Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Lô Borges faz show na comemoração dos 40 anos do Teatro Garagem

No show, intitulado' Nada será como antes - Homenagem ao Bituca', ele tem a companhia de Henrique Matheus (guitarra e vocais) e o irmão Telo Borges (teclado e voz)

Lô Borges era um adolescente, em 1968, quando Milton Nascimento o ouviu tocando violão na esquina das ruas de Divinópolis e Paraisópolis, no bairro de Santa Teresa, em Belo Horizonte. Ele imediatamente percebeu o talento daquele jovem, que, à época, havia feito as primeiras composições e costumava mostrá-las aos amigos.

Acolhido pela família Borges, quando chegou à capital mineira, vindo de Três Pontas, Milton, logo depois, em 1967, conquistou o reconhecimento do público e da crítica ao se classificar em segundo lugar no Festival Internacional da Canção, com Travessia, dele e de Fernando Brant. Ele já havia lançado quatro discos e tinha projeto para um quinto. Aí, decidiu convidar Lô para participar.

Em 1972, com 20 anos e sem ter, ainda, nenhuma música gravada, Lô mudou-se para o Rio de Janeiro e juntou-se a Milton na criação do Clube da Esquina 1, álbum que levaria o nome do movimento deflagrado, um pouco antes, por artistas mineiros. Nada menos que cinco canções desse disco têm a assinatura dele, como os clássicos O trem azul, Paisagem da janela e Um girassol da cor do seu cabelo.

Quarenta anos depois, a amizade dos dois se mantém intacta. Eventualmente, eles se juntam no palco, como em 2016, na turnê de Travessia, espetáculo com o qual Milton comemorou 50 anos de carreira; e, mais recentemente, na capital mineira, no show Clube da Esquina, que traz o Bituca ; como o cantor é chamado pelos amigos ; de volta a Brasília no próximo dia 13.

Hoje e amanhã é Lô quem revisita esse rico legado, ao se apresentar no Teatro Garagem, na abertura da programação comemorativa dos 40 anos desse tradicional espaço artístico da capital. No show, intitulado Nada será como antes ; Homenagem ao Bituca, ele tem a companhia de Henrique Matheus (guitarra e vocais) e o irmão Telo Borges (teclado e voz).

;Celebrar o Bituca para mim é algo natural. É relembrar canções que fizemos e gravamos juntos, desde a época do Clube da Esquina. No último domingo, ele me convidou para participar do show de sua nova turnê, no Palácio das Artes, em BH. Cantei Clube da Esquina 2 e Trem Azul;, diz Lô. ;Nas três noites em que se apresentou ali, o teatro estava superlotado, o público foi ao delírio e o aplaudiu de pé;, acrescenta.

No Teatro Garagem, além de músicas do Clube da Esquina 1 e 2 ; as já citadas e mais Nada será como antes, Para Lennon e McCartney e Tudo o que você podia ser ; Lô vai interpretar Quem sabe isso quer dizer adeus, que fez com o irmão Márcio Borges; e Resposta, de Nando Reis e Samuel Rosa, que ele gravou em duo com Milton. ;O Telo também vai ter espaço para mostrar suas composições, entre elas Tristesse, que fez com o Bituca, que conquistou o Grammy Latini de 2003, como melhor canção brasileira;, adianta.

Com uma discografia que reúne 12 títulos, Lô lança na próxima semana o CD O rio da Lua, com 10 faixas. Entre as músicas registradas estão Aos barões, Faça seu jogo, Não se apague esta noite e O Caçador. ;Todas as letras são de Nelson Ângelo, outro sócio do Clube da Esquina. Em breve, inicio nova turnê para lançamento do disco, que sai pelo selo carioca Deck;, anuncia.

Espaço multicultural

Espaço que se tornou referência da cultura brasiliense, o Teatro Garagem do Sesc comemora em 2019 quatro décadas de existência. No decorrer deste ano, uma extensa programação ; a partir do show de Lô Borges, hoje e amanhã ; será desenvolvida para celebrar a data.



A inauguração foi em 14 de junho de 1979, com apresentação da peça Capital da Esperança, escrita e dirigida por Humberto Pedrancini.

Desde então, aquele palco tem acolhido eventos de diversas linguagens culturais ; shows, espetáculos teatrais e de dança, exibição de filmes, feiras e festivais ; protagonizados por artistas de diferentes gerações. ;Recebemos aqui, por exemplo, a Feira de Música, Jogo de Cena, Palco Giratório (artes cênicas), Fest Clown (arte circense), Mostra Sesc de Música e o projeto Terça no Garagem ; voltado para a música autoral da cidade;, destaca Ivaldo Gadelha, o Tarzan, brasiliense de 54 anos, diretor do Garagem desde 2002.

Nomes representativos das artes no Brasil e em Brasília como Renato Russo, Cássia Eller, Luiz Melodia, João Bosco, Ivan Lins, Fafá de Belém, Ellen Oléria, Renato Matos, Raimundos, Liga Tripa, Paulo José, Pedo Paulo Rangel e Hugo Rodas fazem parte da história desse tradicional teatro. ;A Legião Urbana não chegou a tocar nesse palco, mas assisti, como espectador, show do Renato com o Aborto Elétrico;, lembra Tarzan.

Foi no Teatro Garagem que o Mel da Terra, primeira banda pop brasiliense, fez sua estreia. ;Havíamos tomado parte, com destaque, no Encontro de Música Instrumental de Brasília (Emib), em 1979. Formávamos um grupo de jovens músicos. Eu, com 20 anos, era o mais velho. Os outros Paulo Maciel, Beto Escalante, Paulo Mattos e Remy Loefler eram adolescentes, com idade entre 17 e 18 anos. Um pouco depois, criamos o Mel da Terra, que inicialmente chamou a atenção no Concerto Cabeças. Mas o nosso primeiro show foi em 1980, no Garagem;, recorda-se Sérgio Pinheiro, vocalista da banda, que há 30 anos é técnico de som do teatro.


Estrutura

Com capacidade para 204 espectadores, o Garagem é um espaço multiuso, com arquibancadas móveis, de muitas possibilidades de configurações, podendo se transformar num teatro de arena ou italiano. O nome que recebeu vem do fato de o lugar ter sido projetado como garagem, dentro da estrutura daquela unidade do Sesc, na 913 Sul. Diretor do Grupo Caroça, que ocupou aquele palco pela primeira vez, com a peça Capital da Esperança, Humberto Pedrancini testemunhou a transformação.

;Depois do prédio do Sesc construído, verificou-se que a garagem, no subsolo, tinha uma inclinação alta, o que impossibilitava o uso para carro. O espaço ficou sem utilidade por um tempo, até que Maria Duarte, diretora do Centro de Artes do Sesc na época, decidiu pela criação do teatro. O responsável pela adaptação foi o ator e diretor Chico Expedito. A inauguração ocorreu em 14 de junho de 1979, com Capital da esperança, peça em quatro atos, dirigida por mim, que depois cumpriu temporada ali;, recorda-se Pedrancini.


Nada será como antes ; Homenagem ao Bituca
Show de Lô Borges, comemorativo dos 40 anos do Sesc Garagem (913 Sul) hoje e amanhã, às 20h. Entrada franca. Os ingressos devem ser retirados na bilheteria do teatro a partir das 14h. Classificação indicativa livre. Informações: 3038-7531.