Estreia nesta sexta (14/12), no Canal Arte 1, a série Filosofia e Música, comandada pelo filósofo Francisco Bosco e pela historiadora Heloísa Statrling. A ideia do programa é mostrar o que pensam os músicos ao compor determinadas obras. Filosofia e Música estreia às 19h e, nesta primeira temporada, que terá quatro episódios, os convidados são Lenine, Tom Zé, Marina Lima e Nando Reis. ELes cantam e falam de suas composições. Para elucidar melhor o formato do programa, Francisco Bosco respondeu algumas questões.
Como é essa busca pela relação das músicas/ letras com o pensamentos de algum filósofo?
Foi, mais precisamente, um trabalho de identificar, nas canções, questões filosóficas, isto é, temas que foram discutidos pela tradição filosófica. Em alguns casos foi bem simples, porque a obra do cancionista gira muito em torno daquele problema. Como no caso das canções de Marina Lima com seu parceiro (e irmão) filósofo Antonio Cicero, onde aparece sempre o tema do sentido da época moderna. Ou no caso de Tom Zé, um autodenominado "anticancionista", mas cuja canção talvez mais popular versa sobre a felicidade (Vai).
As letras analisadas fazem reflexão sobre temas diversos, têm algo em comum entre elas?
Não, trata-se de quatro obras muito distintas entre si. Nando Reis escreve muito sobre o amor, as relações pessoais (como em All Star, sobre a sua amizade com Cassia Eller), em registro mais íntimo. Marina Lima conta com os versos concisos, elegantes, a um tempo profundos e superficiais, de Antonio Cicero. Já Tom Zé tem aquele humor e inventividade extraordinários. Lenine trabalha com diversos parceiros, as letras com frequência são caudalosas e muito ricas.
Como foi ouvir dos autores as explicações sobre as músicas?
Na verdade, não penso que um autor possa "explicar" sua música. Uma canção, como qualquer obra, é uma máquina de signos independente das intenções e da guarda do autor. (Isso explica, diga-se de passagem, porque um autor poderia perfeitamente tirar nota baixa numa prova sobre interpretação de uma obra sua.) O que fizemos no programa foi conversar sobre temas que consideramos interessantes (o medo, a amizade, a modernidade, a inspiração, a felicidade, o humor), mostrar um pouco como esses temas foram tratados por grandes filósofos, e revelar o que esses compositores (Marina, Tom Zé, Nando Reis e Lenine) pensam sobre esses temas.
Como é feita essa análise, vocês partem da letra, do papo como músico?
Esse trabalho foi feito por mim e a historiadora Heloísa Starling, que concebeu o projeto e é debatedora em todos os programas. Heloísa desde o início tinha alguns temas que queria explorar, e pesquisou os compositores que tratavam deles. Eu fiz o percurso contrário: ouvi as obras e identifiquei nelas outros temas que propus tratarmos.
Parece que o programa suscita um bom papo, conseguiram aprofundar os temas?
Eu gosto da sua definição de "bom papo". É uma conversa, na minha opinião, interessante, mas sem ser enfadonha. O programa segue o espírito de "gaia ciência" da canção popular brasileira, como a definiu José Miguel Wisnik: buscamos um equilíbrio entre leveza e densidade.