Ser tão, o CD que Moraes Moreira lançou em julho de 2018, serviu de inspiração para o cantor e compositor criar o show Música e poesia. Depois da estreia no Blue Note, casa de espetáculos do Rio de Janeiro, ele vem percorrendo o país com uma turnê que o traz a Brasília neste fim de semana, acompanhado pelo filho e guitarrista Davi Moraes. As apresentações no Teatro da Caixa são amanhã e sábado, às 20h; e domingo, às 19h.
O compositor nascido em Ituaçu, no interior da Bahia, ao se iniciar na música, tinha como referência Luiz Gonzaga. Mais tarde, já morando em Salvador, influenciado pela Tropicália, se juntou a Luiz Galvão, Paulinho Boca de Cantor, Pepeu Gomes e Baby Consuelo no revolucionário grupo Novos Baianos. Tempos depois, ele e seus companheiros tomaram como guru João Gilberto, um dos pilares da Bossa Nova.
Moraes Moreira, que desde 1975 destaca-se em carreira solo, utilizou gêneros musicais como o frevo, o pop e a canção, em seu processo criativo, mas sem nunca se esquecer de suas raízes interioranas, retomadas nesse projeto fonográfico mais recente. Em Ser tão, ele junta no repertório ritmos diversos, indo do samba de roda do Recôncavo Baiano (Sambadô e Deixa o pé no chão) ao cordel (Origens), passando pelo baião em cantar Amor e arte e O nordestino do século, num tributo a Luiz Gonzaga.
Cantador
Na primeira parte do show ,que traz para o brasiliense o artista encarna o espírito do cantador, que remete aos grandes violeiros e repentistas, ao recitar poemas do seu segundo livro, intitulado O poeta não tem idade, que inclui poemas, cordéis e cantorias. E ele ainda homenageia poetas e escritores que o influenciaram, entre os quais Jorge Amado, João Ubaldo Ribeiro, Guimarães Rosa, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e Câmara Cascudo.
Depois, já com a participação de Davi, Moraes faz uma viagem por sua obra, ao interpretar canções que marcaram a trajetória artística de quase 50 anos, contabilizando o período como integrante dos Novos Baianos, e o de carreira solo. Além disso, recria clássicos da MPB ; importantes em sua formação musical ; com arranjos autorais.
Ainda adolescente, Moraes tocava sanfona de 12 baixos em festas de São João, na sua Ituaçu, tida como porta de entrada da Chapada Diamantina. Na mesma época, aprendeu a dominar o violão, paralelamente ao curso de ciências que fazia em Caculé. Já na capital baiana, conheceu o tropicalista Tom Zé e entrou em contato com o rock and roll.
Foi Tom Zé quem o apresentou a Luiz Galvão, que viria a ser seu parceiro nos Novos Baianos. Ao radicar-se no Rio de Janeiro, o grupo conquistou lugar de destaque no cenário musical brasileiro. O responsável pelo feito foi o lançamento, em 1972, do LP Acabou chorare, que promoveu uma revolução pós-tropicalista, ao fundir a sonoridade acústica do cavaquinho à distorção da guitarra. Tempos depois esse disco histórico viria a ser considerado pela revista Rolling Stone ; a partir de pesquisa feita com críticos musicais e jornalistas ; o melhor álbum da história da MPB.
Três anos depois, Moraes deixaria o Novos Baianos para seguir vitoriosa carreira solo. Naquele momento, chamou a atenção também por ser o primeiro cantor de trio elétrico no carnaval de Salvador, a bordo do pioneiro trio de Dodô e Osmar. Em 2017, ele voltou a se juntar ao seu antigo grupo, com o qual cumpriu turnê pelo país. O show, registrado em DVD, passou por Brasília, onde se apresentou para 10 mil pessoas no Ginásio Nilson Nelson.(IR)
SERVIÇO
Música e poesia
Show do cantor e compositor Moraes Moreira, acompanhado pelo guitarrista Davi Moraes, amanhã e sexta-feira, às 20h e domingo, às 19h, no Teatro da Caixa (Setor Bancário Sul). Ingressos: R$ 30 e R$ 15 (meia entrada). Classificação indicativa livre. Informações: 3206-6456 e 3206-9448. O nordestino do século.