Adriana Izel
postado em 14/03/2019 06:30
As principais referências do afoxé no Brasil são da Bahia e de Pernambuco. Os dois estados são, até hoje, os grandes disseminadores dessa cultura musical cultivada dentro dos terreiros de candomblé. ;Todos os afoxés são criados dentro dos terreiros. Na verdade, eles surgiram para que os negros pudessem fazer suas reivindicações. Eles resolveram fazer um canto, que não fosse tão silencioso, para Oxalá, o pai de todos, tocando agogô no ritmo do ijexá. Assim surgiram os afoxés;, explica Mãe Dora ty Oyá, idealizadora e responsável pelo Afoxé Ogum Pá, criado em uma casa de candomblé nas proximidades de Santa Maria.
O Afoxé Ogum Pá é um dos poucos grupos em atividade que celebram essa cultura no Distrito Federal. Apesar de ter sido idealizado em 2014, foi apenas há quase dois anos que o afoxé tomou corpo e, de fato, foi criado dentro da casa de candomblé Il; As; T;Ojú Labá. ;Esse é um projeto bem antigo. Já tem alguns anos que eu tinha esse projeto na cabeça. Mas foi em 2017 que resolvemos colocar em prática;, lembra Mãe Dora ty Oyá.
Formado por 30 membros, o grupo segue o formato tradicional dos afoxés, sendo composto por três alas ; percussão, dança (balé) e canto ; e entoando melodias de cantigas tradicionais dos terreiros. Nesses quase dois anos, o Afoxé Ogum Pá tem feito de tudo para disseminar essa cultura afro, se apresentando em eventos da cidade e também de fora, como nas cidades de Cavalcante, em Goiás, e em São Paulo. Todo mês, o afoxé faz um ensaio aberto na Torre de TV. A mais recente edição foi em 10 de março e intitulada como uma ressaca de carnaval. ;A nossa ideia é divulgar o trabalho. Acho que é importante para a nossa cultura;, afirma a idealizadora.
Reconhecimento
Esse esforço tem sido reconhecido. O grupo foi convidado para participar do 39; Festival Internacional del Caribe pela Casa do Caribe de Santiago de Cuba, que será realizado entre 3 e 9 de julho. ;Acredito que esse convite tenha vindo porque em 2017 fizemos uma apresentação no Museu Nacional da República na Semana da Cultura Cubana. Levei um susto quando recebi a carta. Credito esse convite a esse nosso trabalho de visibilidade na rua;, diz Mãe Dora.
Para participar do festival, o Afoxé Ogum Pá criou um financiamento coletivo na internet. O objetivo é arrecadar recursos para conseguir levar os integrantes para a apresentação em Cuba. ;Decidimos coletivamente, como tudo do afoxé, e pensamos nessa vaquinha para conseguir recursos para o dinheiro das passagens do grupo;. Publicada no site www.vakinha.com.br, a arrecadação busca R$ 50 mil. Até o fechamento desta edição, o grupo havia conseguido R$ 3,2 mil. A campanha segue até 15 de maio.
Durante esse período, o grupo manterá os ensaios abertos e já está confirmado na primeira edição do festival Magia Negra, que será realizado de 5 a 7 de abril, no Complexo Cultural de Samambaia. O grupo fará um cortejo no palco intitulado Jovelina Pérola Negra em 7 de abril, a partir das 21h10.
Disseminação da cultura
Atualmente, o Afoxé Ogum Pá é um dos poucos grupos ativos no Distrito Federal levando a cultura musical do candomblé para as ruas. No entanto, o desejo de Mãe Dora ty Oyá é espalhar e agrupar. ;Não tenho conhecimento de outros grupos de afoxé, sei que há grupos percussivos espalhados pelo DF. Então minha vontade é juntar todos eles num festival de percussão, samba-reggae. Fazer um grande encontro mesmo;, completa.
Em Planaltina, a cultura afoxé faz parte do trabalho do grupo Omo Ayó, que participou em 2017 da música Mojubá gravada pela rapper Vera Verônika. Na mesma época, em Sobradinho, estava em atividade o Afoxé Ode Igbo, que se apresentou em eventos como o Festival Samba de Coco e Maracatu.
QUADRO
Como ajudar
Financiamento coletivo do Afoxé Ogum Pá no site https://www.vakinha.com.br/vaquinha/492158. Meta de R$ 50 mil.