Maurício Costa - Especial para o Correio
postado em 25/01/2019 13:31
Democracia em vertigem, novo documentário de Petra Costa, foi um dos filmes de abertura do Festival de Sundance 2019, com excelente recepção do público estrangeiro. Democracia em vertigem é o terceiro documentário lançado sobre o tema do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, o que poderia indicar não haver nada de novo para se mostrar ou discutir, pelo menos para o público brasileiro.
Felizmente, o toque pessoal e intimista da diretora ; marca dos seus primeiros dois filmes, Elena e Olmo e a Gaivota, potencializa a narrativa, ao conduzir o espectador de acordo com a subjetividade de quem conta a história. Para além da abordagem pessoal, o filme também conta com imagens de bastidores do Palácio da Alvorada durante a votação do impeachment e, especialmente, com imagens de dentro do sindicato dos metalúrgicos do ABC, na prisão do ex-presidente Lula.
Para o público estrangeiro, Democracia em vertigem tornou-se um espelho do contexto político contemporâneo. Se não conheciam detalhes sobre o contexto político brasileiro, os espectadores conseguiram empatizar com a obra e relacionar aquilo que viam com a própria realidade. Essa reação ficou muito clara na sessão da perguntas e respostas, quando a representante do festival definiu o documentário como "épico monumental".
Produzido pela Netflix, Democracia em vertigem está narrado em inglês pela própria diretora, indicando que o filme parece ser dirigido mais ao público estrangeiro do que ao brasileiro. No Brasil, infelizmente, estará condenado a ser avaliado com o mesmo radicalismo que tem caracterizado o debate no nosso país.
Não de trata de um filme imparcial, nem se pretende imparcial. Desde o princípio, assume sua posição, mas é um filme honesto. Não há dissimulações, não há invenções, não há distorções. Há apenas a análise sincera e propositalmente subjetiva, que joga nova luz sobre a história recente do Brasil. Como filme, Democracia em vertigem é envolvente e poderoso ; pode despertar paixão e ódio, mas jamais deixará o público indiferente. Considerando a boa reação e o envolvimento do público, bem como o investimento da Netflix, Democracia em vertigem estreia como grande candidato às temporadas de premiação.
Maurício Costa é crítico de cinema e escreve para o site Razão de Aspecto
(www.razaodeaspecto.com)