Mariah Aquino*
postado em 07/02/2019 06:30
Na última vez em que o Teatro Negro de Praga esteve no Brasil, tanto a companhia quanto o país eram bem diferentes. ;Toda a empresa mudou, são novos artistas. Nenhum deles que se apresenta neste espetáculo esteve no Brasil antes;, relembra o diretor Jirí Srnec, fundador e diretor artístico da equipe. Nesta sexta, o grupo fará dois shows no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, às 19h e às 21h30. A turnê pelo Brasil percorrerá também outras quatro cidades.
O teatro negro é uma das manifestações artísticas mais características de Praga. Apesar de ter as origens na China, em projeções humorísticas feitas à luz de velas, foi pelas mãos habilidosas de Jirí Srnec que ele ganhou novas proporções. O Teatro Negro Srnec apresentou-se pela primeira vez no Festival Internacional de Edimburgo, em 1961. Foi o primeiro do gênero em todo o mundo. ;A base é a escuridão, brincamos com a incapacidade do olho humano de ver preto no preto.;
Assim, as apresentações misturam mímica, luz negra, dança e técnicas de iluminação e som. Uma vez que o grupo alcançou prestígio e reconhecimento internacional, ter os números exibidos sem diálogo facilita a compreensão do público das mais diversas origens. O que conduz sonoramente os espetáculos são as músicas de fundo (e também as risadas da plateia). Com 70 anos de atuação, a companhia participou de quase 80 festivais internacionais de teatro, com mais de 250 excursões internacionais em mais de 68 países.
;Nosso teatro continua em vigor depois de tantos anos, já que nos mantivemos fora de qualquer situação política e social;, explica o diretor. ;Nosso único interesse e razão de existência é oferecer ao público algo diferente, algo fantástico que nos afasta por um tempo da realidade e os leva à fantasia.; Hoje, 11 artistas viajam em turnê com a companhia e são muito bem preparados para desempenhar todas as funções exigidas pelo espetáculo: ;Eles têm se preparado há anos para se tornar parte da companhia. Nós somos uma família no trabalho;, reforça Srnec.
Dentre a infinidade de espetáculos já criados e apresentados pelos artistas de Praga, a turnê no Brasil receberá Antologia ; O melhor do teatro negro. ;É uma compilação das melhores cenas dos últimos 60 anos, a mais alegre e mais surpreendente para o público;, explica o fundador. São oito cenas retiradas de espetáculos como A bicicleta voadora, A semana dos sonhos, O que vem depois? e Pierrot branco no preto. O público é encantado pelos técnicos da escuridão da companhia, como define o próprio diretor. ;Esteja preparado, porque conosco nada é como parece ser;, define a companhia.
O nome do espetáculo vem do grego e significa uma seleção dos melhores poemas, é um dos queridinhos do grupo. Já foi apresentado para 15 mil pessoas em Campobasso, na Itália, e assistido por espectadores ilustres como os presidentes de Nicarágua e El Salvador, quando passou pelos países. ;É uma jornada através de nossos inícios e através de todas as produções que fizemos;, define Srnec.
Reconhecimento
Por representar, com maestria, a arte tcheca internacionalmente, Jirí Srnec recebeu a Medalha de Mérito Estatal em 2011. Em 2018, recebeu o Prêmio Thalia 2017 também pelas contribuições artísticas notáveis. Depois de ter sido vista por mais de 5 milhões de espectadores, a companhia foi escolhida para representar a cultura tcheca durante a reunião da cúpula da Otan em Praga, em 2002.
A atuação do teatro Srnec inspirou a criação de outras diferentes companhias na cidade, que exploram a mágica das sombras e da ;cabine negra;, a técnica utilizada pelos teatros negros. Hoje, pode ser considerada como uma das marcas registradas de Praga.
;Você nunca saberá se viu ou sonhou;
Jirí Srnec, fundador do Teatro Negro de Praga