A atriz carioca Maria Flor estava há alguns anos em busca de um texto teatral para adaptar aos palcos. Foi assim que ela se deparou com A ponte, peça escrita pelo canadense Daniel MacIvor sobre três irmãs, Teresa, Louise e Agnes. Elas se reúnem após anos afastadas com a iminente chegada da morte da mãe, que está muito doente. ;Comprei alguns textos de peças pensando em montar uma. A ideia dessa peça de serem três atrizes em cena me interessou, assim como essa família, essas três irmãs. Esse lugar essencial na vida, que é a casa, a família;, conta ao Correio.
Com a ideia em mente, durante as gravações da minissérie O rebu, em 2014, Maria Flor enxergou em Bel Kowarick, que também estava no elenco da produção, Teresa. Falou com a amiga sobre a peça e juntas as atrizes resolveram levar o projeto adiante. ;Ela é uma atriz de teatro muito conhecida e respeitada em São Paulo. Imediatamente, vi a Teresa nela. Dei o texto pra ela e logo começamos a levantar o espetáculo, o que é difícil nesse país em que a gente mora;, afirma.
Depois, o brasiliense Adriano Guimarães entrou para a direção; e foi ele quem sugeriu o nome de Liliane Rovaris para completar o elenco. O roteiro da peça foi traduzido por Bárbara Duvivier, teve dramaturgia de Emanuel Aragão e cenografia de Guimarães com Ismael Monticelli. ;O Adriano sempre foi um parceiro do Emanuel, com quem eu sou casada. Eles fizeram Hamlet juntos e têm uma parceria muito antiga. Eu já conhecia o Adriano antes de ser casada, e o Emanuel me trouxe o Adriano de algum jeito. Quando a peça começou a ser levantada por mim e pela Bel, achei que ela era uma pessoa com quem eu queria muito trabalhar e faria sentido nessa peça. Pode cair num lugar meio óbvio, mas eu também queria desconstruir. Queria que fosse alguém que pudesse dar outra visão a um texto que é bem tradicional;, explica.
Espetáculo
O espetáculo estreou no ano passado em Belo Horizonte, onde ficou de novembro a dezembro, teve uma temporada neste ano em São Paulo de fevereiro a março e chega a Brasília a partir de hoje, onde ficará em cartaz por três semanas no CCBB, no Setor de Clubes Sul. Durante esse período, o público brasiliense poderá ver a história de Teresa, Louise e Agnes se destrinchar no palco.
A montagem começa quando Agnes (Liliane Rovaris) está voltando para a casa da mãe no interior após saber da doença da matriarca. É a chegada da personagem que dá movimento à narrativa. Ela é uma atriz que não teve muito sucesso, porém vive uma vida de aparências e devaneios. De volta à casa, Agnes se reencontra com Teresa, uma freira pouco ortodoxa. Ela mora numa fazenda e tem uma relação com a natureza, está voltando por causa da matriarca, e com a irmã mais nova Louise, uma jovem que nunca saiu do lado da mãe e, no entanto, sempre foi mais afastada, vivendo no seu próprio universo. ;Ela é uma pessoa fora do eixo daquela história, ela está fora do drama central. Ela vive afastada, num universo próprio. Mas, na verdade, Louise é uma personagem que enxerga tudo de fora. Como se, mesmo dentro do próprio mundo, ela entendesse tudo o que está passando. Apaixonei-me por essa personagem por causa do monólogo;, lembra a atriz.
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Durante a reunião, as irmãs terão que discutir muitas questões familiares, entre elas, a maternidade. ;A peça concentra muito na maternidade, na possibilidade dessa relação. Acho que é um espetáculo entre o drama da morte dessa mãe, que é uma coisa que fica clara desde o início. Ao mesmo tempo, tem uma dose de humor muito forte. É um texto muito bem escrito, com piadas muito bem definidas e marcadas. Você ri, chora, acho que é uma peça em que o espectador passa por muitos lugares de afeto;, completa Maria Flor.
Metalinguagem
Apesar de a peça ter como foco as três irmãs, a montagem conta com nove outros personagens que não necessariamente aparecem no palco, entre eles, a mãe. A presença das outras figuras se dá, principalmente, porque Teresa, Louise e Agnes estão assistindo a uma série na tevê. ;Esse é um texto muito interessante porque trabalha, de certa maneira, uma metalinguagem, que está bem no começo, e a utilização também é bem diferente das outras peças do autor. Tem uma história dentro dessa história que é da série a que as irmãs assistem na tevê;, revela o diretor Adriano Guimarães.
Na montagem original, o espectador ouve os diálogos da série. Porém, na adaptação brasileira, Guimarães preferiu incluir as falas de forma legendada e também o formato até em alguns momentos da história das irmãs. ;Isso acaba mudando um pouco a narrativa. Nessa peça tem vários personagens, apesar de a gente ver apenas três em cena. São nove que não aparecem, mas participam da trama, que são referidos. São personagens distintos, característicos, embora não sejam vistos. As legendas são para as cenas serem imaginadas. Quando você ouve, já sabe, a voz tem essa corporeidade. Então esse recurso da peça é de imaginar os outros personagens que estão enfatizados na minha encenação;, completa.
A reunião das irmãs se passa, em sua maioria, na cozinha da casa da mãe e também é nesse local em que a peça traz outro diferencial. ;Pensei em não fazer uma cozinha tradicional. Então, todos os objetos estão dispostos no chão e são vermelhos. Ao mesmo tempo que é uma história reconhecível, com meio e fim, tem esse pequeno deslocamento do naturismo;, explica Adriano, que fez a cenografia ao lado de Ismael Monticelli.
A ponte
CCBB (SCES, Tc. 2). De 3 a 18 de abril. Na primeira semana, de quarta a sábado, às 20h. Domingo, às 19h. Na segunda semana, sessões quarta, sexta e sábado, às 20h. Domingo, às 19h. Na terceira semana, de terça a quinta, às 20h. No dia 10, a sessão terá tradução em libras e audiodescrição. Espetáculo A ponte com texto de Daniel Maclvor e tradução de Bárbara Duvivier, direção de Adriano Guimarães e dramaturgia de Emanuel Aragão. Elenco: Bel Kowarick, Liliane Rovaris e Maria Flor. Duração: 110 minutos. Entrada a R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia). À venda em www.eventim.com.brou na bilheteria do CCBB. Não recomendado para menores de 12 anos.