Leny Andrade era adolescente quando deu início à carreira musical, cantando na boate Bacará e no Bottles Bar, no mítico Beco das Garrafas, em Copacabana, um dos redutos da bossa nova. Ao longo de 60 anos de carreira, a cantora carioca, tida como a mais importante intérprete de jazz no Brasil, tem emprestado sua voz à obra de grandes mestres da MPB ; entre eles Cartola e Nelson Cavaquinho.
Em 1988, Leny lançou o LP Cartola 80 Anos e em 1995 Luz Negra ; Nelson Cavaquinho, nos quais recriou clássicos da obra desses dois compositores. No ano passado, ela voltou àquele rico legado e, acompanhada pelo legendário pianista Gilzon Peranzzetta gravou, pelo selo Fina Flor, Canções de Cartola e Nelson Cavaquinho. O álbum vem sendo lançado com uma série de shows, que teve estreia na casa de espetáculos Blue Note, no Rio de Janeiro.
Hoje e amanhã, às 21h, será a vez do brasiliense apreciar a arte de Leny e Peranzetta, em apresentações que eles fazem no Espaço Cultural do Choro. No álbum de 15 faixas, foram reunidas pérolas como Acontece, Alvorada, As rosas não falam, O mundo é um moinho e O sol nascerá, de Cartola; A flor e o espinho, Folhas secas, Luz negra, Palhaço e Pranto de poeta, de Nelson Cavaquinho.
A interpretação de Leny e o piano e arranjos de Peranzzetta dão nova roupagem a esses clássicos, que ganharam um belo suingado. ;A Leny é a nota que falta no meu acorde;, derrama-se o pianista em elogio. A cantora retribui:;O Gilson é meu arranjador cinematográfico;. Os dois decidiram gravar o disco em abril de 2018, durante ensaio para uma apresentação em Porto Alegre.
Quem propôs fazer a gravação foi Leny. Ela se dirigiu ao pianista e disse, com seu linguajar peculiar: ;Lindinho, se você colocar a gente num estúdio, nós resolvemos essa parada em duas ou três horas. Ao vivo, sem edições. Topas?;. O músico topou na hora e os dois contaram como suporte da eficiente produtora Eliana Peranzetta. Sabiamente ela não fez nenhuma alteração no set list ; mantendo todas as canções do show, registradas num clima e ao vivo, no estúdio La Maison, do engenheiro de som Didier Fernan, que tem o Pão de Açúcar e o bondinho como cenário.
Crooner
Carioca, Leny Andrade de Lima nasceu em 25 de janeiro de 1943. Aos seis anos de idade começou a tocar piano; e aos 9 entrou para o Conservatório Brasileiro de Música; e aos 15 já se apresentava como crooner de orquestras. No começo dos anos 1960, cantou no Beco das Garrafas com o trio de Sérgio Mendes e o grupo Bossa Três, ao lado do qual gravou o primeiro disco. Também na década de 1960, se juntou ao cantor Pery Ribeiro no espetáculo Gemini V. Acompanhados pelo Bossa Três fizeram sucesso em apresentações pelo Brasil e depois seguiram para o México, onde cumpriram longa temporada. Na década de 1970 se ligou ao samba e lançou o LP Alvoroço.
Mas em 1979, voltou ao samba-jazz e com a impressionante capacidade de improvisação gravou o LP Registro na companhia dos renomados Dick Farney, Luiz Eça, Wagner Tiso, Eumir Deodato,Francis Hime, Gilson Peranzzetta e João Donato. Nas décadas de 1980 e 1990 lançou diversos discos e fez várias turnês pelos Estados Unidos. Na condição de maior cantora brasileira de jazz, prosseguiu até os tempos de agora, encantando a todos os que têm o privilégio de ouví-la, seja ao vivo ou em gravações.
Sobre o show de hoje e amanhã no Clube do Choro, Leny não faz por menos. ;É um espetáculo lindo em que tenho a companhia desse maravilhoso pianista e arranjador chamado Gilson Peranzetta. Gosto de todo o repertório, mas Notícia (Nelson Cavaquinho) e Vai amigo (Cartola) me emocionam mais. Aos 76 anos, ela faz planos para a realização de novos projetos: ;Quero gravar discos com a obra de Johnny Alf e Marcos e Paulo Sérgio Valle;, adiantou ao Correio.
A exemplo de Leny, Gilson Peranzetta tem 60 anos de carreira, iniciada em conjuntos de baile e grupos de jazz, no Rio de Janeiro. Entre 1971 e 1974 estudou técnica pianística e de orquestração com Petri Palau de Claramunt e Federico Mompou, em Barcelona. Naquele período se apresentava profissionalmente naquela e em outras cidades espanholas.
No retorno ao Brasil passou a integrar a banda de Ivan Lins, com a qual tocou por 11 anos, até que em 1985, decidiu seguir carreira solo, embora continuasse a, esporadicamente, participar de trabalhos de artistas da importância de Edu Lobo, Nana Caymmi, Dori Caymmy, Djavan e Leila Pinheiro. ;Toquei também com nomes consagrados da música internacional como George Benson, Quincy Jones, Toots Thielemans, Sarah Vaughan, Barbra Streisand, Dianne Schurm, Dhirley Horn, Nancy Wilson, entre outrod;, lembra.
Peranzetta atuou também com solista e arranjador junto à Orquestra Sinfônica Brasileira, Orquestra Petrobras Sinfônica, Amazonas Jazz Band, Pittsburgh Symphony Orchestra, Jazz Philarmonic de Manhattan, Metropole Orchestra (Holanda) e WDR Big Band de Colônia (Alemanha). Setembro, música de autoria do pianista foi incluída na trilha sonora da premiada série norte-amaricana Dallas.
Da discografia de Peranzzetta constam 11 CDs que gravou com o saxofonista Mauro Senise e três solos. ;Um dos mais recentes é o Cumplicidade, que gravei com Ivan Lins, que traz parcerias nossas como Temporal, Love dance e Setembro. Há também músicas de Ivan e Vitor Martinsm entre as quais Abre alas e Começar de novo, além de Madalena, de Ivan e Ronaldo Monteiro de Souza;, destaca.
Leny Andrade e Gilson Peranzetta
Show da cantora e do pianista hoje e amanhã, às 21h, no Espaço Cultural do Choro (Eixo Monumental). Ingressos: R$ 40 e R$ 20 (meia para estudantes). Não recomendado para menores de 14 anos. Informações: 3224-0599.