Diversão e Arte

Companhia de teatro Udi Grudi completa 37 anos de muito teatro

Tradicional na cena teatral brasileira, companhia comemora 37 anos com temporada de verão no Espaço Cultural Renato Russo

Mariah Aquino*
postado em 17/02/2019 07:15
Foi com o espetáculo O cano que a companhia saiu do país pela primeira vez

O palco do Espaço Cultural Renato Russo, às margens da W3 Sul, se transforma para receber o espetáculo Ovo. Nos dois últimos fins de semana de fevereiro, a temporada de verão da companhia de teatro circense Udi Grudi abrilhanta a cena do Distrito Federal. ;É um espetáculo para adultos que agrada as crianças também. São várias camadas da percepção do espetáculo;, explica Luciano Porto, membro do grupo.

As apresentações ocorrem às 20h neste sábado e às 19h no domingo. Os horários se repetem no próximo fim de semana. Ovo fala da fome e da escassez, da reciclagem e do lixo, como define Luciano. ;Não é um espetáculo que fala: ;Você tem que reciclar;. A gente faz isso, a gente transforma as coisas;, ressalta a diretora Leo Sykes. De maneira didática, descontraída e com linguagem cômica grotesca atrelada à música, três homens criam e refazem o que tocam por viverem cercados por lixo.

Ovo existe desde 2003 e recebeu, em 2008, o Prêmio Villanueva da União dos Artistas Cênicos de Cuba (Uneac). Viajou uma parte considerável do globo, foi apresentado ao respeitável público de Itália, do México, Estados Unidos, Alemanha, Dinamarca, Escócia e Cuba. ;Tratamos do tema da escassez e a solução que a gente dá é a transformação. Nós transformamos lixo em comida, lixo em poesia;, explica Luciano. ;Reforçamos que a grande solução é a criatividade, usar a inventividade para solucionar problemas;

No palco, atuam os palhaços Marcelo Beré, Márcio Vieira e Luciano Porto. A londrina Leo Sykes é responsável pela direção. É de Márcio Vieira a autoria dos instrumentos musicais usados no espetáculo, composto de materiais que, à primeira vista, podem parecer lixo. Os figurinos e a cenografia também seguem a mesma linha.

História

A companhia Udi Grudi surgiu em Brasília em 1982, a partir da montagem de uma peça de nome Circo Udi Grudi, de Jeanne Marie. Luciano, Marcelo e Márcio então formaram o grupo que, no ano seguinte, montou a primeira peça Gambira goiaba. No começo da trajetória pelo Distrito Federal, o grupo desenvolveu projetos culturais enquanto emergia em intensa pesquisa sobre a linguagem circense. ;Os meninos aprenderam muita coisa do circo tradicional, como malabares e acrobacia;, explica Leo.

O grupo montou, posteriormente, o espetáculo Menina dos olhos, sob direção de Hugo Rodas. Dentre os prêmios conquistados pelo trabalho, três prêmios APAC-DF (Melhor trilha sonora, melhor espetáculo infantil e melhor cenário) e o prêmio Concorrência Fiat de 1989. Foi a partir de 1998, que entrou em cena a diretora Leo Sykes, dirigindo os palhaços da Udi Grudi na nova peça O cano. ;Foi a primeira vez que o grupo saiu do Distrito Federal e proximidades;, ela relembra.

É preciso, para a diretora, ordenar em ordem alfabética os países por onde o espetáculo passou para conseguir lembrar de todos. Ela conta como o grupo foi recebido no festival Sesc de São Paulo, em 1999. ;Éramos desconhecidos de Brasília, colocaram a gente para se apresentar às 10h da manhã, mas fizemos muito sucesso lá. Um produtor suíço nos levou para o festival de Edimburgo. A apresentação também foi marcada para 10 horas e de novo, éramos como desconhecidos também;, ela relembra.

O cano fez muito sucesso em Edimburgo, o que garantiu para o Udi Grudi diversas avaliações positivas da crítica e uma infinidade de convites para outros festivais. O grupo ganhou, no festival de Edimburgo, o prêmio The Herald Angel Award. Os palhaços também já foram presenteados com a comenda da Ordem do Mérito Cultural do Distrito Federal.

Olhares

Neste ano, a trupe completa 37 anos de existência com inúmeras participações em festivais nacionais e internacionais, passaporte carimbado para vários países e muitos prêmios na bagagem. ;Quando os Udi Grudi eram jovens, eram quase os únicos. Agora não, tem muita gente fazendo trabalhos maravilhosos;, pontua Leo. ;É difícil viver artisticamente, há o risco de beirar o amadorismo por não conseguir manter o espetáculo, levá-lo para outros lugares.;

Para a diretora, o tempo passou rápido demais. ;Depois de uns cinco ou sete anos juntos, eu pude reconhecer que a gente tinha uma linguagem nossa, talvez ela estivesse ali antes, mas só consegui reconhecer a partir daí. Depois disso, o desafio passou a ser não se repetir e se renovar;, ela relembra.

Luciano ressalta que, apesar dos anos, a energia continua. ;Sentimos já o peso dos anos, mas, ao mesmo tempo, a cena nos estimula e nos rejuvenesce;, ele ressalta. ;O palhaço busca não só atingir a criança como achar a criança dentro de cada um, inclusive do próprio palhaço;

Para o grupo, os projetos pessoais são de essencial importância. Leo exemplifica com o conceito de forças centrífugas, de Eugênio Barba. ;São projetos individuais ou não do grupo inteiro que fazem os membros voltar com mais gás para as atividades do grupo;, ela define. A diretora também reconhece que, no DF, os grupos acabam vítimas de um certo isolamento devido ao alto custo para levar os espetáculos para outros lugares.

;Talvez, o isolamento até nos ajude, nós viramos um ambiente e temos identidade artística. Todo mundo se conhece e se vê, existe uma polinização entre os grupos que eu acho muito boa;, ela ressalta. Para 2019, além da temporada de verão, parte dos membros está envolvida com o projeto do parque sonoro DiverSom, um playground que percorrerá sete parques públicos do DF a partir de maio, ainda sem itinerário definido.

Também está em desenvolvimento o longa Vidas de cachorro, um desenvolvimento do espetáculo Ovo que misturará alguns elementos de outros espetáculos numa ;ficção maluca;. O palhaço Marcelo Beré desenvolve, ao lado de Leo, um solo sobre a velhice, ainda sem data de estreia ou nome definido.

* Estagiária sob supervisão de Igor Silveira


Temporada de verão da Companhia Udi Grudi

Espaço Cultural Renato Russo (508 Sul). Sábado, às 20h e domingo, às 19h, nos dias 17, 23 e 24 de fevereiro. Ingressos: R$ 20 (meia-entrada). Classificação indicativa livre.


Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação