Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Para não esquecer: Memorial do Holocausto do Rio de Janeiro

Com obras em progresso e inauguração prevista para o início de 2020, Memorial do Holocausto do Rio de Janeiro será o primeiro do gênero na América Latina


Quem já teve a oportunidade de conhecer os grandes centros culturais voltados a evocar a memória do Holocausto sabe o baque e o incômodo que a experiência causa. É tentando manter acesa a chama do não esquecimento em torno da tragédia que em meio à Segunda Guerra Mundial (1939-1945) dizimou cerca de seis milhões de judeus (e onze milhões de vítimas, no total) que a Associação Cultural Memorial do Holocausto, no Rio de Janeiro, deu inicio às obras do Memorial às Vítimas do Holocausto Rio. Localizado no Parque Yitzhak Rabin, conhecido como Mirante do Pasmado, em Botafogo, será o primeiro da América Latina, funcionando em esquema de cooperação com outras grandes instituições do gênero, como os memoriais de Jerusalém, em Israel, e Washington, nos EUA ; a abertura contará com exposição vinda do Museu Anne Frank, de Amsterdã. Segundo o presidente da Associação e também diretor do Memorial, o advogado Arnon Velmovitsky (ver entrevista abaixo), o espaço receberá exposições brasileiras e internacionais com temas que remetam à defesa dos direitos humanos, tolerância e humanismo. "Nosso intuito é que a visitação ao Memorial seja incluída no roteiro cultural e turístico de quem visita o Rio", afirma Velmovitsky.

Entrevista/Arnon Velmovitsky

Há indicadores do grau de percepção do Holocausto hoje entre as novas gerações?
Uma recente pesquisa realizada na Europa mostrou que, dentre os jovens de hoje, pouca gente sabe o que foi o Holocausto. Nosso objetivo é educar os brasileiros que uma tragédia como essa não pode ser esquecida. Para isso, o espaço abrigará exposições permanentes e temporárias. A primeira delas, de inauguração, virá do Museu Anne Frank, de Amsterdã. Nossa proposta é cultural e pedagógica: mostrar com fatos e dados o que foi a tragédia do Holocausto.

Qual será o diálogo com os Memoriais do Holocausto de outros países?
Será um intercâmbio permanente. São mais de setenta instituições ao redor do mundo. Estamos contratando um curador para, a seguir, começar a assinar parcerias e termos de cooperação para receber as mostras e o acervo dessas instituições. Já temos parceria firmada com o de Jerusalém, e com o de Washington também estamos bem encaminhados.

O que o visitante pode esperar?
Vamos reunir tudo o que é emblemático quando se fala da memória do Holocausto, incluindo a memorabilia pessoal das vítimas: sapatos, malas, óculos, roupas, etc. A partir da definição e contratação de um curador, partiremos para cuidar do acervo de mostras e exposições. Teremos também auditório para palestras e eventos, e um calendário de cursos sobre o tema, voltados a estudantes em geral e às escolas da rede estadual e municipal do Rio. Também registraremos os depoimentos de vítimas do Holocausto no Brasil que ainda estão vivas.

Qual o total de investimentos?
Cerca de 16 milhões de reais. Utilizaremos apenas recursos privados, sem Lei Rouanet, sem verbas públicas. Por acordo com a prefeitura do Rio, obtivemos a concessão da área por 30 anos. Estamos elaborando o business plan para chegar ao menos preço possível de valor de ingresso para o visitante.

Como vê a sinalização de aproximação por parte do governo Bolsonaro entre Brasil e Israel?
Pode ser muito importante para os dois lados. Israel tem muito a oferecer. Por exemplo, a tecnologia das usinas de dessalinização de água, que produz água para uma cidade do tamanho do Rio de Janeiro com apenas quarenta funcionários. Isso com certeza é algo precioso, se pensarmos no problema da seca no Nordeste. Israel é o segundo país do mundo em startups, tem medicina muito evoluída, segurança eficaz, baseada em alta tecnologia. Essa relação certamente será proveitosa para ambos os lados.