Diversão e Arte

No Dia Nacional do Samba, conheça os bambas de Brasília

No Dia Nacional do Samba, artistas de Brasília falam da força do ritmo no cenário musical candango e de eventos para celebrar a data

Adriana Izel
postado em 02/12/2018 07:00
Cris Pereira é uma das artistas à frente da roda em celebração ao Dia Nacional do Samba

As raízes do samba estão no Rio de Janeiro e na Bahia. Porém, os galhos desse patrimônio imaterial cultural, que é lembrado hoje com o Dia Nacional do Samba, chegaram a outros locais e o Distrito Federal é um deles. Os primeiros passos do estilo em Brasília foram dados ainda nos anos 1960, com a criação da Associação Recreativa Unidos do Cruzeiro (Aruc). A partir daí, a história de Brasília com o samba começou a ser escrita pelos músicos vindos de outras cidades até chegar a uma geração que nasceu e cresceu em meio às rodas de samba no DF.

;Estou em Brasília há quase 50 anos e logo que cheguei, vindo de Santos (São Paulo), participei da Aruc. Fui morar no Cruzeiro Novo e me envolvi com o samba, que foi algo que começou para mim antes mesmo de chegar a Brasília. Depois fiquei um período afastado até que retornei graças a minha filha Renata Jambeiro, que começou a cantar e eu passei a acompanhá-la na percussão. E até hoje estou aqui;, conta Luiz Jambeiro, 70 anos, percussionista e músico do projeto Poetas do Samba, iniciativa que valoriza os pioneiros do ritmo em Brasília e terá edição comemorativa ao samba em 15 de dezembro.

Outro nome que se mantém ativo no samba é o compositor e cantor Carlos Elias, de 85 anos. Com trajetória na Portela e composições gravadas por nomes como Nara Leão, dois anos depois que chegou a Brasília, o sambista formou o Clube do Samba, projeto que ocupava o Teatro Galpãozinho, na Asa Sul. Desde então não parou de movimentar o samba em Brasília acumulando projetos ao longo dos mais de 40 anos que está em Brasília seja com os pioneiros, seja com a nova geração. Recentemente, o músico se apresentou ao lado de Celia Rabelo e Salomão Di Pádua no Clube do Choro. ;Costumo dizer que tudo foi por causa da Portela. A Portela mudou a minha vida. Até hoje tenho uma relação muito boa de amizade com os compositores e cantores de Brasília;, revela.

Ligado ao estilo musical desde que chegou a Brasília, Luiz Jambeiro conta que hoje enxerga o samba de Brasília de igual para igual se comparado com a produção do gênero feita em outras cidades. ;Já tem muito artista, cantor e cantora, na estrada. Posso dizer que o samba em Brasília não fica a dever em absolutamente nada e a ninguém, com toda certeza. Temos rodas de samba fantásticas e uma luta para propagar e levar essa alegria para o povo. Brasília também está muito bem no cenário nacional;, afirma.

Exportação e celebração

Quem concorda com Jambeiro é a cantora Cris Pereira. Um dos nomes de destaque do cenário brasiliense, a artista cita outros colegas que levam o nome do samba da capital federal para fora, como Dhi Ribeiro, que teve maior projeção após a participação no The voice Brasil; Renata Jambeiro, que há alguns anos se mudou e tem transitado entre São Paulo e Rio de Janeiro; e Rafael dos Anjos, que fazia parte da banda de Arlindo Cruz e agora acompanha Diogo Nogueira. Também há ainda Breno Alves, um dos integrantes do 7naRoda, que transita muito bem entre os cenários e foi vencedor de um prêmio no Rio de Janeiro Novos Bambas do Velho Samba Carioca da Gema em 2015.

;Nos últimos 10 anos, Brasília tem se consolidado como uma cidade que tem o samba como marca. Não é difícil encontrar uma roda de samba quase todos os dias da semana ou artistas e sambistas se apresentando. Muitos artistas do samba de fora também já colocam Brasília no seu roteiro. Temos recebido grandes artistas, como Casuarina, Teresa Cristina, Fabiana Cozza e Fundo de Quintal. Já é uma cidade reconhecida pela qualidade do samba;, analisa.

Para celebrar o Dia Nacional do Samba e a produção local, Cris Pereira organiza ao lado de outros sambistas há 12 edições uma roda de samba na data. Normalmente, o evento ocorre na Rodoviária do Plano Piloto, mas, excepcionalmente este ano, a celebração será no Conic. O evento é amanhã e estão confirmados nomes como Carol Nogueira, Diego Pedrigree, Fabinho Samba, Marcelo Café, Clara Nogueira, Nenel Vida e os grupos Mulheres do Samba, 7naRoda e Bom Partido, além, de claro, Cris Pereira.
Compositor Carlos Elias é um dos nomes ativos desde os anos 1970 no samba candango
;O astral será o mesmo. A intenção é celebrar e valorizar o samba da mesma maneira. Essa data é muito importante para demarcar território. O samba representa uma história de resistência cultural no Brasil e é uma das tradições culturais negras que mais se enraizou. É para marcar e lembrar isso também, essa importância social;, classifica.

Neste ano, outro nome que despontou para fora representando o samba de Brasília foi o da cantora e atriz Fernanda Jacob. Ela entrou para o elenco do musical sobre Dona Ivone Lara interpretando a compositora. De volta à capital após um período de hiato até o espetáculo retornar aos palcos no ano que vem em São Paulo, ela criou um projeto dentro do já conhecido Samba na Rua. É o Tom das pretas, que teve a primeira edição ontem no Setor Comercial Sul, e terá uma segunda edição em 15 de dezembro.

;O Samba na Rua tem cinco anos em Brasília com o objetivo de democratizar o samba e levar de volta para a comunidade. No Tom das pretas estou querendo valorizar a mulher dentro do samba, principalmente, da mulher negra. A gente resolveu contar a história em forma de canção dessas mulheres tão importantes para a música brasileira como Dona Ivone Lara, Clementina de Jesus e Pérola Negra;, explica.

Sobre as mulheres no cenário brasiliense, ela destaca Cris Pereira, Dhi Ribeiro e Teresa Lopes. ;Temos algumas mulheres que abriram caminho em Brasília. Sempre tive acesso a Dhi Ribeiro, que, inclusive, foi até puxadora de samba-enredo, as próprias Teresa e Cris, que já tem álbuns. As vejo como pioneiras. Quando cheguei, elas já estavam ali resistindo e criando seus trabalhos autorais;, conta.

Em relação ao Dia Nacional do Samba, Fernanda é enfática sobre a importância. ;O samba pra mim é política, lugar de resistência, lugar que conta a história do nosso país, da nossa negritude. É no samba que me reconheço;, completa.


Onde celebrar a data

Grande roda ; Comemoração do Dia Nacional do Samba
; Conic (Bar Thainá). Amanhã, a partir das 17h. Com Carol Nogueira, Cris Pereira, Diego Pedrigree, Fabinho Samba, Marcelo Café, Clara Nogueira, Nenel Vida e os grupos Mulheres do Samba, 7naRoda e Bom Partido. Entrada franca. Classificação indicativa livre.

Poetas do Samba ; Mês do samba
; Don Neres (Clube AABR). Em 15 de dezembro, às 18h. Com Poetas do Samba, Kalinka Barroso, orquestra de cavaquinhos, Coral de deficientes visuais do projeto Waldir Azevedo e Confraria Samba Choro. Entrada a R$ 15 (meia). Classificação indicativa livre.

No passo de Wilson Moreira
; Teatro da Caixa (SBS, Qd. 4, Lt. 3/4). Hoje, às 19h. Show com o grupo Casuarina em homenagem ao compositor e cantor Wilson Moreira. Entrada a R$ 15 (meia) e R$ 30 (inteira). Classificação indicativa livre.

Samba na Rua ; O tom das pretas
; Praça Central do Setor Comercial Sul (ao lado do BRB). Em 15 de dezembro, às 16h. Com Fernanda Jacob, Cris Pereira e músicos da cidade em homenagem a Dona Ivone Lara, Elza Soares e Clementina de Jesus. Entrada franca. Classificação indicativa livre.

Tardezinha do samba
; Casa do Cantador (QNN 32, AE ; Ceilândia). Hoje, das 15h às 23h. Com Samba da Guariba, Gafieira Choro de Rua, Renato dos Anjos, Cacá Pereira, Kiki Oliveira, Teresa Lopes, Karla Sangaleti, 7naRoda e Marcelo Café. Entrada franca. Classificação indicativa livre.


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