Diversão e Arte

Revista 'The Wire' lista artistas da cena experimental brasiliense

Alguns nomes são pouco conhecidos até na capital federal

Robson G. Rodrigues*
postado em 17/01/2019 06:00
Eufrasio Prates faz música em conjunto com software de computador
Entre os destaques da edição deste mês da revista britânica The Wire está uma seleção de artistas brasilienses pouco conhecidos na própria cidade. A publicação apresenta "uma cena de música experimental pequena, mas enérgica e ruidosa". Na lista estão integrantes da cena alternativa que exploram sonoridades longe do convencional e da cena mainstream. Com distorções eletrônicas, elementos dissonantes e harmonias atonais, algumas das músicas podem provocar estranhamento e até mesmo desconforto ; varia conforme a intenção do artista e a familiaridade do ouvinte com o tipo de música.

Por trás da reportagem, parcialmente disponível no endereço digital goo.gl/BqvSXm, está Phil Jones, um escritor e musicista inglês que, há 14 anos, mora no Brasil e é parte desse movimento. O contato direto com a cena alternativa na capital lhe garantiu a possibilidade de escrever para a revista e elencar artistas locais. Ele explica para quem é de fora a movimentação que ocorre nas entranhas da cidade.

The Wire surgiu em 1982, inicialmente com a proposta de ser uma revista de jazz e da música de vanguarda. Depois, expandiu para uma "cobertura de amplo alcance da música underground e de músicos distantes do mainstream", como ela mesma se descreve. Mensalmente a revista publica a seção Global Ear (ouvido global, em tradução livre), sobre diferentes cidades de qualquer parte do mundo. Brasília escolhida para janeiro.

"Os artistas eram todas pessoas que eu conhecia da cena. Alguns conheci por meio da orquestra de laptop de Eufrasio (BSBLOrk) da qual eu sou membro, outros porque tocamos juntos. A outras músicas da lista eu tinha acabado de ser apresentado em algum momento porque as pessoas sabiam que eu gosto desse tipo de música", conta Phil Jones ao Correio Braziliense.


Receptividade

Com Kabe Rodríguez e Ramiro Galas entre os integrantes, grupo Cigarras ilustrou coluna da revista britânica
"É uma oportunidade de ter o som circulando. De ter outras pessoas ouvindo em diferentes lugares, países. Porque a gente toca para grupos pequenos, em uma festa ou outra. E aparecer nessa lista motiva, dá vontade de fazer mais som, para que ele circule ainda mais", conta Kabe Rodríguez, 27, brasiliense parte do coletivo Cigarras, mestranda em artes visuais na Universidade de Brasília. O excêntrico grupo de música experimental idealizado por Matheus Vinhal mistura diferentes vertentes artísticas com "todas as possibilidades de música eletrônica". O grupo improvisa nas apresentações e tem a equipe fluida.

Um dos membros de Cigarras é o produtor musical Ramiro Galas. O piauiense de 32 anos é listado por Phil também pelo Audiopoema, um braço de seu trabalho dedicado à música ambiente. A obra foi vencedora do prêmio Candango Cantador na categoria melhor produção de música eletrônica em 2013. "Foi uma das minhas primeiras experimentações. A ideia é explorar outras musicalidades que não o refrão, o beat. Pego texturas e paisagens sonoras", explica. Sem muitos lugares onde apresentar música experimental, ele explica que geralmente toca em evento específicos do gênero e em vernissages de exposições.

Para ele, a resposta do público para o tipo de som inconvencional da lista pode variar bastante. "Quando o nosso público é ciente dos processos de experimentação, o trabalho é super bem-recebido. Quando a gente tem uma proposta de tocar em lugares inusitados, também causa estranhamentos, mas é sempre esse mix de estranhamento e apreciação;, comenta Ramiro, que ainda faz parte do duo de DJs ao lado de Geninho Nacanoa no Forró RED Light, ;um arrasta-pé do futuro".


Explorando sons


Malena Stefano é artista independente em Brasília. Ela lançou o álbum 'Sentimental', em 2018Malena Stefano, sem se apegar a rótulos, não tem uma definição pronta para a própria música. A cineasta e compositora de 22 anos nascida em Tocantins explica que suas faixas são uma ;colisão do barulho com a melodia;. Ela começou tocando na igreja evangélica e teve contato com música desde nova por meio da família. Passou a explorar a música eletrônica em 2016. De lá para cá, gravou dois EPs e um álbum, Sentimental. O trabalho dela está disponível em malenastefano.bandcamp.com/. Ela planeja exportar para mídia K7 em 2019.

O mexicano Biophillick começou a explorar sonoridades há dois anos e meioApaixonado por Brasília, o arquiteto mexicano Biophillick, 30 anos, veio para a capital há dois anos e meio, período que coincidiu com seu tempo de experimentação na música. A faixa New babies, que Biophillick compôs, foi listada pela revista. Ele conta que quando apresentou seu material a um produtor mexicano, foi elogiado mas ouviu que "não tem apelo". ;É uma viagem muito introspectiva e subjetiva. Meus temas são mais xamanismo, espiritualidade e vida extraterrestre;, resume. Em próxima etapa, pretende ;fazer músicas mais digeríveis;.

A Orquestra de Laptop de Brasília BSBLOrk tem como um dos idealizadores o artista e programador Eufrasio Prates e tem o próprio Phil Jones como um dos membros mais antigos. No projeto euFraktus, outro listado, instrumentistas interagem com a baterista e contrabaixista Marceline, uma inteligência artificial. Grosseiramente explicando, ela assimila os movimentos dos instrumentistas registrados por webcam e produz música em cima disso. "Quando eu faço música primeiramente para mim, acaba ressonando para outras pessoas que vêem o mundo de forma semelhante, que pensam nesta chave holonômica", declara.


*Estagiário sob supervisão de Igor Silveira
Conheça o trabalho de alguns desses artistas!
BSBLOrk
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Biophillick
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Ramiro Galas
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Phillip Haxan
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Malena Stefano
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euFr;ktus
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SCLrN
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Cigarras
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MC Bicho Bicha
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River of Electrons
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k[A]l3utun ov[E]rdriv3
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Victor Hugo
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Karla Testa
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