postado em 31/01/2019 07:55
Se máfia, confusões, traições, politicagem e manobras do FBI fizeram parte do enredo de Trapaça (2013), em que o ator Christian Bale foi projetado com o personagem amante daquele feito por Amy Adams com o mais recente trabalho, a sátira Vice, tudo se torna mais oficial: ainda ao lado de Adams, (que interpreta a ex-segunda-dama americana Lynne Vincent), Bale dá vida ao vice-presidente Dick Cheney, artífice de estratégias que culminaram na intervenção norte-americana em territórios como Afeganistão e Iraque, além de ser dado como corroborador do uso de elementos de tortura nas áreas tidas por inimigas.
Mentor de ideias que deram fundamento à Guerra ao Terror, Cheney, sempre associado ao Partido Republicano dos Estados Unidos, foi Secretário de Defesa daquele país, entre 1989 e 1993, além de ter sido vice-presidente entre os anos de 2001 e 2009. Respectivamente, exerceu os cargos sob os mandatos presidenciais de George H. W. Bush (morto em 30 de novembro passado) e do filho desse, George W. Bush. Agora, com a cinebiografia, Cheney está por trás de um êxito em nada planejado: pode, indiretamente, ter calibrado vitórias de profissionais no Oscar, uma vez que o longa está indicado em oito categorias ; além de Bale, concorrem os atores Sam Rockwell e Amy Adams ; sendo a fita cotada ainda para melhor filme, direção, montagem, roteiro original e melhor maquiagem.
;Assistir ao filme foi uma experiência absolutamente desconcertante para mim;, confessou o astro do filme de Adam McKay, com quem já havia estado no set, há quatro anos, em A grande aposta. Experiência ainda mais diversa ; pelo que, recentemente, Bale confessou à rede CBS ; foi passada ao lado do atual presidente Donald Trump. Na pele do magnata Bruce Wayne, mais conhecido por Batman, o ator, em 2012, foi chamado pelo empresário dono da Trump Tower em que filmava cenas de Batman: o Cavaleiro das Trevas ressurge. No encontro com Trump, foi tratado o tempo todo como se fosse, de fato, Wayne.
Trump e Dick Cheney fazem parte da galeria de tipos que intrigam Christian Bale. ;Vi com enorme fascínio a capacidade de Cheney exercer o poder se mantendo, sistematicamente, em segundo plano;, comentou Bale em entrevista estrangeira. Das artimanhas para, nos anos de 19 60, esquivar-se de servir na Guerra do Vietnã até a atuação como vice-presidente, em 2003, quando da invasão ao Iraque, Dick Cheney foi uma personalidade a ser desvendada pelo ator que, ao interpretá-la, conquistou prêmios como o Bafta, e o Globo de Ouro (mas perdeu o importante Screen Actors Guild). ;Seria previsível vê-lo como vilão do filme;, simplificou Bale, ao corpo de votantes do Globo de Ouro, numa conferência do ano passado. A ambição desenfreada de alguém ;que não serve tão somente a si; (nas palavras de Bale) encorpou ;a verdade; e a busca por entender motivações de Cheney, hoje, com 77 anos.
Desde 1975 presente no alto-escalão, Cheney galgou a chefia de gabinete da Casa Branca. Atuante na invasão do Kwait, nos meandros da Guerra do Golfo, e uma liderança que aliou a Arábia Saudita a interesses americanos (com as bases militares estabelecidas naquele país) e autor de proezas como instalar o comando central das tropas norte-americanas no Qatar, Cheney deu enorme arsenal para a elogiada atuação do astro que já serviu a mestres como Steven Spielberg e Christopher Nolan. ;Observei-o, incessantemente;, declarou Bale, que viu o celular pessoal entupido de material de estudo ; vídeos intermináveis de Dick Cheney.
Caracterização
Com a ambição impulsionada pela esposa Lynne Cheney (representada no longa por Amy Adams), Dick Cheney tem a trajetória coberta pelo longa, desde a idade de 21 anos e até os atos protagonizados aos 75 anos. Para além da boca torta, Christian Bale teve como aliado fiel, na composição do personagem, a providencial ajuda do maquiador Greg Cannom (de filmes como Drácula e O curioso caso de Benjamin Button), de quem ficava acompanhado, dia a dia, por, ao menos, três horas. Máscara de silicone e 20 quilos extras reforçaram a já conhecida capacidade camaleônica de Christian Bale.
Pela fita em que derrotou, no Globo de Ouro, fortes concorrentes como o veterano Robert Redford e o prestigiado Viggo Mortensen (do longa Green book), Bale pode se tornar o primeiro ator a vencer a estatueta pela representação de um vice-presidente, depois de retratos que se restringiram a caciques do porte de Abraham Lincoln (Daniel Day-Lewis), Richard Nixon e Harry S. Truman.
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