O duo Camboatá, formado pelas multi-instrumentistas Naiara Lira e Maboh, apresenta espetáculo musical repleto de cantigas tradicionais das rodas de capoeira que reflete questões de ancestralidade africana e sororidade. Neste mês, com o projeto Camboatá na Rua, elas circulam por feiras e praças de Vila Telebrasília, Candangolândia, Núcleo Bandeirante, Vila Planalto e Cruzeiro.
;A gente, enquanto mulher negra, quer estar cada vez mais perto do público com identidade parecida com a nossa. Queremos estar mais próximas das pessoas negras;, explica a brasiliense Naiara Lira, de 33 anos, sobre a ideia de circular por regiões do DF levando música, dança, poema e teatro.
A primeira performance do projeto ocorreu ontem, numa praça pública da Vila Planalto. Contou com encerramento do grupo Beribazu, fundado pelo Mestre Zulu, em 1972. A roda de capoeira intercala agenda do Camboatá na Rua com outra atração convidada para representar a arte local: grupo Nzinga.
;Pegamos uma boa diversidade de público;, explica Maboh, 34 anos, nascida em São Paulo e criada em Brasília. Segundo as meninas, a capoeira agrega pessoas ;muito ricas e muito pobres; no Brasil e no mundo. ;Você encontra capoeirista periférico, com vida complicada. Também encontra dentro do Senado. A capoeira permeia esses dois ambientes;, completa Maboh.
A emoção é um dos pontos altos do show. ;Sempre alguém chora nas nossas apresentações;, conta Maboh. ;É uma momento que toca fundo a ancestralidade das pessoas. Trazemos questões sociais que permeiam a vida da gente diariamente e as pessoas ficam muito sensibilizadas. O público recebe muito bem e é sempre muito carinhoso. A gente nunca teve um show com uma resposta hostil;, continua.
No show, elas recitam o poema Navio negreiro, de Castro Alves. ;Nele tem algumas frases que mulheres vítimas de estupro já ouviram do agressor. É um poema muito forte. Ao final de um show nosso, no Clube do Choro, uma moça me deu um abraço apertadíssimo e falou: vocês me salvaram com aquele poema, porque agora sei que a culpa não é minha. É glorioso para gente pensar que pudemos ajudar alguém.;, recorda-se Maboh.
Depois de circular pelas cidades, elas vão reformular as apresentações, inserindo música eletrônica nas canções. Um vídeoclipe e um álbum também estão nos planos das cantoras. ;A capoeira não tem barreira nem limite não. Meu mestre fala muito isso. Ele fala que a capoeira só vai;, conclui Maboh.
Arranjos musicais
A dupla cria arranjos para músicas tradicionais da capoeira. ;É um cuidado que geralmente as canções de capoeira não recebem. Você abrir voz, colocar um arranjo com mais detalhe, mais rebuscado, com mais instrumentos. Os capoeiristas têm realmente carência de escutar as cantigas deles sendo tocada por músicos;, observa Naiara.
Naiara conta que começou a investir nessa carreira depois que pediram para ela cantar numa roda: ;Um jogo de capoeira, quando começa, não para até acabar. Quando eu comecei a cantar, as pessoas pararam para me ouvir.; Ela, então, chamou Mabohpara acompanhá-la. ;Queríamos tratar a capoeira de uma forma musical, não só em função do jogo;, lembra.
O duo feminino, que no início era um trio, começou em grande estilo. A primeira apresentação delas, em 2015, foi no Brazilian Day, de Sidney, na Austrália. Elas entoaram músicas de capoeira para cerca de 3.000 pessoas que assistiam ao evento dedicado à exaltação da cultura brasileira no exterior. ;Conseguimos uma resposta bem emotiva por parte do público;, recorda-se Naiara.
* Estagiário sob a supervisão de Vinicius Nader
Serviço
Camboatá na Rua
Feira Permanente do Núcleo Bandeirante (praça Padre Roque Projeção 9, 3; Avenida). Amanhã, às 10h30, com participação especial de Zila Siquet e encerramento com o grupo Nzinga. Entrada franca. Classificação indicativa livre.
Vila Telebrasília. Dia 22 de fevereiro, às 12h, com participação especial de Zila Siquet e encerramento com o grupo Beribazu. Entrada franca. Classificação indicativa livre.
Feira Permanente da Candangolândia (QR 1). Dia 23 de fevereiro (sábado), às 10h30, com encerramento do grupo Nzinga. Entrada franca. Classificação indicativa livre.
Feira Permanente do Cruzeiro (Quadra 811, Cruzeiro Novo). Entrada franca. Classificação indicativa livre.
Dia 24 de fevereiro (domingo), às 10h30, na , com encerramento do grupo Beribazu. Entrada franca. Classificação indicativa livre.