Diversão e Arte

Transa, álbum célebre, é revisitado aos moldes de jam session

Saxofonista Esdras Nogueira dá nova roupagem à obra de Caetano Veloso

Devana Babu*
postado em 09/04/2019 06:57
Esdras Nogueira faz revisão de obra densa de Caetano Veloso

Em janeiro de 1972, exilado em Londres, Caetano Veloso lançou o álbum Transa. Hoje, à 0h, o saxofonista Esdras Nogueira lançou seu quarto álbum solo, Transe, uma releitura instrumental do antológico disco de Caetano. Ao lado de Marcus Moraes (guitarra), Rodrigo Balduino (baixo) e Thiago Cunha (bateria), o músico revisita a história e o legado de um disco clássico, trazendo, em linguagem moderna, o frescor e a liberdade de uma jam session.

Esse efeito, contudo, só foi obtido à base de muito ensaio. ;Eu nunca fiz um disco com tanto ensaio, tanto arranjo, e atento a tantos detalhes;, conta o músico, e revela que o quarteto, batizado de Esdras Nogueira Grupo, vem ensaiando semanalmente desde o começo do ano passado. ;Talvez por isso mesmo soe tão fluído;, considera, e comemora o resultado.

Recriar obras de outros artistas é marca registrada da obra de Esdras Nogueira. Seu primeiro álbum solo, Capivara, trazia novos arranjos para obras de Hermeto Pascoal. Com o projeto Procurando Rei Zula, gravou o inusitado Jamaiquianas, em que traduzia as Bachianas Brasileiras, de Heitor Villa-Lobos, para o ritmo do ska. ;Eu gosto de fazer música, gosto de compor, mas eu adoro fazer essas homenagens. A música tem o poder de tocar a gente da forma que a gente não entende, né? É isso que esses compositores, que eu adoro, fazem comigo, e vários outros, que eu ainda quero homenagear. Eles mexem com a minha cabeça, com meus sentimentos, influenciam meu jeito de pensar tocar, e viver as coisas;, reflete.

Esdras ainda não sabia qual seria seu próximo disco quando um amigo, do nada, lhe sugeriu fazer uma releitura de Transa. ;No começo, eu não levei muito a sério porque achava que o disco não servia para ter uma roupagem instrumental;, lembra. Com o tempo, porém, ;o disco foi batendo, batendo, aí bateu;. Quando bateu também nos demais membros do grupo, os arranjos foram ganhando forma e unidade até chegar ao formato que você ouve a partir de hoje pelas plataformas de streaming. ;A gente está felizão;, diz o músico.

A escolha do álbum, contudo, não foi apenas subjetiva. O disco de 2019 traz para a atualidade a carga de significado da obra original, traçando um paralelo entre os dois períodos políticos. E o design-ativista Raphael Bagga, responsável pela capa, não deixou por menos. Em um primoroso trabalho, fruto de uma cuidadosa pesquisa, modernizou o design emblemático da capa, mantendo a mensagem política e acrescentando elementos tipicamente brasilienses, como a brise, que, para ele, representa a resistência. ;Este trabalho me fez traçar a linha do tempo política do lançamento do Transa ao Transe. Foi um desafio criar a capa de um disco tão aclamado e de design simples e icônico;, destrincha. As referências viajam do tropicalismo baiano ao modernismo candango, da fria Londres às cores de Rothko, da força de Pedro Escosteguy aos parangolés de Oiticica, diz ele, e aclama o álbum como um ;lugar cativo para o ativismo contra os retrocessos e malfeitos de governos, seja em 1972, seja em 2019;.

*Estagiário sob a supervisão de Severino Francisco

Transe

Já se encontra disponível nas plataformas de streaming

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