. Tomei conhecimento do trabalho dele, ouvindo Canção do sal, na interpretação de Elis Regina. Não imaginava que logo depois viria a tê-lo como parceiro. Foi um grande privilégio. É algo que ficará marcado para sempre em minha vida;, comemora.
Zé Ibarra, o jovem vocalista da Dônica, conta que conheceu Milton em 2015. ;Paula Lavigne fez a ponte entre nós, e ele se tornou padrinho simbólico da banda, tendo inclusive participado do nosso primeiro disco, na música Pintor;, destaca. ;Fui pego de surpresa quando ele me convidou para participar do show. Faço backing vocal, toco viola e percussão e tenho três solos em San Vicente, Trem doido e Estrela;, adianta.
Particpação brasiliense
Não é de hoje que músicos originários da capital são disputados por artistas consagrados da MPB. Um exemplo é o saxofonista Widor Santiago que, após se destacar em conjuntos de baile brasilienses, na década de 1970, transferiu-se para o Rio de Janeiro, onde passou a tocar com Erasmo Carlos.
Há 11 anos, Widor integra a banda de Milton Nascimento. Antes, porém, esteve ao lado de Cazuza, Djavan, Emílio Santiago e João Bosco e até de Airto Moreira e Flora Purim, em turnês pelos Estados Unidos e Europa. Paralelamente, o instrumentista desenvolve também projetos solo.
;Embora a minha iniciação musical tenha sido em Anápolis (GO), onde nasci, foi em Brasília que me profissionalizei, tocando nos conjuntos Raulino & Cia e Brasília Som 7, na década de 1970. Em seguida, entre 1982 e 1984, fiz parte da Banda do Corpo de Bombeiros do DF;, lembra.
Ao chegar ao Rio, o primeiro lugar em que tocou foi no mítico e já extinto Café Nice.;Após sair daquele tradicional café e uisqueria, me juntei à banda de Erasmo Carlos, na qual fiquei por dois anos. Depois, acompanhei vários outros cantores, tanto em show quanto em estúdio. Formei, por exemplo, a banda do Cazuza no show O tempo não para, no Canecão;, lembra.
De 1997 a 2001, Widor morou nos EUA, entre Nova York e Miami. ;Essas cidades serviram de base para as frequentes turnês que fiz por mais de 30 países, no circuito do jazz, acompanhando Airto Moreira e Flora Purim, atuando como solista da banda Fourth World. Foi uma experiência enriquecedora, que trouxe acréscimo ao meu trabalho;, destaca.
Já com a banda BR Plus, trabalhou para a Rede Globo, gravando, como saxofonista e flautista, inúmeras trilhas. ;Lancei dois discos solo, A rosa, em 2002, com músicas ritmadas, classificadas como brazilian jazz, que teve a participação de Flora Puri; e o Espiritual feeling, em 2012;, conta.
Mesmo com uma longa trajetória musical, a maior parte dela ao lado de grandes nomes da MPB, Widor deixa claro que fazer parte da trupe de Milton Nascimento é algo que transcende. ;Para mim, é um privilégio conviver com um artista da importância de Milton, celebrado nacional e internacionalmente, e ter ao meu lado músicos talentosíssimos, que são meus companheiros na banda;. (IRL)
Clube da Esquina
Show de Milton Nascimento e banda, hoje, às 21h, no auditório master do Centro de Convenções Ulysses Guimarães (Eixo Monumental). Ingressos: R$ 90 (poltrona superior), R$ 120 (poltrona especial), R$ 150 (poltrona vip), R$ 190 (poltrona golden), R$ 250 (poltrona premium) e R$ 1.500 (lounge/ sofá de quatro lugares). Valores referentes a meia entrada. Não recomendado para menores de 12 anos.