Diversão e Arte

Histórias para os ouvidos: audiolivros estão em expansão

Produções brasilienses prometem se destacar no setor

Nahima Maciel
postado em 05/03/2019 07:00
Lucianna Mauren é uma das atrizes envolvidas na gravação dos audiolivros

Quando decidiu criar uma produtora de audiolivros, o brasiliense André Calgaro sabia que precisava de três coisas: mão de obra, um estúdio impecável e uma localização calma, afastada de ruídos urbanos. Escolheu o Grande Colorado para instalar a Narratix, inaugurada oficialmente em outubro de 2018. André deixou São Paulo, onde viveu e trabalhou por mais de uma década, e resolveu voltar para Brasília para dar início à empreitada. Anos de trabalho no mercado de livros ; em áreas como vendas e acervo da Livraria Cultura e em consultoria para editoras ; deu ao produtor de 36 anos a certeza de que o mercado de audiolivros é promissor e vem com forte demanda no cenário brasileiro.

No estúdio, em Sobradinho, André já gravou um total de 15 audiolivros. Ele não revela os títulos porque mantém contrato de sigilo com as editoras e plataformas para as quais as gravações foram feitas, mas garante que serão lançados até o fim do semestre. Segundo o produtor, a ideia é produzir para abastecer um mercado cuja tendência de crescimento tem sido notável na cena internacional. Além das editoras e autores independentes, ele mira plataformas como a Google Books, Ubook e Tocalivros, que já operam no mercado brasileiro e devem receber, em breve, a companhia da Audible (da Amazon) e da sueca Storytel.

Para André, o formato tem possibilidade maior de crescimento do que o e-book, que nunca ultrapassou os 7% das vendas de livros. ;O audiolivro não tem essa hostilidade com que o e-book foi recebido no meio livreiro e editorial;, conta. ;A pesquisa do Audio Publisher nos Estados Unidos mostra que o crescimento está em dois dígitos há três anos e o e-book está caindo. Então, acho que é diferente.; A tendência, ele lembra, não é só na área dos audiolivros mas também de produções como podcasts e e conteúdos audiodigitais. ;Você vê o crescimento dos podcasts, o Spotify está, cada vez mais, se posicionando não só como streaming de música, mas de audio, O audiolivro faz parte de uma revolução maior, que é a do audiodigital. Vai ser uma coisa forte e progressiva. No Canadá, hoje, 60% das editoras publicam audiolivros;, diz.
André Calgaro aposta no mercado e a empresa já gravou 15 livros
Para criar a Narratix, André fez muita pesquisa e experiências em laboratório. A ideia era entender o processo de produção de um audiolivro e descobrir o que funciona ou não. ;Dá a impressão de que é fácil, mas não é. É muito complexo, na verdade. Não tem mão de obra especializada e o processo de edição é minucioso. Tem muitos detalhes técnicos;, conta. Em Brasília, ele montou um banco com mais de 200 vozes, incluindo as infantis para projetos específicos. São, principalmente, atores, mas também há locutores e outros profissionais da voz. A da atriz Luacianna Mauren é uma delas. São, principalmente, atores, mas também há locutores e outros profissionais da voz.

Além dos 15 livros já gravados, há cinco a caminho. A produção de um audiolivro de 200 páginas pode levar 30 dias. Para o narrador, as sessões duram em média quatro horas. É uma maneira de contornar o esgotamento físico e manter a conexão com o texto. Mais que isso, a voz cai no automático e a modulação se perde. Cada livro pede um tipo específico de voz e nem sempre um tom cristalino e limpo é o ideal. ;A voz depende do trabalho;, explica André. ;Se for um livro de Bukowski, por exemplo, não quero alguém com voz cristalina e sim alguém que pareça que bebeu e fumou charuto a vida inteira;, diz.

A parte técnica também é um desafio. Com a falta de mão de obra especializada, André acaba por mergulhar na pesquisa com o objetivo de solucionar os problemas que se apresentam. O nível de ruído, por exemplo, é algo difícil de controlar. Se o narrador estiver com fome, o ronco da barriga acaba por aparecer no áudio. A boca seca ou molhada demais também causa interferência. A revisão e a direção são outros aspectos que precisam ser levados em conta. ;Aliás, a gravação de audiolivro é uma excelente forma de revisão de texto;, aponta.

Por enquanto, a Narratix trabalha para abastecer geradores de conteúdo, mas André também planeja uma linha editorial própria. Ele vai começar com livros de H.P. Lovecraft, que devem circular em plataformas de audiolivros. Outro projeto próprio da Narratix é Abraço à sombra, de Daniela Migliari, gravado pela própria autora. ;Nem sempre funciona, mas nesse caso, funcionou;, avisa André.

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