Nahima Maciel
postado em 10/03/2019 07:00
Há várias formas de viajar, mas a que o escritor e ilustrador Roger Mello mais gosta está nos livros e nas histórias. Por meio deles é possível conhecer de tudo e em todo lugar, o que o levou a criar o espetáculo O mundo na mão, em cartaz hoje no Teatro Eva Herz (Livraria Cultura do Shopping Iguatemi). ;A peça é muito um tributo ao livro e à arte narrativa, são coisas de que eu gosto muito e que fui colecionando, uma coisa encaminhava para outra;, avisa.
Tudo começa com o livro O mundo num segundo, de Isabel Minhós e Bernardo Carvalho, cuja narrativa, destinada às crianças, reflete sobre as possibilidades contidas em uma história. A partir daí, Roger mergulha em suas próprias referências. Livros que leu e pelos quais se apaixonou aparecem entrelaçados com músicas com forte poder narrativo. ;Tem um pouco de tudo;, avisa o escritor que, além de atuar, dirige o espetáculo. ;Toda essa peça é absolutamente eclética, são muitas referências.; São, no total, 12 canções, incluindo títulos como Recenseamento (Assis Valente), A ostra e o vento (Chico Buarque), Não é céu (Vitor Ramil) e Hey Eugene (Pink Martini). ;Todas as músicas cantam histórias;, avisa.
Entre as escolhas literárias, há desde textos filosóficos e crônicas até romances e contos. Alguns, ele cita com um certo encanto. É o caso de Conte para as paredes, um conto indiano de origem tâmil datado de cerca de mil anos, e Casa fechada, um fado de João Monge e José Marques. Os dois falam de casas e paredes que um dia abrigaram sonhos e temores, mas já não existem mais fisicamente e se tornaram ideias. A esse conjunto, Roger gosta de acrescentar Elogio da loucura, de Erasmo de Roterdã. ;Uma história desemboca na outra, às vezes de maneira inusitada;, repara Roger.
Conexões
No palco, ele tem a companhia das cantoras Ariadna Moreira e Larissa Roque. A primeira, professora da Escola de Música de Brasília (EMB), tem formação lírica e a segunda está ancorada no pop e na MPB. No violão, J. Roque fica responsável pelas melodias que ajudam a costurar a imensa colcha de retalhos literários construída por Roger Mello. ;O elemento que liga tudo é o humano, o tempo todo é o humano que está sendo evidenciado;, garante. Poemas, canções, adaptações de peças se misturam para formar uma crônica sobre o poder da narrativa.
O mundo na mão foi pensado como um espetáculo para público de todas as idades. Premiado com o Jabuti e com Hans Christian Andersen por sua produção infantojuvenil, Roger é conhecido como um autor de livros para crianças e jovssens, mas ele acredita mesmo é que uma história bem contada pode atrair qualquer tipo de ouvinte ou leitor. A peça é a terceira dirigida e escrita pelo autor, mas é a primeira na qual também atua. Em 2011, ele fez Dispare e, em 2017, montou W, adaptada de seu primeiro romance.