O espetáculo Ovo está em turnê pelo Brasil e estreou, em Brasília na última sexta-feira. A autoria, direção e coreografia de Deborah Colker guiam o tom brasileiro da obra. Além do título em português, o show guarda outros traços tupiniquins, como as músicas, embaladas por ritmos regionais tais quais o samba, carimbó, maracatu e funk. Tudo realizado ao vivo por músicos brazucas. No entanto, o protagonismo brasileiro vai além, esteja ele diante dos holofotes ou não.
Ladybug
Ovo conta a história de uma colônia de insetos. Eles estão em harmonia até a chegada de um forasteiro ao local. Não bastasse o jeitão atabalhoado do novato, ele ; uma mosca ; se apaixona pela Ladybug, interpretada pela capixaba Neiva Nascimento. A atriz é a primeira brasileira a ocupar o posto de personagem principal no Cirque e, além de envolver o pretendente, ela também encanta o público com suas tiradas bem-humoradas e postura empoderada.
Filha de artistas, Neiva deu os primeiros passos no circo quando ainda era criança. É formada pela Escola Nacional de Circo e já esteve em algumas caravanas. Ela está em Ovo há cinco anos e se apresentou em 14 países. Um sonho que demorou uma década para se realizar. ;Eu fazia um trabalho social em uma ONG, até que o Cirque chegou para realizar audições em 2004. Foi lá que eles me conheceram, mas não passei. Porém, em 2014, 10 anos depois, eles me ligaram para esse papel;, recorda.
;Quando entro no palco, eu entro me entregando. Passando toda a energia que nós brasileiros temos de sobra. Os próprios estrangeiros, meus colegas, ficam parados me olhando e querendo saber da onde vem tudo isso. A força vem da gente mesmo, temos problemas, mas eles não dominam a gente. Brasileiro sempre tenta mostrar que está feliz;, se orgulha Neiva, em sua primeira apresentação em casa. ;É diferente de todos os lugares que eu já estive;, revela.
Líder nos bastidores
Já imaginou estar à frente de todo o treinamento físico e técnico dos artistas? É preciso considerar que são habilidades distintas como acrobacias, equilibrismo e contorcionismo. Soma-se a isso que o grupo é formado por 50 pessoas de 25 países. A faixa etária também é variada. Parece complicado, né? A tarefa requer, além do conhecimento técnico dos números, habilidades sociais para manter o grupo em paz. O responsável por essa engenharia humana é o paulistano Emerson Neves.
;Eu comecei no Cirque em 2006. Fui atleta de saltos ornamentais, fiz treinamento para um show e fui artista do espetáculo Saltimbanco. Depois, passei a ser treinador, tive uma experiência fora daqui e retornei para o Ovo há três anos. Minha vontade era continuar como artista, mas a idade e as lesões chegam. Como estive no palco e nessa rotina, com a experiência de ter vivenciado isso, eu acho que esse é o diferencial que eu tenho;, explica.
Em regra, os espetáculos ficam entre 10 e 12 semanas na estrada. Então, alguns problemas de relacionamento são naturais. ;Eu tenho uma sensibilidade maior para ver essas coisas. Tem uns mais extrovertidos, outros são mais quietos. No meu começo como artista foi difícil, nem sempre a gente leva uma piadinha numa boa. Mas com o tempo você entende a diferença de cultura. Nem sempre todo mundo se entende. É preciso ter muito jogo de cintura;.
* Estagiário sob a supervisão de Severino Francisco
Ovo - Cirque du Soleil
Ginásio Nilson Nelson (SRPN). De 5 a 13 de abril. Os preços sdas entradas inteiras variam de R$ 260 a R$ 900. Confira os horários e valores detalhados no site do Correio.