Diversão e Arte

Fotógrafo Luis Humberto expõe imagens de ensaio feito em cadeira de rodas

Assim, ele reeduca a perspectiva de artista habituado a observar e registrar da política ao cotidiano. Imagens ficam expostas no Museu Nacional da República até 6 de janeiro do próximo ano

Nahima Maciel
postado em 20/11/2018 07:19
Assim, ele reeduca a perspectiva de artista habituado a observar e registrar da política ao cotidiano. Imagens ficam expostas no Museu Nacional da República até 6 de janeiro do próximo ano
A fotografia é uma fonte infinita de perspectivas e quase não comporta limitações, por isso Luis Humberto decidiu reinventar o próprio olhar quando começou a usar a cadeira de rodas. Diagnosticado com mal de Parkinson e com os movimentos limitados em decorrência da doença, o fotógrafo passou a encarar o mundo de uma outra perspectiva. ;Comecei a fotografar, a olhar as coisas de outra maneira, descobrir coisas, trabalhar num universo de dimensões menores, o que não desqualifica, mas faz você mergulhar em outra escala de coisas. Você vai descobrindo coisas que têm um certo encanto, é um jogo;, conta o fotógrafo. ;A gente, quando imagina fotografar assim, já imagina junto os limites, e você tenta fazer o melhor. Agora, o curioso dessa posição é que você descobre coisas que nunca te interessaram antes.;

Essa imagens, captadas aqui e ali, em detalhes do cotidiano doméstico, às vezes através da janela de carro durante o trajeto para o Hospital Sarah Kubitschek, no qual Luis Humberto faz fisioterapia, integram a exposição A reforma do olhar possível. Com curadoria do próprio fotógrafo, assessoria de Rinaldo Morelli e Usha Velasco e expografia de Ralph Gehre, a mostra reúne 45 fotografias, todas impressas no catálogo a ser lançado hoje, durante a abertura.
Assim, ele reeduca a perspectiva de artista habituado a observar e registrar da política ao cotidiano. Imagens ficam expostas no Museu Nacional da República até 6 de janeiro do próximo ano
;Luis Humberto é um mestre, isto é para poucos. Instiga e inspira gerações de fotógrafos, não só por seu olhar aguçado garimpando pérolas no banal e por surpreender com sua abordagem bem-humorada na cobertura fotojornalística por onde andou e atuou;, diz Morelli, que assina, junto com Usha, os textos da publicação. ;A fala ética, questionadora e indignada diante das injustiças e contradições na forma de tratar a fotografia e os fotógrafos faz dele mais do que um mestre. É uma voz que se agiganta diante da pequenez de alguns que não entendem a imagem e seus criadores.;

Realizada com R$ 119.908,00 do Fundo de Apoio à Cultura (FAC), A reforma do olhar possível chega ao Museu Nacional depois de concorrer ao edital pela segunda vez. No ano passado, o projeto foi proposto no edital Áreas Culturais do Fundo de Apoio à Cultura (FAC) pelo produtor Aloísio César, mas acabou reprovado por não receber notas máximas nos quesitos qualidade do projeto e relevância da obra. A rejeição deixou artistas e produtores indignados.
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Referência

Luis Humberto, 84 anos, é um dos nomes mais importantes da fotografia brasileira e brasiliense. Inovou a cobertura fotojornalística de política nos anos 1970 e 1980 ao propor novos ângulos, além de um olhar crítico e carregado de ironia para o cotidiano maçante do poder. São também históricos os registros que fez de Brasília desde os primeiros momentos, sempre com o olhar voltado para a monumentalidade da cidade diante da presença humana. Arquiteto de formação e carioca de nascimento, Luis Humberto veio para Brasília em 1961, a convite do professor Alcides da Rocha Miranda, para trabalhar na Universidade de Brasília (UnB) e ajudar a construir a utopia idealizada por Darcy Ribeiro. Primeiro, tornou-se professor do Instituto de Arte (IDA) para, mais tarde, integrar o quadro docente da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília (UnB) no ensino de disciplinas ligadas à imagem e ao fotojornalismo.
Assim, ele reeduca a perspectiva de artista habituado a observar e registrar da política ao cotidiano. Imagens ficam expostas no Museu Nacional da República até 6 de janeiro do próximo ano
Há uma certa continuidade em A reforma do olhar possível quando se observa outras séries do fotógrafo, como Paisagem doméstica e Olhando bem de perto, desenvolvidas ao longo de décadas de observação do cotidiano doméstico. ;Não tenho um projeto de fotografar tudo o que está dentro de casa;, avisa o fotógrafo. Se a mobilidade o obrigou a registrar apenas o que está ao alcance da mão, a experiência ajudou a escolher perspectivas, luz e enquadramento. ;Você fica com o olho seletivo. E vai descobrindo um universo absolutamente rico que era desprezado até então;, garante.

Assim, ele reeduca a perspectiva de artista habituado a observar e registrar da política ao cotidiano. Imagens ficam expostas no Museu Nacional da República até 6 de janeiro do próximo ano

A reforma do olhar possível
Fotografias de Luis Humberto. Abertura hoje, às 19h30, no Galeria Acervo do Museu Nacional da República (Setor Cultural Sul, lote 2 Esplanada dos Ministérios). Visitação até 6 de janeiro, de terça a domingo, das 9h às 18h30.

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