Vinícius Veloso*
postado em 17/02/2019 06:45
A natural renovação musical traz uma nova geração de bandas em Brasília. E, quando o assunto é inovar, a Joe Silhueta desponta como nome a ser citado. Carregando as influências do rock and roll e do folk norte-americano, mescla os sons com a brasilidade nordestina e o mix de ritmos que constroem uma musicalidade brasiliense.
Juntos pelos bares e shows na capital federal, Guilherme Cobelo e Gaivota Naves deram início ao projeto que surgiu para dar voz às composições do cantor. Aos poucos, participações de músicos que trabalhavam em projetos paralelos e tinham certa familiaridade com a dupla começaram a ser essenciais para a construção musical do grupo.
;Nós temos uma liga familiar. Antes de sermos uma banda, já éramos um grande bando. Como sempre convivemos muito, já sabíamos o que cada um tinha de especial para somar. Quando lançamos o Dylanescas, em 2016, o Cobelo juntou todo mundo para o show de lançamento. Rolou a liga e a banda, que era um projeto solo, virou quase uma big band.;
Com um hall de pessoas envolvidas, contando fotógrafos, produtores e músicos, todos apoiaram a nova caminhada que se iniciara com Dylanescas. O EP com cinco canções de Cobelo prioriza o lado acústico, com a simplicidade sonora da voz e do violão em harmonia.
Até então, o grupo era um grande mistura de estilos, com certa complexidade em tonalidades musicais. A partir do segundo trabalho, Ritos do leito, um desenho da Joe Silhueta se formou. Com a participação integral da instrumentalização e uma sintetização potencial das funções a se exercer, os integrantes se complementam musicalmente.
;Realmente, não era o momento de investir em um álbum. Era uma fase de experimentação, de criação e descobrimento de identidade, de entrosamento. A banda era um híbrido. Cresceu de maneira súbita. Então, quando você escuta os EPs, dá para ver que a banda atingiu uma unidade no trabalho mais recente que já se adiantava desde o segundo EP;, conta Gaivota.
Mas o álbum veio em grande estilo. Após uma turnê bem brasileira com passagens pelas regiões Nordeste, Sudeste, Centro-Oeste e Sul denominada Mil léguas ; nome de um dos singles da Joe, a banda formada por Cobelo, Gaivota, Carlos, Tarso, Márlon, Lucas e Marcelo lançou Trilhas do Sol, uma coletânea de músicas compostas pela banda que estavam sendo tocadas. Com um significado que vai além de um simples som, representa todas as pessoas que lutaram para o projeto dar certo.
;Foi um álbum que decidimos gravar quando voltamos da nossa primeira turnê, em fevereiro de 2018. Identificamos que as canções que formam o Trilhas do Sol tinham uma identidade própria, elas conversavam entre si. Contam uma história sobre esse caminho que a gente percorre da noite até o amanhecer. A noite com todos os significados, como substância, metáfora, um estado de espírito, não só a noite cronológica;, conta Guilherme Cobelo.
Apresentações
Após todos os lançamentos protocolados nas plataformas digitais, os músicos retornam a Brasília para fazer shows com todo o repertório produzido ao longo dos três anos de união oficial. Com apresentações distintas, sendo uma mais intimista e reservada e outra mais extrovertida, tal qual a do show oficial, a banda reúne a cena brasiliense no fim de fevereiro e março, exalando musicalidade.
;É uma forma de sintetizar o que é a Joe Silhueta. Há quase um ano começamos esse formato acústico, como uma forma de fazer pequenas apresentações, em espaços onde não tem um palco que contemple toda a estrutura que a gente necessita para o show com os sete músicos. A segunda parte é a catártica, hipnótica, lúdica, contando com os sete músicos no palco, em uma espécie de ritual sonoro e visual. É o show que estamos fazendo nos festivais;, contam os integrantes da banda.
Com convidados especiais e dividindo palco com Scalene, Lupa e Aguaceiro, os eventos na Cervejaria Criolina e Toinha Brasil Show marcam o lançamento oficial dos dois compactos de canções que ganharam vida em discos de vinil, além da celebração da vida de Gaivota Naves, que faz aniversário em fevereiro.
*Estagiário sob a supervisão de Severino Francisco
Sofar Sounds Brasília
Cervejaria Criolina (SOF Qd. 1). Dia 21 de fevereiro, às 20h. Apresentação com Joe Silhueta e convidado especial. Ingressos a partir de R$ 20. Não recomendado para menores de 18 anos.
BFC apresenta
Toinha Brasil Show (SOF Qd. 9). 23 de março. Show com Scalene, Lupa, Joe Silhueta e Aguaceiro. Ingressos a partir de R$ 30. Não recomendado para menores de 18 anos.
Duas perguntas / Joe Silhueta
Qual o valor simbólico de um disco de vinil nos dias de hoje?
Gaivota Naves: Para nós, o disco de vinil tem um valor muito afetivo, por termos crescido ouvindo, herdando e garimpando eles. É um valor estético, pela qualidade sonora que só o vinil apresenta. E a ritualística que envolve a escuta é sensacional! Você chegar em casa com o objeto em mãos, botar para tocar, deitar confortavelmente no chão com esse artefato que tem uma capa e contracapa para você interagir, um encarte pra ler, enfim ; é algo que se perde um pouco com o stream. Além disso, é uma propriedade real e tátil. Quando se tem um bando de música na nuvem, não dá para saber se você, de fato, possui elas.
Como percebem a cena musical de Brasília no momento?
Guilherme Cobelo: A cena, ou melhor, as cenas daqui estão efervescentes. Sempre estiveram. O projeto de circulação Conexão DF está dando muitas possibilidades para que Brasília seja conhecida como um grande pólo criativo. Mas fica muito difícil ser músico na cidade pela falta de casa de shows e, principalmente, pela cultura do público daqui, que está acostumado com eventos gratuitos e não paga para ver espetáculo autoral. Cabe a nossa geração criar essa cultura. E estamos trabalhando para isso.