Diego Marques*
postado em 06/01/2019 06:30
Batidas em tons graves, efeitos que distorcem a voz e melodias que exploram elementos da música eletrônica. Tudo isso ao lado de muitas rimas que contam histórias dos compositores. Esse é o trap, ;armadilha da música; nascida como vertente do rap, em Atlanta, sul dos Estados Unidos, em meados dos anos 2000. Guarulhos, município da região metropolitana de São Paulo, foi a porta de entrada desse som no Brasil. Não demorou para se espalhar por outras cidades e chegar a Brasília.
A cena do trap na cidade ainda não é tão forte como em estados maiores, mas a capital federal já conta com artistas que têm produção autoral. Entre eles está Mazza, que ouviu trap pela primeira vez em 2017 e, no ano seguinte, deu os primeiros passos na carreira. A faixa Envolvida soma mais de 230 mil visualizações no YouTube. ;É uma forma de expressar a cultura, assim como o rap ou o funk. O trap é o próximo passo do funk, por isso vemos parcerias entre artistas dos dois estilos. Em 2019, o negócio deve explodir;, explica.
Douglas Negol também é artista local e faz parte do coletivo Novin Mob. Tido como um talento da cidade, ele lançou o primeiro single em 2013, mas começou a escrever quando ainda estava no ensino fundamental, aos 12 anos. ;Conheci escutando o Bonde da Stronda, tinha muita batida eletrônica, mas eu gostei demais;, relata.
Ambos concordam que o cenário do trap brasiliense ainda está em fase inicial. ;Brasília tem que crescer muito. Só agora está aparecendo uma galera no trap;, revela Negol. ;Ainda rola um monopólio de Rio de Janeiro e São Paulo. Estamos engatinhando, mas temos muitos planos;, completa Mazza.
Festas exclusivas
Por essa razão, é importante que a cidade ofereça espaços para dar voz e visibilidade aos artistas. Dollar é produtor de eventos em Brasília desde 2012, e, a partir de 2014, decidiu trabalhar apenas com trap. ;Só faço festa disso. Não faço outros estilos. Procuro trazer um artista de expressão nacional por mês. Acabei me tornando um investidor da cena;, relata. Ele acredita que os produtores daqui deveriam se unir para que o calendário de eventos relacionados ao trap fosse mais extenso.
;Como está no início, os produtores mais experientes não querem investir. Mas está crescendo. A gente se arrisca, coloca a mão na massa e quando vê um artista estourar, é muito gratificante. A energia desse som é muito boa;, confessa.
Enquanto isso, os artistas continuam se qualificando. A parte técnica é importante nesse estilo. Desenvolver beats envolventes é fundamental. Mazza, inclusive, fez uma pausa em seu canal do YouTube para ir a São Paulo e aprender mais. Influenciado na carreira pelo R, Tim Maia e Caetano Veloso, agora ele experimenta algo novo ao lançar, este mês, o single Lejos, com letra em espanhol.
Douglas Negol e o grupo Novin Mob também têm novidade em janeiro: trata-se do álbum Bomba;s tape. ;Nós somos do Guará e o nome brinca com as lanchonetes daqui. Nosso estilo é o trap real, misturamos vivência de rolê, vivência de rua e temos participação de nomes grandes do estilo na cidade;, revela. ;A gente ia soltar em julho do ano passado, mas o trabalho começou a ficar mais sério, então nos programamos para o começo de 2019;, completa.
* Estagiário sob a supervisão de Vinicius Nader