O escritor israelense Amós Oz, conhecido por obras como De amor e trevas, Rimas da vida e da morte e Meu Michel, lutava há algum tempo contra um câncer. Após uma piora no quadro, o autor não resistiu e morreu ontem, como informou a filha dele Fania Oz-Salzberge, no Twitter. Ela não entrou em detalhes da morte nem deu informações sobre velório e enterro do pai.
A morte de Oz, cofundador do movimento pacifista Paz Agora, teve repercussão mundial. Personalidades se manifestaram lamentando a perda. O autor e psicólogo Ahmad Mansour disse: ;Amós Oz foi um modelo e uma voz da razão. Eu cresci com seus livros! Sempre serei grato a ele por isso. Descanse em paz;. No Brasil, o ator Beto Silva e o deputado Jean Wyllys também prestaram homenagens ao escritor nas redes. ;Li quase todos os seus livros. Um escritor brilhante. E um dos caras com posições mais coerentes sobre o conflito judeus x palestinos. Vai fazer muita falta;, escreveu Silva. Já Wyllys compartilhou um texto do autor.
Oz era um dos mais prestigiados escritores de Israel, se não, o mais. Ele foi o único autor do país a ter sua obra amplamente traduzida, chegando a 36 línguas. Recebeu diversos prêmios por sua bibliografia, que tem mais de 20 obras. Em 2013, foi agraciado com o prêmio literário Franz Kafka, também foi vencedor do prêmio Príncipe das Astúrias, em 2007, e do prestigiado Prêmio Goethe de 2005. Nos anos 1990, recebeu o Prêmio Israel de Literatura em 1998 e o Prêmio da Paz dos livreiros alemães em 1992.
Vida e obra
Entre as características das obras de Amós Oz, estão o discurso pacifista e a retratação de histórias do cotidiano, de pessoas comuns se misturando às dificuldades de uma comunidade em permanente conflito, algo que ele mesmo explicou em trecho do livro Como curar um fanático, de 2006: ;Meu trabalho consiste em me pôr no lugar de outras pessoas. Ou mesmo estar em suas peles. A força que me impele é a curiosidade. Eu fui uma criança curiosa. Quase toda criança é curiosa. Mas pouca gente continua a ser curiosa em sua idade adulta e em sua velhice;.
De família de origem russa e polonesa, o escritor nasceu em Jerusalém em 4 de maio de 1939. Na época tinha o sobrenome Klausner, que mudou, em 1954, para Oz, palavra hebraica que significa ;força; e que viria a ser essencial na trajetória do autor.
Iniciou a carreira literária quando tinha 22 anos. Passou três anos na Brigada Nahal das Forças de Defesa de Israel e voltou ao serviço durante a Guerra dos Seis Dias, de 1967, e a Guerra do Yom Kippur, em 1973. Esse período no exército o tornou um homem ativo na promoção do diálogo e da paz entre Israel e Palestina, chegando a escrever sobre os conflitos em suas obras e sempre se posicionando, como quando Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, opinou sobre a mudança da embaixada.
;Não sei o que o futuro reserva para Jerusalém, mas sei o que deve acontecer. Todos os países do mundo devem seguir o exemplo do presidente americano Donald Trump e transferir sua embaixada em Israel para Jerusalém. Ao mesmo tempo, cada um desses países deveria abrir sua própria embaixada em Jerusalém Oriental como a capital do povo palestino;, disse, na época das declarações, à imprensa alemã.
Entre seus livros mais conhecidos estão Where the Jackals Howl, Meu Michael, A caixa preta, Conhecer uma mulher, Pantera no porão, O mesmo mar e Rimas da vida e da morte, esse reconhecido como uma obra-prima da literatura mundial.
Cinco obras essenciais
Meu Michel
; Lançado em 1968, o livro foi um dos primeiros de Oz a ter projeção internacional. O romance se passa no Ocidente e conta a história de Hana Gonen, uma mulher que desliza para o delírio esquizofrênico em Jerusalém.
A caixa preta
; O romance foi lançado em 1993 e aborda uma relação amorosa que chegou ao fim. A história começa após anos do divórcio de Ilana e de Alex Guideon, que estão tendo que lidar com o filho Boaz, um jovem exposto à violência. Além disso, Guideon tem que silenciar o passado que sangra, já que Ilana tem um novo marido, um burocrata fanático religioso.
Judas
; Obra de 2014, Judas retrata a história de Samuel Ash, um jovem que precisa procurar um emprego e abandonar a universidade após ser largado pela namorada e os pais declararem falência. Perdido, ele encontra refúgio em sua antiga casa situada no extremo de Jerusalém.
Como curar um fanático
; De 2016, a obra foi escrita com base nos testemunhos de Amós Oz na guerra em Jerusalém. No livro, ele aborda o tema em formato de ensaio. Extremismo e fanatismos fazem parte dos assuntos abordados pelo escritor.
Rimas da vida e da morte
; Lançado em 2007, o livro reúne ficção e realidade para retratar a história de um escritor que se prepara para uma palestra que vai debater a obra dele em Tel Aviv. Enquanto faz café, passa a imaginar histórias para cada indivíduo à sua volta. A compulsão ficcional ainda segue durante e após a palestras, resultando numa teia de histórias imaginárias.