O nome de batismo é Francisco Igor Almeida dos Santos, mas talvez você o conheça sob a alcunha de Rapadura, um dos grandes nomes do rap nacional e radicado na capital federal. Recentemente, o rapper, que sempre trabalhou de forma independente, lançou o single Quebra queixo, uma parceria com o Selo Matilha, responsável por resgatar e lançar artistas importantes, como é o caso de Criolo e Sombra.
“Nossa parceria surgiu da boca das pessoas, nem imaginávamos que conheceríamos o Rapadura. Até que ele foi tocar lá na Matilha Cultural. Lá, começou a parceria mesmo sem a gente saber que ele ia ser do Selo. Surgiu a parceria porque vimos verdade no trabalho dele, acreditamos muito nas referências, nos valores que ele traz na música dele. Ele traz a essência do povo brasileiro”, diz Zulu, produtor executivo do Selo Matilha.
Zulu acredita que Rapadura é uma engrenagem da cultura no país. “A gente tem um carinho por ele, pelo que ele escreve, pelo que ele representa na música. Estamos orgulhosos de podermos apoiar um artista do gabarito do Rapadura, que tem muito a dizer e acrescentar para a história na música brasileira”, conta.
Foram 21 anos de forma independente, com recursos precários, utilizando somente a criatividade. Agora, com a Matilha, o rapper tem mais estrutura. “Eu sempre trabalhei com sampler e computador, e agora estou trabalhando em um bom estúdio, com instrumentos. A Matilha está viabilizando tudo isso, que era um sonho meu”, revela Rapadura. “Só tenho a agradecer ao Selo Matilha por todo o apoio e estrutura que estão me dando e por acreditarem no meu trabalho”. O single Quebra queixo foi o primeiro passo, pois o artista e o selo estão trabalhando em um álbum completo de Rapadura que deve sair ainda este ano.
Rapadura traz uma riqueza e toda a bagagem do povo de onde ele origina. Nascido no bairro Lagoa Seca, em Fortaleza, Ceará, o rapper não se esquece das raízes. Ele une o estilo musical às tradições nordestinas, tornando-se um dos expoentes da região. Afinal, o repente nordestino é umas das grandes influências do rap nacional. “Eu vejo o repente como nosso rap brasileiro, e, na realidade, o repente é do século 19, muito anterior ao hip-hop. Essa mistura aproxima a linguagem urbana e a do campo em um mesmo universo”, diz Rapadura. “Eu conheci um repentista chamado Chico de Assis, e percebi que havia uma barreira entre o rap e o repente. Os repentistas não consideravam o rap música por não haver melodia. Depois de um tempo, andando com os repentistas, mostrava algumas composições, eles perceberam que tinha muito a ver [os estilos], a forma de falar sobre a situação crítica do país, sobre nosso povo”, conta.
Com 13 anos, o rapper veio para a capital federal com a família no final da década de 1990, e foi em Planaltina que ele conheceu o universo do hip-hop. “Planaltina era uma cidade muito violenta na época, e conheci o hip-hop nesse meio difícil. Era nossa única forma de lazer em meio a tanta violência. O hip-hop salvou muitas vidas, foi a luz no fim do túnel para muita gente nesta época, inclusive para mim”, lembra. “Eu iniciei através do break, dançando. Dançava ao som de rap e achava incrível a maneira que eles se expressavam na rimas, como falavam do dia a dia e das dificuldades. Então, comecei a escrever e deixei o break um pouco de lado e me encontrei”.
Quando participou como backing vocal do Provérbio X, um dos grandes expoentes do rap nacional, conheceu e se interessou por Rapadura. Este era G.O.G, que chamou o rapper para ser backing vocal dele para viajar junto com ele pelo país. “Aprendi muito com o G.O.G, ficamos muito amigos, vivia na casa dele, ele na minha. Essa convivência com um dos maiores poetas me ensinou muito sobre a vida, sobre a poesia e as duas misturadas”, conta o rapper.
Foi parar na Europa, em 2013, representar o país em Portugal. “Foi uma experiência única, eu nem tinha noção que conheciam meu trabalho lá. O carinho das pessoas, como elas me aguardavam”. Retornou ao continente em 2014 também, e participou do Hip-hop camp, um dos maiores eventos de rap do mundo. “É como se fosse o Rock in Rio do rap”, diz. Fez apresentações na França, Inglaterra, Áustria e Suíça. Ganhou diversos prêmios, destaque para o Leão de Bronze em Cannes, em 2017.
Além do disco com a Matilha Cultural, Rapadura é um dos que movimenta a cena do rap de Brasília e nacional e está com um projeto chamado Safra Ouro, que reúne mais de 50 MC’s do DF e Entorno, e promete ser um projeto inovador. Até julho deste ano o projeto deve estar na rua.
*Estagiário sob a supervisão de Severino Francisco