Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Spartakus Santiago se destaca na web descomplicando questões do mundo atual

O baiano é um dos youtubers de sucesso no país. Ele comenta desde a polêmicas como Anitta x pink money até a morte de um jovem asfixiado em um supermercado

Meritocracia, ideologia de gênero, racismo, pink money e tantos outros termos populares nos últimos anos têm sido sinônimo de ;textão;, que é quando alguém destrincha a opinião sobre um tema nas redes sociais ultrapassando, por exemplo, os poucos caracteres do Twitter. Atento a um debate sobre apropriação cultural na web, há dois anos, o baiano Spartakus Santiago resolveu gravar um vídeo para explicar melhor do que se tratava o assunto e publicar na internet.

O conteúdo viralizou e o publicitário viu uma oportunidade de comunicar melhor temas raciais e de gênero, que sempre foram de interesse dele, sendo um jovem negro e gay na Bahia. Assim, criou uma página oficial no Facebook e também um canal no YouTube, que contam com mais de 520 mil seguidores e 3 milhões de inscritos, respectivamente. ;Entender essas questões faz parte do meu processo de existir. Sempre foi o tema da minha vida. Desde que era criança, eu sempre estudei filosofia, sempre fui muito questionador. O canal só acabou virando uma plataforma para isso;, revela em entrevista ao Correio.

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Inicialmente, Spartakus se inspirava nos temas do noticiário para fazer os vídeos. Com isso, ele debateu polêmicas como a acusação de pedofilia na exposição do MAM; a propaganda do papel higiênico preto protagonizada pela atriz Mariana Ruy Barbosa; o racismo sofrido por Titi, filha do casal de atores Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank; a intervenção no Rio de Janeiro; e mais recentemente a conturbada relação da cantora Anitta com o público LGBT. ;No início, usava muito as notícias que estavam bombando para atrair a atenção do público. Porque ninguém quer falar de racismo, colorismo, homofobia. Mas as pessoas querem falar do clipe da Anitta. Por meio desse acontecimento posso fazer esse debate;, explica.

Ultrapassando barreiras


Com o sucesso nas redes, porém, o youtuber tem aumentado o leque de opções de temas. Agora, Spartakus não precisa necessariamente de um acontecimento atual para discutir os assuntos dos dias de hoje. ;Trago muitos temas que partem da minha vivência. Falo sobre as minhas questões de autoconfiança, de relacionamento, acho que tudo isso tem que ser falado;, afirma. Entre os últimos vídeos publicados pelo baiano estão Como um alterego melhorou minha autoestima, Indignado ou grato? Militando sem perder a saúde; e O pardo é negro? O que é ser negro no Brasil.

E Spartakus Santiago tem alcançado voos mais altos. Depois da boa repercussão na web, o baiano garantiu uma presença fixa na televisão. Ele é o apresentador do Cine clube, da TV Futura, desde setembro do ano passado. Com a chegada do publicitário, o programa ganhou um novo formato e terá, pelo menos até o fim do ano, episódios com a presença do youtuber no comando dos debates. ;Fiz um vídeo analisando o filme Pantera Negra e o diretor do programa viu e me convidou. O Cine clube antes falava da visão do diretor, das questões mais técnicas. Agora, o que acontece é um debate crítico, em que recebo pessoas diversas, mulheres, pessoas negras, trans, faveladas, gordas. A gente traz uma discussão muito atual;, explica.

Os filmes exibidos a cada episódio são produções fora do eixo. Essa é uma escolha por também democratizar o cinema para o público geral. ;Temos filmes de vários países, como Peru, Colômbia, Eslovênia, África do Sul. A ideia é fazer as pessoas conhecerem outras culturas;.

Onde acompanhar?
No YouTube em https://www. youtube.com/user/sparpotter
No Facebook em https://www.facebook. com/spartakusvlog/

Duas perguntas/ Spartakus Santiago


Como você vê esse momento em que as minorias estão tendo espaço na internet?
Há 20 anos, a televisão, os jornais e os meios de comunicação de massa eram feitos por homens brancos heteronormativos. Os negros, as pessoas LGBTs e as mulheres não tinham espaço. É uma revolução. Falar sobre o nosso lugar no mundo é uma forma de ajudar a vida das outras pessoas e fazer com que elas possam se empoderar. Ao mesmo tempo é complicado, porque o que eu faço é muito novo. Faço parte de um movimento de youtubers negros, feministas, LGBTs, que está transformando e fazendo conteúdo relevante e não só mergulhando numa banheira com meleca. Mas estamos descobrindo como isso funciona. Temos que falar de pautas necessárias, ao mesmo tempo,entreter.

Como tem sido para você lidar com essa repercussão?
É um pouco assustador, porque, para mim, estou na minha casa apenas falando com uma câmera. Acaba que pessoas que eu nunca vi na vida me amam e me odeiam. Outras acham que tudo que sai da minha boca é lei. Mas eu erro também. Então, é muito complicado. A gente está aprendendo a lidar com o fenômeno que é a internet, principalmente para mim, que sou jovem.