Irlam Rocha Lima
postado em 07/04/2019 06:30
Milton Nascimento havia lançado três discos quando, em 1972, se juntou ao amigo Lô Borges, à época com 18 anos, para gravar Clube da esquina, lendário álbum cujo nome teve origem no movimento que artistas mineiros haviam deflagrado em Belo Horizonte. Seis anos depois, o cantor e compositor carioca, criado em Três Pontas (MG), esteve à frente do projeto que deu origem ao igualmente cultuado Clube da Esquina 2.
Agora, ao revisitar esses dois discos, Milton os utiliza como base para o show da turnê, que teve início em Juiz de Fora ; cidade mineira onde ele está radicado há dois anos. Após uma série de três apresentações em Belo Horizonte, o Clube da Esquina chega a Brasília no próximo sábado e ocupa o palco do auditório master do Centro de Convenções Ulysses Guimarães.
Acompanhado por Wilson Lopes (guitarra, violão e direção musical), Beto Lopes (guitarra e violão), Alexandre Ito (baixo), Kiko Continentino (piano), Lincoln Cheib (bateria), Ronaldo Silva (percussão) e Widor Santiago (sax e flauta), o cantor tem como convidado Zé Ibarra, vocalista da banda carioca Dônica.
Canções como Cais, Cravo e canela, Paisagem da janela, O trem azul e Para Lennon e McCartney, do Clube da Esquina 1; Maria Maria, Mistérios e Nascente, do Clube da Esquina 2 estão no repertório do show. Mas há também músicas de outros discos de Milton, entre elas Fé cega, faca amolada, Paula e Bebeto, Ponta de areia e Volver a los 17.
Clube da Esquina
Show de Milton Nascimento e banda, dia 13, às 21h, no auditório master do Centro de Convenções Ulisses Giuimarães (Eixo Monumental). Ingressos: R$ 90 (poltrona superior), R$ 120 (poltrona especial), R$ 150 (poltrona vip), R$ 190 (poltrona golden), R$ 250 (poltrona premium) e R$ 1.500 lounges/ sofá de quatro lugares). Valores referentes a meia entrada. Não recomendado para menores de 12 anos.
ENTREVISTA / Milton Nascimento
Agora, com distanciamento de mais de 50 anos, qual a sua reflexão sobre o Clube da Esquina, movimento que o teve como principal pilar?
Acho que a maior reflexão de todas é a amizade. Se não fosse por isso, tenho certeza de que nós não teríamos feito o que fizemos. O Clube de Esquina foi um encontro de amigos, começamos assim e continuamos até hoje.
Além de Lô Borges, que participou do show em Belo Horizonte, de quais integrantes do movimento você se mantém próximo?
Nos dois discos Clube da Esquina que nós gravamos, houve a participação de dezenas de pessoas, não só de músicos e compositores, mas também produção, copistas, técnicos, nossa, era sempre muita gente, sabe? Sem falar que todas essas pessoas são praticamente do Brasil inteiro (bem mais no Clube 2), então, a gente está sempre encontrando os amigos por aí. E isso nunca vai mudar, nossa ligação é infinita.
Que lembranças guarda de Fernando Brant, seu parceiro em Travessia e outros clássicos da MPB?
Tem uma coisa que eu faço questão de contar em todos os shows dessa turnê. Para mim, é muito difícil falar do Fernando, mas a vida não teria sido tão linda se não fosse a convivência com ele.
Trazer de volta o repertório dos álbuns Clube da Esquina 1 e 2 no show da nova turnê tem algo a ver com doces recordações ou a intenção é a de fazer releitura daquelas belas canções?
Esse show, na verdade, é uma celebração. Meu filho, Augusto, diretor artístico deste projeto, foi quem teve a ideia de juntar os dois discos. E como a gente nunca tinha feito nada parecido, achamos que finalmente era hora de levar isso adiante.
Nas apresentações da turnê, como tem sido a acolhida das pessoas?
A estreia, na verdade, foi em Juiz de Fora, no último 16 de março, cidade onde moro desde 2016. Depois disso, fizemos três shows em BH, no Palácio das Artes, e um em Jaguariúna (SP). E olha, vou te confessar, na minha carreira nunca vi nada igual. Jamais pensei que ainda fosse viver uma emoção tão grande como essa. Só tenho a agradecer.
Na plateia, a presença maior é de fãs que têm acompanhado sua trajetória, ou há renovação entre os espectadores?
Sabe que eu nunca fiquei pensando muito nisso. Para mim, vejo de maneira igual todas as pessoas que vão ao meu show, sem distinção de nada, sempre.
As versões acústicas de músicas consagradas de sua obra, reunidas em EPs e lançadas nas plataformas digitais, vão virar disco físico?
Tudo pode acontecer, mas, por enquanto, ainda estamos curtindo esse lançamento.
Diante de viagens sucessivas e desgastantes, se sente confortável nessa turnê?
Como eu disse antes, eu nunca me senti tão bem. Ainda mais viajando ao lado de tantos amigos. Aí não tem jeito, né? É só felicidade.
Ao longo do tempo você veio diversas vezes a Brasília, desde um histórico show com Beto Guedes, à época dos álbuns antológicos Minas e Geraes. O que o faz lembrar da capital do país?
Nossa! Muito interessante essa informação sobre o show do Minas e do Geraes em Brasília. Se alguém tiver mais coisas sobre isso, como alguma resenha, matéria de jornal, fotos, por favor, manda pra gente! Brasília é um dos lugares que nunca ficam de fora de um projeto meu. As pessoas que gostam da nossa música sempre me receberam muito bem na cidade. Por isso que eu sempre faço questão de voltar. Vivi muitas coisas marcantes em Brasília, principalmente nos shows que a gente fez.
O Brasil vive tempos de desagregação e confrontação. Como artista e cidadão, que leitura faz da situação atual do país?
Eu tenho dito sempre a mesma frase: as coisas estão muito esquisitas.