Diego Marques*
postado em 24/02/2019 07:00
;A vocação do artista é jogar luz sobre a alma humana;. A frase da baronesa de Dudevant, Amandine Dupin, é do século 19, mas ainda cai como uma luva na definição a que se propõe. Talvez, ela não imaginasse que uma evolução tecnológica mudasse os rumos da arte e abrisse o leque para uma produção em ambientes heterogêneos, como o digital. A música, por exemplo, passou do ao vivo para as gravações, dos discos para os arquivos e hoje está conectada ao streaming.
As ilustrações também seguem o caminho das tecnologias. Softwares variados possibilitam a criação de peças montadas diretamente em aparelhos gadgets e pensadas para o ambiente eletrônico e conectado à internet. Animações, desenhos, colagens fazem parte de um novo mercado para o artista plástico. As inspirações e motivações são variadas, como também são na arte analógica, e ; da mesma forma ; têm a intenção de sensibilizar quem as aprecia.
Questões sociais, emocionais e existenciais sempre nortearam os trabalhos artísticos ao longo dos anos e, na arte digital, eles também servem de bússola para a criatividade. Jesso Alves, 21 anos, realiza colagens surrealistas para motivar o empoderamento negro e se posicionar contra o racismo.
;Eu me identifiquei com essa linguagem e comecei a estudar para criar uma estética. Isso foi bem na época que eu estava me reconhecendo como uma pessoa negra e acabei aprendendo a enaltecer no meu trabalho a beleza das pessoas negras;, revela.
Bárbara Coelho, 22 anos, prefere tratar do feminismo, das dores e das belezas de ser mulher. A ideia dela se destaca por trazer conselhos didáticos para desconstruir comportamentos. ;Eu busco inspiração em mulheres que estão à minha volta, especialmente minhas amigas. Em cada arte minha tem um pedaço de uma mulher incrível que fez ou faz parte da minha caminhada. Sempre com humor e acidez;, descreve.
Em preto e branco
Porém, o entusiasmo criativo pode não partir de nenhuma causa social, baseada no ;trash; e em ;insights; como define Esther Córdova, 19 anos. Ela gosta do estilo em preto e branco e está no ramo há um ano. Esther acredita que o ambiente digital proporciona resultados únicos. ;É um mercado muito grande e com muitas oportunidades para expressão, revolução, apreciação e até mesmo trabalho. Arte digital é algo pelo qual eu tenho uma paixão muito grande e espero nunca me separar dela;, confessa.
Esther, Bárbara e Jesso concordam que a área da arte virtual está em crescimento. Jesso tem as colagens digitais como única fonte de renda. Recentemente, ele recebeu chancela de atores famosos. ;Meus amigos disseram que eu poderia ganhar dinheiro com as peças. Aí, passei a produzir colagens de artistas que eu admirava. Eles gostaram e passaram a me divulgar. Entre eles, Bruno Gagliasso, Lázaro Ramos, Camila Pitanga; Então, ganhei mais seguidores e passei a receber encomendas;, conta.
A Bárbara tem no trabalho artístico um complemento financeiro enquanto Esther não comercializa o que produz. Mas ambas concordam que as redes sociais são uma ótima maneira de difusão. ;Na era tecnológica e de acesso à informação que estamos vivendo, o ambiente digital é o lugar ideal para buscar visibilidade. É infinito! Você encontra vários outros artistas, proporciona parcerias, encontra referências, faz amizades;, conta Bárbara.
;Eu vejo que esse mercado tem crescido muito e tem sido cada vez mais valorizado. Acho isso muito interessante e fico feliz por ver a área crescer e encontrar trabalhos incríveis de todo o tipo no ambiente digital. Apesar de não comercializar a minha arte, pode ser que isso mude um dia;, planeja Esther.
* Estagiário sob a supervisão de Vinicius Nader