Jornal Correio Braziliense

Diversão e Arte

Onde tudo começou: Histórias das raízes do carnaval em Brasília

A folia que leva hoje mais de um milhão de pessoas aos eixos e setores de Brasília começou com a iniciativa de pioneiros cariocas, que trouxeram o carnaval para a capital nos anos 1960



Se hoje um milhão de pessoas passam pelos espaços diversos de Brasília para celebrar o carnaval é porque um grupo de pioneiros deu o pontapé para iniciar a festa no começo da década de 1960. Manifestações como bailes, concursos de fantasia e música e desfile de escolas de samba entraram para a agenda carnavalesca da nova capital logo depois de sua inauguração, mas a quantidade de foliões era bem menor. Eram pessoas originárias do Rio de Janeiro, que trouxeram para cá elementos dessa manifestação da cultura popular brasileira.
A cidade ainda não havia comemorado um ano de existência quando os "novos brasilienses" já se fantasiavam para participar da primeira folia de momo no pioneiro Brasília Palace Hotel, na Travessa Dom Bosco e nas boates da antiga Cidade Livre ; atual Núcleo Bandeirante. Foi ali o ponto de partida do que ocorre atualmente, quando se verifica impressionante crescimento da festa.



O Correio cobre o carnaval de Brasília desde o início e traz um pouco dessa memória, tendo como foco os três primeiros anos. Em 1962, por exemplo, foi criado o Baile da Cidade, que ocorreu no Hotel Nacional e contou com a presença da atriz norte-americana Rita Hayworth e do primeiro-ministro Tancredo Neves. Houve também o baile popular, no Teatro Nacional, ainda em construção. O primeiro desfile de escolas de samba ocupou a Avenida W3 Sul.



No ano seguinte, o Baile da Cidade, outra vez no Hotel Nacional, teve a participação do astro hollywoodiano Kirk Douglas. Já o desfile das escolas de samba foi transferido para a plataforma superior da Estação Rodoviária e, assim como no ano anterior, a Alvorada em Ritmo saiu vencedora. Jair Paiva Arnaldo, o Jair do Apito, hoje com 79 anos, era o diretor da bateria da escola.



Ele se lembra bem da conquista. "Naquele primeiro desfile, havia só duas escolas concorrendo, a nossa e uma outra da Candangolândia. Fomos à W3 Sul com 150 componentes, entre integrantes da bateria, mestre-sala, porta-bandeira, passistas e algumas alas. O samba enredo era sobre a abolição da escravatura. Depois, conquistamos o bicampeonato em 1963". Atualmente, Jair do Apito é presidente do Conselho Deliberativo da Acadêmicos da Asa Norte, campeã do último desfile, em 2014.



Naquela época, outros eventos chamavam a atenção: os bailes nos clubes e o concurso de marchinhas e sambas carnavalescos. O cantor Fernando Lopes, então ligado à Rádio Nacional, ganhou a primeira competição com Isso me ama, de Lauro Passos, que, na letra, fazia referência à Maria Tereza, esposa do ex-presidente João Goulart. "O Zé Lourenço era um outro forte concorrente. Defendíamos músicas compostas por Lauro Passos e também por Cid Magalhães, Elpídio Viana e Rocha Matos", lembra o cantor, hoje com 86 anos e ainda em atividade.



Fernando acredita que o sucesso do carnaval brasiliense que se observa hoje em dia ocorreu graças a uma semente na década de 1960. "Pela idade que tenho, não vou ver de perto o que está acontecendo nas ruas. Mantenho o espírito carnavalesco, mas assisto à folia pela televisão. Vibro com tudo, principalmente com a alegria, a descontração e a diversidade dos bloquinhos que se espalham pelos quatro cantos da cidade", destaca. "Mas é bom não esquecer que quem começou com essa cultura de bloco em Brasília, há 40 anos, foi o Pacotão, criado por jornalistas", acrescenta.

*Colaborou Chico Lima Filho