A primeira semana de abril é sempre movimentada na cena de artes plásticas de São Paulo. A abertura da SP Arte, que dura menos de uma semana, mobiliza todas as galerias da cidade e dá início a uma temporada de exposições que só se encerra no fim do semestre. E, este ano, alguns artistas de Brasília ganharam destaque nessa agenda.
Ralph Gehre foi convidado pela galeria Andrea Rehder Arte Contemporânea para a primeira individual em São Paulo e passou, também, a ser representado pela casa. Na Mendes Wood DM, Antonio Obá inaugurou a mostra Sentinela. Criado por três brasilienses, o espaço Breu realiza exposições e ateliês abertos e Alice Lara participa de residência na Andrea Rehder. Na SP Arte, que se encerra hoje, há 19 artistas da cidade levados pela Galeria Karla Osório, Referência Galeria de Arte e Baró.
Gehre brinca que sempre sonhou receber um telefonema de uma galeria de São Paulo interessada em representá-lo. Ele explica que, no mundo da arte, o artista não sai em busca de representação. Ao contrário, é a galeria que o procura. E, finalmente, aconteceu. ;Andrea viu meu trabalho e gostou, me ligou, conversou e foi me visitar. Saiu entusiasmada e começamos uma consignação. E, no final do ano, ela me falou: ;vamos fazer uma individual;;, conta o artista. A abertura da exposição ficou programada para a semana da SP Arte para aproveitar o grande fluxo de público de todos os lugares.
O artista reuniu trabalhos produzidos entre 2015 e 2018, um conjunto que ele considera particularmente confortável de mostrar porque já passou pelo processo de distanciamento e amadurecimento. São, principalmente, pinturas com motivos geométricos. ;E tem uma particularidade porque a condição do artista é de ser, via de regra, um ilustre desconhecido; então, é a situação mais confortável mostrar um trabalho que está pronto, consolidado;, explica.
Também na Andrea Rehder, Alice Lara divide o ateliê com Helô Sanvoy no projeto Rizoma enquanto realiza pesquisa em zoológicos para o próximo trabalho. ;A gente não tem um objetivo de ter que fazer uma coisa. O importante é o diálogo, esse contato entre amigos, artistas e com a galeria. Não estou sendo representada por ela, mas é um espaço comercial e as pessoas podem ver meu trabalho, posso conversar, falar e ver ou conhecer outros trabalhos;, explica a artista, cujos trabalhos também estiveram na SP Arte nos estandes da Referência e da Baró.
Na Barra Funda, o galpão no qual Virgílio Neto, Julio Lapagese e Pedro Ivo Verçosa montaram, há dois anos, o espaço o Breu, também teve programação especial durante a feira. Ontem, eles fizeram um dia aberto para o público e aproveitaram para mostrar vídeo inédito de Thiago Martins de Melo, em residência no local há algumas semanas. O Breu é um misto de galeria e ateliê no qual os artistas realizam cursos, exposições e ateliês abertos. ;A gente teve aqui, nos últimos três meses, o Thiago produzindo com a gente. O evento foi quase como confraternização para conseguir receber, porque tem muita gente em São Paulo;, diz Pedro Ivo.
O Brasil colonial e o contemporâneo aparecem lado a lado nas pinturas de Antônio Obá, em cartaz na exposição Sentinela, na Mendes Wood DM. Sincretismo religioso, o lugar dos corpos negros na história brasileira e a força do pensamento colonialista quando se trata da diáspora negra são alguns dos temas explorados nas pinturas do artista.
Artistas de Brasília também aparecem em galerias como a Baró, a Referência e a Karla Osório. Josafá Neves apresentou sua Madona negra na Baró, que também traz trabalhos de Alice Lara e Pedro Gandra. Na Referência, há obras de João Angelini, André Santangelo, David Almeida, Gê Orthof, Matias Mesquita, Virgílio Neto, Adriana Vignoli e Christus Nóbrega, além de Ralph Gehre, Alice Lara e Pedro Gandra. Galeno, Bené Fonteles, José Ivacy e João Trevisan estão na feira com a Galeria Karla Osório.